quinta-feira, março 23, 2006

Um Figurão


UM FIGURÃO

Era grande, fortíssimo, semblante carregado , um cabelo hirsuto, de um loiro escuro e baço cobrindo uma cabeça demasiado grande para conter tão pouco. Abrutalhado notrato, era Dr. "jornalista" e Censor. Num ano que não posso precisar na década de cinquenta do Século passado, o cantor Alberto Ribeiro levou a Luanda um grupo de bailarinaspara “refrescar” o seu Concerto no Cinema Restauração. Quando do ensaio para a Censura, o Alberto Ribeiro levou-me com ele para assistir. Isto não era muito correcto mas o ensor conhecia-me das reportagens em que por vezes nos encontrávamos. Pude portanto assistir ladeando, eu e o Alberto aquele Menir. Quando uma bailarina espanhola muito graciosa aliás, dava umas voltas mais rápidas a saia levantava-se ligeiramente acima do joelhos deixando ver um pouco da coxa. Não é que o Dr.,Censor,"jornalista" fica escandalizado e diz ao Alberto Ribeiro que aquilo não podia passar. Tratava-se de um espectáculo para maiores de seis anos, dizia ele. O cantor argumentou quanto pôde mas não teve outro remédio se não subir ao Palco e pedir à bailarina para rodar mais de vagar. Enquanto isso, eu que me mantivera como devia, afastado da conversa, disse: "Ó dr.então aquilo tem alguma coisa de mal? As criancinhas de 6 anos vão ligar alguma coisa às pernas da bailarina? resposta do proboscídio com olhar e voz cúpida: "Para nós é o melhor, Para nós é o melhor"... Mas deste personagem há mais a contar. Anos depois, durante a visita do Presidente Craveiro Lopes a Angola, o Figurão acompanhou todo o percurso de trinta e seis dias como correspondente da Lusitânia, a Agência de Informação Estatal. Era uma calamidade para os jornalistas da imprensa diária da Metrópole. Escrevia longuíssimos despachos porque a sua Agência, como era Oficial, não tinha de os pagar. Oriundo de famílias campesinas, estava habituado a levantar-se de madruga à hora a que o verdadeiro jornalista se deita. Nas manhãs seguintes,a cada deslocação, “mal luzia o buraco” postava-se à porta dos Correios para desespero do camaradas que não podiam mandar as suas matérias a tempo de serem publicadas nos jornais diários. Mas o castigo chegou finalmente. Viajávamos do Leste a caminho do Lobito a bordo do magnífico combóio do Caminho de Ferro de Benguela ( CFB) Tínhamos embarcado no Luso ou Silva Porto, não estou certo. Desta última Cidade são setecentos quilómetros até ao litoral, e a viajem dura dois dias. A certa altura do percurso, o Óscar Machado que era o técnico do Rádio Clube de Angola,rapaz com muita graça, tinha mesmo criado um personagem- O Isqueiro em que se transmudava em negro, intervindo principalmente em espectáculos para crianças. Com a sua imitação de um negro e da sua maneira de falar, criou o personagem "Isqueiro", que muito as divertia ... e não só az elas,porque a coberto da ingenuidade do personagem,dizia por vezes umas "directas" audaciosas e arriscadas. Já que me desviei do caminho que trazia, vou seguir mais um pouco por este que quase sem querer tomei. Em princípios da década de sessenta foi resolvido pela Governação da Metrópole criar a Assembleia Provincial, miniatura da Assembleia Nacional, com deputados “eleitos”. Em tudo igual à Casa Mãe. Funcionava numa Sala do Museu de História Natural onde havia exemplares muito perfeitos da riquíssima Fauno de Angola.O Óscar Machado logo disse imitando a prosódia local: “ "angora foi naugurada a “sala dos Pampagaio." E já "angora" vou retomar a estrada principal de que há tanto me afastei.A meio da viajem o Óscar sentado no nosso compartimento onde tinha o material de Radio, põe auscultadores,pega num microfone, atira os cabos para debaixo do banco e diz-nos: "quando o Molotofe vier aí pelo corredor, avisem-me" (Molotofe era o "petit nom" que tínhamos dado à criatura por via dos seu enorme e mal cuidado bigode). Assim foi, pusemo-nos à espreita e quando o vimos aproximar, começou o Óscar:"Alô Luanda,alô Luanda, aqui comboio Presidencial. Alô, escuto". O Molotofe, pára à porta e começa a perguntar ao Oscar se pode também falar com Luanda. O Radialista manda-o calar; "não vê que estou a falar com Luanda" mas acaba por tapar o microfone e diz-lhe para ir buscar os papéis. Entrega-lhe o microfone depois de ter anunciado para "Luanda" quem iria falar a seguir. O outro começou a falar, e o Óscar de quando em vez, ia recomendando: " fale mais perto do microfone... fale mais alto". E o infeliz lá foi mandando o "despacho" para ... debaixo do banco do comboio do CFB. Chegado a Benguela, andou todo contente a rir-se dos outros a quem julgava ter passado mais uma vez a perna. Como ele, pelo menos, não matou o Óscar, nunca se percebeu.

10 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Era o Luís Lupi?

8:19 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Figurões proboscídios!!! Só você, João.
Um abraço

3:19 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Caro Anónimo: cumprimntos. Não, não era o Luiz Lupi. "Se bem melembro" o aspecto físco do Lupi era a antítese daquele ser
descompassdo que deveria pesar à roda de cem quilos de matéria bruta. O Luis Lupi estava a representar outra Agência de cujo nome não me recordo. Obrigado por ter vindo ao meu canto. Venha mais vezes
João

3:45 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

O Luís Lupi estava a representar a Lusitânia, de que era director.
Um abraço e desculpe o anonimato, mas tem de ser...

8:43 da tarde  
Blogger joão silva said...

Caro Anónimo: Como o julgo mais conhecedor do assunto Agências, acredito

12:53 da manhã  
Blogger joão silva said...

e que o meu Figurão represntava outra Agência (seria ANI ?) veio-meq agora à memória. De qualquer forma era um organismo Ofsicial, já q

12:56 da manhã  
Blogger joão silva said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

1:05 da manhã  
Blogger joão silva said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

1:14 da manhã  
Blogger joão silva said...

ÀS Ag^wncias rerspeita. Dwevwe pois ter razão. Em todo caso o Figurão representava um Organismo Oficial, já que não pagava os depwechos. Além adisso era funcionário do CITA (Centro de Informação e Turismmo de Angola ) além de ser Censor dos espectáculos, pelo menos. Seria a ANI a AGÊNCIA DELE ? Desculpe mas isto é uma traplhad EVENTUALMENTE IGUAL À Q ?wencia b«ntro dsweaswentava um Organismpo OficialaGÊNCIAsd repeita.

1:14 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Devia ser a ANI, claro.
Na altura, a ética profissional não era propriamente regra...
Mais um abraço.

6:31 da tarde  

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