Compaixão cristã
No final dos anos 50 fui encarregado de fazer um Documentário Cinematográfico sobre "As Missões Católicas em Angola". Entre outras, teria de filmar uma das mais importantes Missões no Planalto Central - onde, aliás, se situava o maior número delas. Munido de uma credencial de Luanda, dirigi-me ao Paço Episcopal para pedir a indispensável permissão de filmagem e, posteriormente dirigir-me à tal Missão, que ainda era bastante longe da cidade de Nova Lisboa. Fui muito bem recebido pelo Bispo D.Manuel Junqueiro que me disse ter de se deslocar ele próprio ao local dentro de dois dias, e que me levaria com ele. Assim foi, e poucos dias depois do Natal lá partimos no carro conduzido por um irmão leigo; ao lado do qual ia um padre holandês, secretário do Bispo. Atrás ia eu – meio espremido - porque Sua Exª Reverendíssima tinha tanto volume quanto a importância do Cargo. Poucos dias antes um Pastor de uma Missão Protestante tentou atravessar uma "mulola" ( rio de enxurrada, que só tem água no tempo das chuvas) para ir dar umas injecções a doentes de uma sanzala próxima. Estas linhas de água são muito perigosas porque crescem repentinamente de volume quando chove muito a montante. Foi o que aconteceu naquele dia e o Pastor tinha morrido afogado. Foi essa conversa que o padre holandês iniciou logo no princípio da viagem e virando-se para trás rematou: "Coitado, e logo no dia de Natal!" Ao que o Bispo respondeu cheio de compaixão: "Bem, ele era lá protestante, mas a gente sempre tem pena!"
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