sexta-feira, julho 01, 2005

no Andulo

O meu Amigo Luis Miranda (realizador da RTP), camarada de trabalho nos remotos tempos da Tóbis, estava comigo no Andulo, que fica mais ou menos no centro geográfico de Angola. Faziamos um Documentário sobre um Instituto Agronómico. O Andulo era uma terra muito pequena, resumia-se a uma estrada e a mais uma ou duas ruas perpendiculares. Numa esquina havia um pequeno Café onde tomavamos as refeições. Não havia Hotel e dormiamos no Internato do Instituto, melhor do que em qualquer Hotel que pudesse existir na região. Após o jantar passeavamos pela estrada, conversando e recordando os filmes e as peripécias por que tinhamos passado na década de quarenta. Numa dessas noites - era a última mas ainda não sabiamos - eu estava particularmente nostálgico, e o Luis aturava-me com grande paciência. Dizia eu. "Calcula tu que eu nunca vivi em democracia. Tinha dez anos no 28 de Maio, estive preso dos 17 aos 19, talvez aí tivesse uma ilusão de democracia, pois na caserna onde estava éramos 40 homens e sempre dicutiamos todas as decisões a tomar e aceitavamos o parecer da maioria. Triste "Conclave"! Hoje tenho 58 anos e já perdi a esperança de alguma vez, nos poucos que me restam (por muitos que sejam, serão sempre poucos) saber o gosto da Liberdade.

Era a noite de 24 de Abril de 1974

Às sete da manhã do dia seguinte, esperavamos na rua que o Café abrisse, e apareceu-nos um belga - ictiólogo - com um rádio transistor na mão e que nos disse o que se estava a passar em Lisboa, que ele tinha ouvido na Rádio France. Ao mesmo tempo demos pela falta dos pides que àquela hora costumavam vir ali tomar o matabicho também. Reparamos depois que o "covil" deles estava fechado e que o carro não estava a porta. Continuámos a ouvir a Rádio...
Não chorara na véspera à noite, mas chorei naquela manhã.

2 Comments:

Anonymous C.R.C.Ribeiro said...

Sou Andulense, em Julho de 1975 fugi da guerra e das perseguições da UNITA, mas estou descontextualizado da descrição que neste texto fazem daquela vila, onde o meu pai tinha um descasque de café e moagem de milho numa rua, uma bomba de gasolina noutra rua, uma residência que apanhava ainda outra rua que ia dar a outra rua distinta onde se situava a escola preparatória onde estudava em 24 de Abril de 1974.Havia ainda a rua que começava no eucaliptal contíguo à igreja, passava pelas traseiras do clube/cinema/café, pela frente do café/restaurante/residencial Arco-Iris do sr. Mendes e que terminava junto ao antigo colégio (antiga escola para a Admissão,1ª e 2ª anos)e que mais tarde se tornou extensão do ciclo preparatório. Havia ainda a rua que ia da esquina do Café/restaurante Edinela, c/Mini mercado, complexo do meu tio Mário Silva, até a rua perpendicular que tinha a peixaria do sr Horácio Alcobia e a casa do Sr. Marques. Havia ainda a rua que vinha do Andulo-Velho até o café Zeca passando pelo campo de futebol novo,pela pensão/restaurante/Café Pompeu. Depois havia a Rua do café/Snack bar/Pensão Zeca até ao repuxo/jardim que ficava entre a casa do Sr Ângelo e o Registo Civil. Depois havia a rua de entrada pelo jardim/praça rebocho vaz, que passava pela Shell e loja/farmácia/armazém do Sr Gouveia , passava a Fazenda Pública,e terminava entre a casa do administrador e outra casa que serviu de lar a muita gente. Havia a rua que ia da traseira da casa do administrador até os CTT. Havia a rua que ia da rotunda da policia até o Hospital e que era a saída para a Barragem/o Chicumbe/ Calucinga/Cuitato etc. Uma coisa é certa, havia mais do que 1 café e muito mais do que uma rua, até pq não as mencionei todas, nem tão pouco as dos bairros periféricos que também serviam população, que não obstante negros e alguns mestiços estigmatizados, também eram andulense, os menos favorecidos pelo regime de então. Era uma terriola pequenina mas como verdadeiro andulense que sou, tenho de ser bairrista e defender a verdade da minha terra. Por favor não subestimem a territa onde nasci, porque ela é pequenita mas muito boa. Já tinha um povo bom e trabalhador, excepcionais condições para agricultura e pecuária, tem no Chilesso condições para a criação dum hotel termal, descobriram-se filões de diamantes, e também há cubalto nas montanhas do Lufuri

9:17 da tarde  
Blogger Unknown said...

Este sim é andulense

10:55 da tarde  

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