terça-feira, janeiro 24, 2006

Búfalos

Em Moçambique, na Zambézia , nos Tandos de Marromeu procuramos – e encontramos – uma grande manada de búfalos. Antes de mais devo explicar o que são os Tandos. São enormes planícies inundadas pelo Rio Zambeze na época das chuvas. Durante o "cacimbo" ficam secas e quase se lhes não vêem os limites, tal a extensão cortada em muitos pontos por estreitas faixas pantanosas onde crescem "papiros" que, dobrados, servem de precárias pontes. Como halmente mandaram-se os pisteiros localizar a manada e depois irem por de trás dela fazer barulho e encaminhá-la para o local onde nos encontrávamos. Claro que isto não foi assim tão simples pois foi necessário escolher o sentido do vento que tinha de soprar deles para nós. Isso conseguido, escolhemos um "corredor" de cerca de 50 metros de largura e colocamo-nos os dois operadores, o Alfredo e eu cada um de seu lado. Portanto o Alfredo filmaria os búfalos correndo da esquerda para a direita, e eu ao contrário, da direita para a esquerda. Finalmente os animais apareceram numa frente muito larga, de muitas dezenas de metros. À frente, um pobre antílope, um Kudo, assim me pareceu, vinha sendo empurrado por aquela verdadeira barreira de búfalos. Quando deram por nós, pararam, mas a barulheira que os pisteiros faziam atrás deles, gritando, batendo em latas não lhes deixou escolha e então encaminharam-se sempre a galope para a única passagem livre, o corredor entre pântanos. Levaram a passar o tempo de se gastar um carregador de filme de 60 metros ou seja: dois minutos. O Gustave Guè, o caçador que nos apoiava calculou que teriam passado mais de 2000 cabeças. Mas este longo, e talvez enfadonho intróito serve apenas para nos trazer aqui: quando tirei o olho na máquina vejo ali a uns 20 metros o grupo de pisteiros de roda de um búfalo pequeno talvez um pouco maior que um cão "Grand-Danois". Estavam de catanas na mão dispostos a matar o animal. Dei um berro:" É! Não mata nada!" e dei uma corrida até eles. O bicho que ainda tinha o cordão umbilical, embora já seco, mas que já era búfalo, punha uns olhos furiosos e investia com os pisteiros Eles riam-se muito e desviavam-se. Eu achava aquilo ridículo, fugir de um bichinho tão pequeno; até que ele encarou comigo e aí vem direito a mim que o esperei para lhe fazer uma fèstinha. Pois foi. Apanhou-me de lado a meio da coxa direita e pregou comigo no chão para gáudio dos meus colegas de equipa e principalmente dos pisteiros que não pararam de rir todo o resto do dia. Eu também me ri. O que é que eu podia fazer além, de me limpar da lama!? Tomamos o nosso caminho que era o mesmo que a manada tinha seguido mas que já não conseguiamos ver e o pequeno búfalo continuou connosco. Segundo o Guè esse era o procedimento natural de qualquer animal quando perde as referências; junta-se ao que encontra. Mas passado algum tempo, põe as narinas no ar e começa a correr e afastou-se. Tinha encontrado o cheiro da manada e, segundo o caçador, também a mãe já devia vir ao seu encontro . Quanto a ele deve ter ido contar à mãe que tinha dado uma marrada num branco.