O Sacerdote
A cinco de Janeiro de 1934, depois de ter passado dois anos na prisão em Angra do Heroísmo,
embarquei no Vapor Lima com destino ao Continente. Comigo vinham também alguns camaradas, vidreiros da Marinha Grande. O navio , que largou à noite com escala em Ponta Delgada onde deveria chegar na manhã seguiinte, vinha superlotado devido ao regresso de um grupo de alunos, do Seninário de São Miguel depois de terem feito uma excursão pelo Arquipélago. Em consequência não havia onde dormir naquelqa noite. Estava-se no final de uma tempestade, que ainda provocava grandes balanços do navio provocando cavitação, - as élices saíam da água - giravam em falso, aumentando de velocidade e provocando uns estremeções assustadores acompoanhados de um ruído não menos de assustar. Claro que por isso o enjoo foi doloroso e prolongado por toda a noite, obrigando-nos a constantes corridas em direcção à borda, não própriamente para admirar o Oceano ainda em fúria. Por fim as contorções do estômago vazio foram o corolário da nossa primeira, dolorosa e longa primeira Noite de Liberdade. Minha e de um dos camaradas da Marinha Grande - ninguém pensou em voltar para trás!. Deambulámos pelo navio; com o meu companheiro procrurando os seus conterrâneos. Havia gente dormindo por tudo quanto era canto abrigado. A dada altura da pesquisa deparamos com um grupo de corpos adormecidos, deitados no chão de um canto sombrio. O meu companheiro tocou com o pé "ligeiramente"no corpo de um dos dorminhocos ao mesmo tempo que chamava: "Camarada- Ó Camarada!!!" Nesse momento o "corpo" alertado, talvez mais pela "ligeireza" do pé que pelo tom de voz virou-se, e o meu companheiro vendo-lhe a volta branca em torno do pescoço, dá um salto pra trás como se tivesse pisado uma cobra e grita: "Ai um filho da puta de um ""Saçardote!!!"" Compreendo o "susto" do meu companheiro: quando procurava um comunista, sai-lhe um padre. Porque teria eu guardado na memória, por setenta anos, este episódio ? Talvez pela "cohabitação"dos termos "popular" e erudito... ainda que estropiado.
embarquei no Vapor Lima com destino ao Continente. Comigo vinham também alguns camaradas, vidreiros da Marinha Grande. O navio , que largou à noite com escala em Ponta Delgada onde deveria chegar na manhã seguiinte, vinha superlotado devido ao regresso de um grupo de alunos, do Seninário de São Miguel depois de terem feito uma excursão pelo Arquipélago. Em consequência não havia onde dormir naquelqa noite. Estava-se no final de uma tempestade, que ainda provocava grandes balanços do navio provocando cavitação, - as élices saíam da água - giravam em falso, aumentando de velocidade e provocando uns estremeções assustadores acompoanhados de um ruído não menos de assustar. Claro que por isso o enjoo foi doloroso e prolongado por toda a noite, obrigando-nos a constantes corridas em direcção à borda, não própriamente para admirar o Oceano ainda em fúria. Por fim as contorções do estômago vazio foram o corolário da nossa primeira, dolorosa e longa primeira Noite de Liberdade. Minha e de um dos camaradas da Marinha Grande - ninguém pensou em voltar para trás!. Deambulámos pelo navio; com o meu companheiro procrurando os seus conterrâneos. Havia gente dormindo por tudo quanto era canto abrigado. A dada altura da pesquisa deparamos com um grupo de corpos adormecidos, deitados no chão de um canto sombrio. O meu companheiro tocou com o pé "ligeiramente"no corpo de um dos dorminhocos ao mesmo tempo que chamava: "Camarada- Ó Camarada!!!" Nesse momento o "corpo" alertado, talvez mais pela "ligeireza" do pé que pelo tom de voz virou-se, e o meu companheiro vendo-lhe a volta branca em torno do pescoço, dá um salto pra trás como se tivesse pisado uma cobra e grita: "Ai um filho da puta de um ""Saçardote!!!"" Compreendo o "susto" do meu companheiro: quando procurava um comunista, sai-lhe um padre. Porque teria eu guardado na memória, por setenta anos, este episódio ? Talvez pela "cohabitação"dos termos "popular" e erudito... ainda que estropiado.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home