O Caricaturista e o Pato Bravo
Anos quarenta do Século XX. Feira Popular de Lisboa, no Parque José Maria Eugénio. Neste local que me lembro de sempre ter conhecido muralhado, existiu anteriormente uma Quinta pertença do Sr....José Maria Eugénio. Essa quinta tinha a feliz localisação dividida, parte para lá das portas de Lisboa e parte para cá dessas mesmas portas. Quiz o Destino do Sr. Eugénio, que um ribeiro vindo de fora atravessace a sua propriedade desde o lado das Portas de eenfica.Também os Astros brilharam de feição para o Sr. José Maria. Nesse tempo, fins do Sécul0 XlX, princípios de XX, alguns produtos oriundosd da Região Saloia pagavam direitos para entrar em Lisboa. E disto ainda me lembro. Em princípios dos anos vinte, andava eu pelos meus seis/sete anos, dava grandes passeios na moto com side-car de meu Pai. Passavamos pelas Portas e não sei se o meu Pai pagava os direitos, não trazia nada sugeito a isso ou...os guardas fiscais eram simpáticos. Entre os produtos que mais direitos pagavam, ou deviam pagar, estava a aguardente cujos barris flutuavam ao sabor da corrente que os trazia, no sossego da noite, para a Capital, para engordar o capital do sr. Eugénio. Ouvi esta história da boca de Leitão de Barros,já lá vão mais de setenta Anos. E o Lavrador construiu aquelas muralhas que hoje albergam a Fundação Gulpenkian com os seus jardins; dos mais belos de Lisboa. Pois foi na Feira Popular, que aí funcionou muitos anos, que fui involuntário espectador do episódio que vou contar. Estava com minha Mulher na esplanada de um dos restaurantes da Feira. Numa grande e barulhenta mesa, ocupava a cabeceira um avantajado senhor, com ar próspero, tipo "Pato Bravo" que, a falar alto não dava meças a ninguém, fazendo bem notar que era ele o anfitrião pagador. A dado momento, já o àgape ia em meio o que era bem visaível pela aimação, aproximou-se um homem que andava a fazer caricaturas. Eu já o conhecia e à sua velha gabardina de todo o ano. Sobraçava uma pasta com papeis, chegava-se às pessoas e com uma voz de aerofágico perguntava: " desejá-áis a vossa cricatura ?"- foi o que fez ali e o "Pato Bravo" xcom ar impottante e agnânimo: "faça-me lá oá caricatura", e continuou a comer e a beber e a falar com a boca cheia, também de calinadas. Terminado o trabalho o artista entregou a obra ao cliente. Este olha atentamente o papel, solta uma estrondosa gargalhada e exclama: "È pá! Isto vai já pr'ó Porto. Há lá um gajo meu amigo qu'é tal e qual esta cara." Não sei o que teria sentido o pobre caricaturista. Provavelmente já estava habituado a brutalidades semlhantes.O seu sentimento de dignidade estaria anesteziado para elas. E talvez tivesse ganho ali a refeição daquela noite, quiçá daquele dia. Ainda hoje me sinto constrangido com esta rcordação.
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