Roxa xenaider

domingo, abril 27, 2008

TURISMO DE ALTA QUALIDADE

Isto só mesmo escrito a roxo.
Vamos finalmente tirar o pé da lama; que digo eu? Os dois pés!
O enorme surto de Turismo que aí vem, será de lucro garantido sem necessidade de investimentos vultuosos pois que as infra estruturas já existem, já estão sobejamente testadas pelos hóspedes mais exigentes, e não consta que tenha havido reclamações nem diminuição ou fuga de clientes, aliás já conhecidos dos empregados que sabem, dos gostos, preferências e necessidades de cada um proporcionando-lhes assim, um tratamento personalizado.
Sabe-se mesmo que há uma clientela habitual que ao longo do tempo e de várias hospedagens tem estabelecido boas relações de amizade, entre si, e até relações profissionais em sectores diversificados.
Pois a fama destas estruturas tradicionais; sim porque na maioria dos casos, trata-se de construções com uma longa história ,com provas dadas de segurança e eficiência, parece ter chegado ao estrangeiro e já começam a surgir os pedidos de volta a Portugal de antigos hóspedes, como é o caso do “Solitário” que tendo desenvolvido largamente a sua actividade em Portugal, uma vez esta interrompida por circunstâncias alheias à sua vontade, viu-se extraditado para Espanha onde o serviço não tem a qualidade do português.
Está agora nas mãos dos responsáveis pelo Turismo Nacional a missão de não deixar morrer um assunto de tanta importância e, digamos mesmo, de originalidade.
Vamos pois editar “desdobráveis”, imprimir cartazes, folhetos, etc.
Porque não a produção de pequenoa filmes para a TV ?

os passeios

Os passeios para peões,
e a sua transformação em
parque de estacionamento


Vou chamar-lhes “postaletes“ por analogia com o nome dado a peças semelhantes usadas no Estúdio da Tobis nos anos 30/ 40 do Século passado. Mas, realmente, este termo não existe no léxico português. Não existe a palavra mas existe o objecto fixado em tudo quanto é passeio na cidade de Lisboa para impedir o estacionamento ilícito de automóveis.
Agora, tornado extensivo à “Cidade” de Sacavém..
Há vários anos que decorre a obra de alargamento, da Avenida Estado da Índia, agora quase terminada; funcional e embelezada com árvores e iluminação adequada.
Os passeios são larguíssimos, óptimos para os velhos que, apoiados nas nossas bengalas os poderíamos desfrutar se antes os inevitáveis automóveis, desrespeitando a Lei os não entupissem completamente como é tradicional neste país.
Porém o Legislador não acreditando na eficácia da própria lei que assinou, terá feito incluir no caderno de encargos da obra a instalação dos postaletes que já bordejam, todos os passeios da Avenida.
Então onde foram os pobres automobilistas arrumar os seus bólidos se lhes interditam fisicamente, um espaço que antes a Lei se mostrou incapaz de proteger ? Nalgum local terá sido. Porque não deixar pois, os passeios livres dos “postaletes” tornados símbolo da inutilidade da Lei, e estabelecer fortes multas para os prevaricadores que, afinal sempre encontraram outros locais de estacionamento.
Não pretendo ser apologista da repressão, mas quando certas criaturas motorizadas não hesitam em obrigar os peões a sair perigosamente dos “seus passeios”, até uma boa multa poderia ter efeito pedagógico.


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sábado, abril 19, 2008

ADENDA A QUANDO ESTIVBE QUASE NO pARAÍS

ADENDA, A “QUANDO ESTIVE
(quase) NO PARAÍSO”

