sexta-feira, novembro 17, 2006

Adenda a Alcunhas

ADENDA A ALCUNHAS
( Fevrº/2006 )

Era uma garota muito bonita, bem disposta, com um sorriso radioso. De físico "mighone", nada faria supor que teria um Alcunha. Mas tinha um. Aliás, ganho por inerência Passo a contar: O Grupo Desportivo da Companhia dos Tabacos, "Os Tabacos" –tout court- ocupava umas excelentes instalações numa fábrica desactivada na Rua da Cruz de Stª Apolónia. Tinha um Salão enorme onde antes se se teriam fabricado milhões de cigarros e com certeza alguns edemas pulmonares. Inicialmente destinado a operários e funcionários da Compª - sócios efectivos - não tinha quase actividade visível. Foi então que a Tabaqueira concordou com a admissão de sócios auxiliares, exteriores à Empresa, sem direito a eleger e ser eleitos. Curiosamente o Presidente perpétuo da Direcção era o Senhor Paixão, figura típica de funcionário antiquado tanto nas ideias conservadoras como no vestuário. Era muito delicado e sempre receoso de uma falta de delicadeza. Gostava muito de discursar, não com muita fluência, mas com gestos dramáticos e tão largos que algumas vezes ficavam parados no ar esperando que se esgotasse a "branca" para então concluir o gesto em sincronia com a frase de efeito. Era difícil calá-lo quando em Assembleia usava da palavra. Era numa dessas brancas que a assistência rompia em aplausos, até que, não tendo outro remédio, suspendia o discurso até uma próxima ocasião. A sua eloquência sempre apoiada em frases "bonitas" tinha um chavão para quando se referia ao Clube e à sua tradição. Dizia muitas vezes com a mão sobre o coração e com uma paragem dramática. " Os nossos Pergaminhos!!!" e empregava o termo com tanta frequência e ênfase que ganhou o "Título"de "Pergamoides" . Foi sob a sua égide que se formaram Comissões que trouxeram mais dinamismo e desenvolvimento ao "Tabacos". Passou a haver aulas de ginástica, luta greco-romana, jogo do pau , ministradas por Mestres competentes e com bastante concorrência de alunos. Organizaram-se Saraus de Ginástica aplicada... e BAILES com muita concorrência de gente dos Bairros de Alfama, Graça, Castelo, etc. A cem metros da Séde, na Calçada dos Barbadinhos, havia um campo de patinagem que passou a ser um local de grande afluência de praticantes e espectadores a apreciarem as evoluções e principalmente, os trambolhões dos aprendizes. Era comum que nos festivais de patinagem artística se incluí-se um número cómico. Geralmente uma tourada, com touro, cornos e tudo, desempenhado por dois patinadores, cobertos por um pano preto, debruçados um sobre o outro, cabendo ao da cabeça, a movimentação dos cornos e a perseguição aos "toureiros". Quando se começou a ensaiar a "Fiesta" houve logo muitos candidatos a boi. Um dos mais insistentes era um moço muito novo que, embora patinando bem, não garantia "idoneidade" do bovino. Enfim tanto serrazinou os organizadores: " deixem-me fazer o boi! Eu vou fazer o boi muito bem!" que lhe proporcionaram um ensaio. De tal modo se comportou que foi aceite, e justamente para a cabeça do boi. Na noite do festival, revelou-se um autêntico "Miura". Foi o herói incontestado do espectáculo. Para além de ter recebido os aplausos do Público, ganhou ainda uma lembrança artística. Mas ganhou
também um alcunha para o resto vida: "O BOI”.Como era ainda garoto, não se importou com o epíteto. Mas a irmã, coitadinha, tão graciosa e simples!... mas era a irmã do Boi, daí que passasse ser a “Vaca”, ...por “inerência”.