quinta-feira, agosto 31, 2006

OS DOIS ELEFANTES

Em 1951, o Produtor Felipe Solms para quem eu trabalhava em Angola, chamou-me a Moçambiquie onde estava radicado, a fim de colaborar no filme "Chikuembo" com realização do
meu Amigo Carlos Marques., com quem já´hvia trabalhado em Lisboe e em Angola Do argumento do filme constava uma carga de elefante sobre um dos personagens. Claro que quando houvesse carga de elefante o actor não estaria lá e quando o actor estivesse, não estaria o elefante. Seria tudo uma questão de montagem mas, para isso, tornava-se necessária a obtenção de alguns planos de elefantes correndo na nossa direcção.
O Solms que era completamente louco, mas corajoso, ainda ensaiou deitar-se no chão no caminho dos elefantes que viriam direitos a nós mas que antes de chegar junto dele seriam afastados pela gritaria que todos nós e mais os pisteiros faríamos.
Claro que os elefantes não viriam "à carga", mas sim a fugir dos pisteiros que a gritar e a bater em latas, os perseguiam. Mas nem a Claude, Mulher do Felipe, nem nós todos concordamos com isso e ele, muito a contra gosto, lá se levantou do chão e ficou de trombas – muito apropriadamente, aliás – todo o dia.
Mas há um pormenor importante a reter: a atitude de um elefante a fugir, é muito diferente da de um elefante a carregar. Este vem com a tromba completamente no ar, as orelhas abertas e lançar uns bramidos aterradores. Mas venham em carga ou não, com orelhas abertas ou fechdas, e "de tromba caida", ver avançar sobre nós quatro toneladas de força bruta e a uma velocidade que a passada de quase tês metros, compensa da "lentidão" de movimentos, é uma experiência que, como dizia o Vasco Santana: "é porreiro para a gente contar mais tarde" Mas há experiências menos incómodas. Para se avaliar da velocidde de um elefante andando tranquilo e pachorrento, aqui vai um exemplo: o Carlos e eu corremos desenfreadamen atrás de uma pequena manada (menos risco do que um solitário) que havia acabado de passar pachorrentamente por nós. E quando chegávamos a cerca de vinte metros deles, parávamos
para filmar, já eles estavam outra vez fora do nosso alcance.
Mas como mesmo a correr, fugir, eles por vezes vão levantando a tromba para farejar , a grande distância e detectar o possível inimigo. optou-se por provocar uma fuga na nossa direcção. Depois, na montagem se aproveitariam os bons momentos da tromba levantada. Para isso seria preciso fazer vários planos de vários elefantes. Este facto não constituiria problema dado a quantidade de manadas naquela zona da Zambézia.
Começámos ou por outra, continuamos na nossa peregrinação pelo mato, que começava por volta das quatro da manhã e se prolongava até meio da tarde; sempre a pé e em silêncio. O que me custava muito (não o a "pé", mas o" em silêncio”)
Finalmente o G0ustave Gué, o caçador profissional suiço qu era o nosoo guia, o nosso protector e anfitrião no seu magnífico acampamentio, encontrou um local propício. Os pisteiros tinham localizado dois elefantes num "Tando", planície, com uma parte pantanosa e com um caminho já anteriormente trilhado pelos animais. Assim a equipa colocou-se na saída mais provável dos bichos, mesmo no trilho à beira do terreno pantanoso. Aí ficou o meu camarada Alfredo Gomes que era o operador titular do filme com o Gué ao lado dele. Para um local menos provável mas ainda assim possível a noventa graus daquele, fui eu, protegido por um caçador negro muito experiente, o “Capitão” que um dia, anos antes, tinha tirado o Gué dos cornos de um búfalo ferido ganhando assim gratidão do Patrão (e a reforma).
Pormenor de forma alguma despiciendo: o Gué estava armado com uma carabina 404, especial para elefantes. Só é usada a curta distância, mas o impacto corresponde a duas toneladas. . Reverso da meda0lha: a carabina só comporta quatro projcteis...QUATRO ! Mas dizia o caçador com muito espírito: " também tendo de atirar tão perto de que serviriam mais balas s? Não haveria tempo para os utilizar"
Então a situação criada era a seguinte: os pisteiros espantariam os elefantes com gritos e -bater de latas. Estes correriam quase de certeza para o lado do Gué e do Alfredo que os filmaria de frente e eu apanhá-los-ia de lado correndo da minha esquerda para a direita. Se viessem direitos a mim o “Capitão” daria uns tiros para o ar para os desviar da rota e eu filmaria o que acontecesse.
Como o vento estava de feição, os animais, - eram dois como já disse, - não nos sentiram e na fuga foram realmente direitos ao Caçador. Eu filmei tudo desde que eles entraram em campo à minha esquerda até que foram atingidos pelas balas 404.
Foi impressionante: eles vinhm um atrás do outro com diferença de muito poucos metros, quase colados e eu tive a sensação de que tinham chocado contra uma parede invisível. Não é que tenham estacado; não, eles encolheram-se como um harmónio. Rigorosamente a frente parou de repente e os quartos traseiros ainda “andaram” reduzindo por momentos as dimensões dos animais. Foi uma imagem, não; é uma imagem que nunca mais esqueci. Fecho os olhos e volto a ver tudo com toda a nitidez. Já lá vão 51 anos.
Fui ter com os meus colegas e olhei para os dois elefantes. Um estava a dez metros da câmara do Alfredo e ou outro ligeiramente atrás, não mais de três metros. Ambos tinham sido atingidos no mesmo ponto. Uma depressão na testa entre os olhos. O tiro dado praticamente debaixo para cima (o Gué tinha pouco mais de 1.50 m., atingiu directamente o cérebro que aliás ambos tinham expelido pela tromba.
Não gostei do que vi. Como é fácil exterminar aqueles animais magníficos, pacíficos e de tal corpulência com uns poucos gramas de aço!
Salva-se (?) neste caso a utilidade destas mortes. O Caçador fornecia carne para o pessoal da “Sena Sugar” a Companhia açucareira. Mas por vezes; vees demais, matam-se para obter trofeus: uma pata, os dentes, e pouco mais.
A tempo: se bem lembro mataram-se, para este filme quatro ou cinco elefantes.