Faz-me um Amigo uma chamada de atenção para a aprendizagem muito rápida do passarinho a retalhar a lagartixa no arame farpado, dada relativamente recente utilização deste material.
De facto assim parece ser. Mas eu creio haver uma explicação para o caso.
Realmente o passarinho estava utilizando um material recente, mas não se dava conta disso, não teria mesmo pensado “olha que coisa boa eu aqui tenho para ajudar ao meu almoço!”
O passarinho não estava a fazer mais do que há milhares de anos os seus ancestrais faziam com qualquer coisa em que pudessem espetar as suas pobres vítimas sem se dar conta, ou mesmo sem se importar com a qualidade ou origem do objecto utilizado.
Este, tanto podia ser um qualquer pedaço de tronco de arvore arrancado pela tempestade desde que apresentasse uma ponta aguçada como a da agulha de espinheira, um espinho portanto.
Quem sabe se a aprendizagem daquela inocente avezinha nãO terá começado há dois mil anos, com os espinhos que coroaram Jesus Cristo a caminho do Calvário.
Quem sabe ?

terça-feira, abril 15, 2008

QUANDO EU ESTIVE
(quase) NO PARAÍSO

Estranha coisa a memória. Como é que só agora, passado perto de quarenta anos, me recordo tão nitidamente de um episódio misto de luta pela vida, pela sobrevivência, e de ternura também?
Foi assim: filmávamos um documentário sobre Pecuária que nos obrigava a percorrer Angola de lés a lés, o que sempre fazíamos com imenso prazer. Acompanhava-me o meu Amigo Zé António, hoje com mais de cinquenta anos e na altura meu assistente aliás já referido noutro escrito.
Não houve cantinho, recesso mais escondido, onde houvesse um Posto Zootécnico ou exploração pecuária que não visitássemos, muitas vezes a corta-mato, algumas delas só encontradas depois de nos havermos perdido em zonas pouco povoadas.
Na ocasião o nosso objectivo era o Posto de Cafú nos confins do Sul, longe de povoados ou pessoas, a não ser os pastores nómadas que ali vinham para vacinar os seus bois, o que só faziam depois do veterinário ter ralado as estopinhas para os convencer.
Numa manhã antes da partida para mais uma missão. veio um passarinho pouco maior do que um pardal. poisar no arame farpado perto de nós; tão perto que o Zé António não resistiu à tentação de lhe fazer uma carícia nas penas. E, contra o que esperávamos, o passarinho não levantou voo imediatamente, parecia estar a gostar e ainda esteve uns segundos antes de se ir embora. Talvez tenha ido dali para o ninho contar: “estavam ali uns estranhos bichos que me fizeram uma festinha!”
Parece uma tontice minha atribuir tal procedimento a uma tímida avezinha.
Desde la Fontaine que tal não acontecia. Mas aconteceu ali, naquele quase Paraíso onde a maldade dos homens (talvez porque os não havia) ainda não tinha posto o pé.
Mais adiante vimos algum movimento sobre a vedação e fomos ver: aproximamo-nos com todo o cuidado, e o que observamos espantou-nos ainda mais do que o pardalito havia feito.
Poisado no arame farpado um outro passarinho pouco maior que o anterior, acabara de espetar uma lagartixa num dos espigões do arame e ia arrancando pedaços pequenos que engolia, e quando eram maiores do que poderia comer tornava a espetá-los e puxava até os rasgar e reduzir à dimensão conveniente.
Estou escrevendo às três horas da manhã de 15 de Abril de 2008,mas não estou sonhando, estou apenas maravilhado e enternecido pela recordação que jazia adormecida na minha cabeça e acordou agora no coração.





segunda-feira, abril 14, 2008

E AFINAL, A TRADIÇÃO
AINDA É O QUE ERA

Há quem não me dê razão, mas vou contar duas histórias em prova desta asserção.
Luanda, Angola, 1950.
No princípio desse ano gerou-se um clima de
justa indignação causado por um acontecimento recente.
O Chefe de Finanças dos Caminhos-de-Ferro era um homem já entrado em anos; não recordo o nome, mas sei que era uma pessoa muito respeitada por toda a gente, coisa rara naquela época (e por muito mais tempo depois).
Era negro.
Na ocasião aconteceu algo de grave nos Caminhos-de-Ferro necessitando de urgente intervenção.
Mas como era, e é, de nossa tradição, não havia verba disponível. Mas havia numa outra rubrica
liquidez suficiente para acudir com urgência à grave situação criada.
E o nosso responsável financeiro não hesitou em transferir de onde sobrava para onde fazia falta.
Processo disciplinar e demissão imediata porque:
“…a lei não permitia tal coisa sem antes se proceder a um longo processo burocrático, talvez inútil quando chegasse
…se chegasse.

