Paulo, o Pastor
Numa exploração leiteira com 120 ha e 60 vacas estabuladas. Dispondo de sistema de ordenha mecânica, não eram necessários mais do que quatro vaqueiros e um pastor. O abastecimento de forragem verde ou seca, rações e palha para camas etc. era feito
por tractor e com pessoal exterior à vacaria. Faziam-se duas recolhas diárias: às três da manhã e às três da tarde. Acabada a primeira ordenha, por volta das seis da manhã, o Paulo-Pastor levava-as para o pasto e sentava-se a vê-las pastar e tomava sentido quando alguma saltava para cima de outra, sinal de que estava "saída", isto é, em cio. No regresso, mais ou menos pelas nove dez horas, avisava disso os vaqueiros e era chamada a equipe de inseminação artificial. E o Pastor Paulo podia dormir até à hora da outra ordenha, às três horas, e ficava livre depois de entregar o gado ao fim da tarde Enfim tinha uma vida quase regalada. Claro que isso não era culpa dele. Fazia tudo o que lhe era exigido e "a-mais-não-era-obrigado". Uma tarde, fazia o patrão o mesmo que o Paulo, dormia a sesta (levantara-se às 3 da manhã para assistir à ordenha) quando este lhe bate à porta, e trava-se este diálogo: "patrão eu está precisar ganhar mais dinhero, os outros home ganha vinte e eu ganha dezassete quinhento atão precisa mais dois quinhento" – Mas ó homem, diz-lhe o patrão com a sua lógica patronal: "os vaqueiros ganham mais porque também trabalham mais. Se tu trabalhares mais também ganhas mais, percebes?" "Patrão, não precisa mais
trabalho. - Já tem - só está precisar mesmo do dinhero". Fiquei sem fala frente a tal argumento que não vinha de um espertalhão a pensar "vou levar este branco à certa". Não. Em vinte anos que já levava de Angola, conhecia razoavelmente aquele Povo .O Paulo era sincero no que dizia. Ele pensava assim e assim o disse. E bem vistas as coisas, porque não usarmos nós daquela lógica? Realmente nós não precisamos de mais trabalho "já tem". Quem precisa do nosso trabalho são os outros. A gente precisa "mesmo é do “dinhêro".
por tractor e com pessoal exterior à vacaria. Faziam-se duas recolhas diárias: às três da manhã e às três da tarde. Acabada a primeira ordenha, por volta das seis da manhã, o Paulo-Pastor levava-as para o pasto e sentava-se a vê-las pastar e tomava sentido quando alguma saltava para cima de outra, sinal de que estava "saída", isto é, em cio. No regresso, mais ou menos pelas nove dez horas, avisava disso os vaqueiros e era chamada a equipe de inseminação artificial. E o Pastor Paulo podia dormir até à hora da outra ordenha, às três horas, e ficava livre depois de entregar o gado ao fim da tarde Enfim tinha uma vida quase regalada. Claro que isso não era culpa dele. Fazia tudo o que lhe era exigido e "a-mais-não-era-obrigado". Uma tarde, fazia o patrão o mesmo que o Paulo, dormia a sesta (levantara-se às 3 da manhã para assistir à ordenha) quando este lhe bate à porta, e trava-se este diálogo: "patrão eu está precisar ganhar mais dinhero, os outros home ganha vinte e eu ganha dezassete quinhento atão precisa mais dois quinhento" – Mas ó homem, diz-lhe o patrão com a sua lógica patronal: "os vaqueiros ganham mais porque também trabalham mais. Se tu trabalhares mais também ganhas mais, percebes?" "Patrão, não precisa mais
trabalho. - Já tem - só está precisar mesmo do dinhero". Fiquei sem fala frente a tal argumento que não vinha de um espertalhão a pensar "vou levar este branco à certa". Não. Em vinte anos que já levava de Angola, conhecia razoavelmente aquele Povo .O Paulo era sincero no que dizia. Ele pensava assim e assim o disse. E bem vistas as coisas, porque não usarmos nós daquela lógica? Realmente nós não precisamos de mais trabalho "já tem". Quem precisa do nosso trabalho são os outros. A gente precisa "mesmo é do “dinhêro".
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