segunda-feira, junho 27, 2005

ESCOLA FECHADA

Ao tempo, frequentava eu a Escola do Centro Republicano Fernão Boto Machado, na rua do Paraíso, paredes meias com o Hospital da Marinha. Naquela época ainda subsistiam nos bairros pobres as associações de ensino como o Boto Machado em Monte Pedral, hoje Santa Engrácia, o Alberto Costa (Stº Estevão), e o António José de Almeita no Largo do Salvador numa antiga igreja da Freguesia de S. Miguel, se não erro. O período pós 28 de Maio foi fértil em pequenas revoltas, todas infelizmente fracassadas. No princípio de 1927 estalou mais uma, penso que a 7 de Fevereiro, essa não tão pequena como isso. A Escola fechou, julgávamos nós, que por pouco tempo. Terminada ingloriamente a revolta era suposto que a Escola abrisse. Ilusão. Alguém teria estado a disparar sobre os carros da GNR que passavam no Largo de Santa Apolónia que era visível das janelas da Escola. Verdade ou não, o certo é que a Escola encerrou definitivamente. E os alunos? Que fazer com eles?
Nós tinhamos feito, no fim do ano lectivo anterior, o exame da 3ª para a 4ª Classe. Exames feitos por examinadores vindos de Organismos superiores. Tinhamos, portanto, o Diploma do 1º Grau. Fomos transferidos para uma Escola no Campo de Santa Clara, junto ao Tribunal Militar (mais tarde de negra memória). Seria curial fazermo-nos acompanhar dos respectivos Diplomas Oficiais. Mais uma vez ilusão; filhos de republicanos, republicanos eram. Chegados à nova Escola fomos sujeitos a exames ad-hoc em salas a funcionar, na presença dos alunos "titulares" que, com a "crueldade" infantil - que alguns nunca perdem - se riam a cada engano que cometiamos. O "examinador" era o Sr. Sedas, e só nos mandou ir ao quadro. Acho que aquela tortura não deve ter demorado mais que um "século", de dez minutos. Fomos distribuídos pelas "várias" classses, entre a primeira e a segunda. No meu caso pessoal, que é o que posso assegurar, voltei à segunda classse ( estavamos a meio do ano ), repeti toda a terceira, fiz de novo o exame do 1º grau e novamente a 4ª classe, da qual já tinha metade. Acabei a I.P com quase 13 anos e... fui trabalhar.
Não posso esquecer a maravilhosa Professora que me acompanhou durante todo o tempo de Escola: a Dona Clotilde.
O que ressalta daqui é o ódio vesgo que já naquela época a ditadura tinha, ainda só com dois anos, que cegava "professores" como o senhor Sedas e os altos dirigentes do Ensino, levando-os a cometerem tamanha violência sobre crianças, quartando-lhes o acesso a um Futuro melhor. Muitos terão ficado por ali...