A segunda história, mais recente (anos 60?) mas igualmente significativa, gira à volta de uma catedral
(virtual) e dos Musseques de Luanda, estes sim, bem reais.
Era à altura Presidente da Câmara um Veterinário, pessoa competente, ao que constava, mas não sei em qual das duas especialidades.
Surgiu nessa altura a ideia, mesmo um projecto, para erguer por sobre o Cemitério do Alto das Cruzes uma catedral assente sobre pilares de forma a preservar os jazigos e outros monumentos em que aquele histórico recinto era rico.
Obra faraónica sem nada comparável na cidade.
Levantou-se grande celeuma entre a população, e o assunto passou a motivo de conversas e acesas discussões.
Entretanto um jornalista pediu ao Presidente da Câmara que lhe concedesse uma entrevista, durante a qual, e entre outras coisas, lhe perguntou se não seria preferível tratar do saneamento básico dos Musseques onde viviam centenas de milhares de pessoas sem sanitários, sem água. (chegavam a ir buscá-la em latas e garrafões aos comerciantes da zona que a vendiam quase ao preço da água mineral). Os “sanitários” eram as barrocas onde os dejectos aguardavam pelo tórrido e bendito Sol que os secasse e os desfizesse em poeira espalhando-os pelo ar
que as pessoas respiravam numa eficiente reciclagem.
Mas no Cacimbo não havia Sol que os queimasse, nem chuvas que lavassem a terra. Era assim por mais de cinco meses desde o tempo de Diogo Cão, e assim continuou a ser.
Mas tradição é tradição e o Senhor Presidente argumentou que se tratava de “verbas diferentes”, e isso era um princípio sagrado.
Mas a Catedral nunca foi erguida, graças a Deus, suponho.

Mas o que foi que me trouxe até aqui desde tão longe?
Foi a Televisão onde acabo de ver e ouvir – hoje seis de Abril do ano da graça (?) de 2008 – que o carro de desencarceramento dos Bombeiros de Pataias, comprado em SEGUNDA MÃO há treze anos, entre outras bizarrias, só pega de empurrão (há mesmo uma imagem ilustrativa)

Há verbas astronómicas destinadas a obras gigantescas
de cuja necessidade não me atrevo a duvidar. Mas de verbas astronómicas que ainda por cima levarão anos a concluir e a pagar, e cujos orçamentos – sabe-se à partida – serão largamente ul

segunda-feira, abril 07, 2008

… E AFINAL, A TRADIÇÃO AINDA É O QUE ERA

Há quem não me dê razão, mas vou contar duas histórias em prova desta asserção.
Luanda, Angola, 1950. No princípio desse ano gerou-se um clima de justa indignação causado por um acontecimento recente: o Chefe de Finanças dos Caminhos-de-Ferro era um homem já entrado em anos; não recordo o nome, mas sei que era uma pessoa muito respeitada por toda a gente, coisa rara naquela época (e por muito mais tempo depois).
Era negro.
Na ocasião aconteceu algo de grave nos Caminhos-de-Ferro necessitando de urgente intervenção, mas como era, e é, de nossa tradição, não havia verba disponível. Mas havia numa outra rubrica, liquidez suficiente para acudir com urgência à grave situação criada.
E o nosso responsável financeiro não hesitou em transferir de onde sobrava para onde fazia falta.
Processo disciplinar e demissão imediata porque: “…a lei não permitia tal coisa sem antes se proceder a um longo processo burocrático, talvez inútil quando chegasse …se chegasse.

