terça-feira, janeiro 24, 2006

COBRAS, cobras e cobrinhas

Parece que não serei muito original se disser que tenho horror a COBRAS, cobras e cobrinhas.Felizmente que em 30 anos de Angola não vi muitas. Mas de três delas lembro-me muito bem. A primeira era uma gibóia que numa estreita picada perto de Novo Redondo se atravessou à frente da carrinha. Passei-lhe por cima - não o poderia ter evitado - mas não lhe pude ver, ao mesmo tempo, a cabeça e a cauda, tal o seu comprimento. Era mais comprida do que a largura da picada. Não sei o estrago que lhe causei, se é que causei; ñão parei para ver.A segunda era uma cobrinha insignificante no tamanho, mas como em tantas outras coisas,também nas cobras - ou principalmente nestas - tamanho não é documento. E foi assim: desloquei-me várias vezes a Cambambe durante a construção da Barragem que acompanhei durante muito tempo em trabalho de filmagem de um documentário. Ficava sempre instalado num dos vários apartamentos de construção provisória,pequenos mas confortáveis e que tinham até ar condicionado que na ocasião a que me reporto estava desligado. Era tempo de "Cacimbo". Como já disse os quartos eram pequenos; entre a cama e a parede cabia apenas a mesa de cabeceira. Por baixo da janela ficava o aparelho de ar condicionado, e quando me deitei vi uma cobra pequenina e fina a subir pela parede. Peguei na faca de mato que sempre acompanha quem anda pelo dito. Mas já não cheguei a tempo, ela entrara para a grelha do aparelho e ficara a espreitar por um dos quadradinhos. Fiquei com a luz acesa, deitado de lado, com a mão esquerda debaixo da almofada,como ainda hoje é meu geito. e a faca em cima da mesinha, decidido a cortar-lhe a cabeça mal a deitasse de fora. ...de repente era dia, a luz continuava acesa, a mão estava debaixo da almofada, e a faca estava na mesinha, só a cobra não estava lá. É certo que eu dificilmente consigo vencer o sono ( se a primeira vez que adormeci, a minha Mãe não me tivesse acordado para me dar de mamar ainda hoje estaria a dormir e com umas grandes barbas, que aliás já tenho ). Mas voltando à estória: se eu tivesse visto a cobra a sair, tê-la-ia morto. Mas ela viu-me adormecer e não me fez mal algum. Moral da estória: o homem é "pior q'às cobras."
A outra estória é mais “dramática”. Eu conduzia uma carrinha de 500 quilos de caixa aberta e já bastande usada, por uma estrada de terra batida quando passei por cima de uma cobra já de ”bom” tamanho. Olhei pelo retrovisor mas com a poeirada não consegui ver nada. Já tinha ouvido dizer que em circunstâncias idênticas as cobras podem ficar presas nalgum ponto do carro. O meu tinha várias "lesões" entre elas buracos junto dos pedais. Eu estava, como quase sempre, de calções e botins pela canela. De repente começo a sentir uma coisa macia e roçar-me na perna direita. Fiquei gelado mas não perdi a calma. Sabia que não podia fazer movimentos bruscos e não fiz. Só aliviei o acelerador. Aquilo deixou de me tocar na perna. Com um olho meio fechado atrevi-me a olhar para baixo. O meu muito velho chapéu de feltro, de abas largas, tinha-me roçado nas pernas ao cair do banco a meu lado e estava no chão. O meu medo das cobras fez o drama.