segunda-feira, abril 03, 2006

O Crocodilo



- Auto-sugestões -
. . .no primeiro "auto-sugestões" ameacei com um segundo: pois aqui vai. Ao contrário do primeiro, este caiu-me no colo. Fui imensas vezes à Cidade do Lobito (Angola) e lá filmei mais do que um Documentários e várias reportagens .Conhecia muito bem a terra. Estava em mais uma dessas reportagens, desta vez acompanhado pelos meus Amigos e camaradas de trabalho, Alfredo Saraiva, fotógrafo e António Brás, operador de Televisão. Uma noite, após o jantar demos um pequeno passeio que nos levou até à Praça do Império onde haviam sido erguidas duas colunas semelhantes às do Terreiro do Paço em Lisboa. Julgo que ali terá desembarcado o Presidente Carmona ao visitar Angola em 1938. Escrevo este último parágrafo sob reserva, não estava em Angola nesse tempo. Nessa Praça, voltado para a baía tinham construído um Pavilhão (Luso?),café, restaurante e loja de artesanato. Num largo espaço junto à entrada, tinham construído um tosco Parque Infantil com uns ainda mais toscos "animais selvagens" em cimento. Nada é completamente bom, e quase nada é completamente mau. Havia um bonito tanque, quase rente ao chão, com vinte ou trinta centímetros de borda e três metros de comprimento com pouco mais de um de largo.Tinha pouca profundidade e nele estava mergulhado um crocodilo feito em vidrilho em que a variedade de cor dos quadradinhos reproduzia bastante bem o lombo de um jacaré quase a superfície, deixando ver apenas os olhos e narinas que são rotuberantes. Permitam- me um dos meus pequenos desvios de rota. Quando nos rios; aqueles olhos e narinas podem ser confundidos com pequenos troncos ou gravetos que a corrente arrasta, e talvez seja isso que eles querem. Olhando com atenção pode ver-se que aqueles estranhos gravetos estão imóveis enquanto os autênticos seguem a corrente. Acabou o desvio. Voltemos ao laguinho e ao seu falso habitante. Ao passarmos junto dele eu lancei uma boca sem a mínima ideia de obter qualquer resposta – apenas falar para não estar calado: “Vocês já viram a inconsciência desta gente? Num sítio onde brincam crianças porem um "jacaré." Ia seguir mais além quando oiço uma frase inesperada. Aliás eu não esperava nada, quando muito uma ligeira risada. " Óh, mas é a fingir." Bem, pensei eu, isto vai dar para rir um bocado. Como dizia um camarada meu de prisão há mais de setenta anos: "eu gosto muito de me rir. Fico todo contente". E ria-se com um riso comunicativo excelente num tão mau sítio. Voltando ao Lobito: resolvi explorar o magnífico filão que me caíra no colo. "Quem é que disse que é a fingir ? eu tenho vindo aqui imensas vezes e sempre me tenho indignado com isto" Àh, não pode ser verdadeiro aqui no meio da Cidade e junto de crianças, diz um deles. "Pois é isso mesmo que eu digo. E se Vocês acham que é falso, ponham o pé em cima". –"Ponha Você." – Eu! eu ponho uma porra! Pois eu que sei que é verdadeiro é que vou pôr o pé ? Vá, seus espertinhos, ponham, Vocês! Não puseram. Atiraram pedrinhas, fizeram barulho e, suprema coragem: queriam mexer com um pau. Mas eu não deixei, seria uma" temeridade". Mais tarde, já em Luanda, quando se falava nisso diziam: "a gente sabia que não podia ser verdadeiro... mas o nervoso". Ainda hoje me rio. . ."gosto muito de me rir. Fico todo contente"

1 Comments:

Blogger oPeninha said...

Olá,
Descobri a sua página por acaso, quando estava a fazer uma pesquisa na net sobre o meu pai (o tal seu Amigo e camarada de trabalho de que fala no texto ;)).
Estava a fazer esta pesquisa pq tenho em mente fazer uma pequena exposição/homenagem surpresa ao meu pai, e obviamente queria encontrar o maior número possível de material relacionada com ele (fotografias, etc...) e também contactar com antigos colegas e amigos de Angola !!
Ele mantém contacto com o Jaime Brás, com o Sr. Sequeira, que vive na Batalha, e sei que também costuma ir aos almoços do CITA (Centro de Informação e Turismo de Angola).
Infelizmente ele tem muito poucas fotografias da autoria dele lá em casa, sei que a maior parte delas ficou lá em Luanda.
Ele tinha um colega "patrício", mais "kota" que ele, que se chama Sr. Domingos (não sei se voçê o conhece), que mantinha o material do CITA (fotografias, filmes, etc) em boa conservação, mas devido à idade dele, não sei se ele ainda terá conhecimento desse material.
Gostava de saber a sua opinião acerca desta ideia.

Um abraço,

António Jorge Pita Groz Saraiva
(oPeninha)

6:05 da tarde  

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