A segunda história, mais recente (anos 60?) mas igualmente significativa, girava à volta de uma catedral (virtual) e dos Musseques de Luanda, estes sim, bem reais.
Era à altura Presidente da Câmara um Veterinário, pessoa competente, ao que constava, mas não sei em qual das duas especialidades.
Surgiu nessa então a a ideia, mesmo um projecto, para erguer por sobre o Cemitério do Alto das Cruzes uma catedral assente sobre pilares de forma a preservar os jazigos e outros monumentos em que aquele histórico recinto era rico.
Obra faraónica sem nada comparável na cidade.
Levantou-se grande celeuma entre a população, e o assunto passou a motivo de conversas e acesas discussões.
Entretanto um jornalista pediu ao Presidente da Câmara que lhe concedesse uma entrevista, durante a qual, e entre outras coisas, lhe perguntou se não seria preferível tratar do saneamento básico dos Musseques onde viviam centenas de milhares de pessoas sem sanitários, sem água. (chegavam a ir buscá-la em latas e garrafões aos comerciantes da zona que a vendiam quase ao preço da água mineral). Os “sanitários” eram as barrocas onde os dejectos aguardavam pelo tórrido e bendito Sol que os secasse e os desfizesse em poeira espalhando-os pelo ar
que as pessoas respiravam numa eficiente reciclagem.
Mas no Cacimbo não havia Sol que os queimasse, nem chuvas que lavassem a terra. Era assim por mais de cinco meses desde o tempo de Diogo Cão, e assim continuou a ser.
Porém tradição é tradição e o Senhor Presidente argumentou que se tratava de “verbas diferentes”, e isso era um princípio sagrado.
Felizmente a Catedral nunca foi erguida. Graças a Deus, suponho.

Mas o que foi que me trouxe até aqui desde tão longe?
Foi a Televisão onde acabo de ver e ouvir – hoje seis de Abril do ano da graça (?) de 2008 – que o carro de desencarceramento dos Bombeiros de Pataias, comprado em SEGUNDA MÃO há treze anos, entre outras bizarrias, só pega de empurrão (há mesmo uma imagem ilustrativa)
Há verbas astronómicas destinadas a obras gigantescas de cuja necessidade não me atrevo a duvidar, .mas de tais verbas astronómicas que ainda por cima levarão anos a concluir e a pagar, e cujos orçamentos – sabe-se à partida – serão largamente ultrapassados obrigando a sucessivos reforços, não seria possível retirar umas "escassas moedas" para acudir aos Bombeiros ?
Não é. O desinteresse, o desleixo, o assobio para o lado como é de tradição, deixará continuar a morrer gente que por ser desconhecida não merece mais do que um murmurado:
Tche!...coitado; estava escrito!
Custa-me o que vou dizer, mas por algum motivo o digo.
Se, longe vá o agoiro, se algo de grave acontecer a “Alguém” e não houver socorro a tempo?
Porque é que tento emprestar algum dramatismo a este relato?
Volto a Angola. A estrada do Sul, recentemente construida; asfaltada permitia velocidades impossíveis na anterior de terra batida, atravessava a ponte sobre o Cuanza; muito antiga e apenas permitindo trânsito num sentido.
Esta nova estrada situava-se a uma cota superior à da ponte, e a cerca de cem metros descia bruscamente só então permitindo a sua visão, quantas vezes tarde de mais
Asim, houve aí alguns acidentes fatais: não entrando na ponte caiam ao lado sobre as rochas do rio Cuanza sem que as autoridades mandassem corrigir aquele traçado.
Por obrigações profissionais passei muitas vezes por aquele ponto, ainda no tempo da estrada velha, algumas durante a noite, mas para além de saber que "a ponte estava lá", tinha como referência: uma casa exactamente oito quilómetros antes. Aí chegado, punha o conta quilómetros a zero e seguia com todo o cuidado.
Quis todavia o destino que ali morressem dois jovens, um deles familiar de um importante membro do Município de Luanda.
Passado pouco tempo a estrada foi corrigida, a descida prolongada e assim a ponte passou a ser avistada a uma distância segura.
Por favor “Senhores da Vida e da Morte” comprem um novo carro para os Bombeiros de Pataias…pelo menos.