O MOÇO DA HUMBIA,
A CIDADE de LISBOA
E A IDEIA QUE DELA FAZIA
Muitas vezes saí de Luanda para o Sul esperando não me demorar por lá mais de uma semana, acabando por estar mais de um mês sem vir a casa.
Normalmente fazia a viagem de Luanda para o local onde assentava arraiais, ew daí derivava para os locais ponde tinha de filmar. Para isso tinha transporte cedido pelas Autoridades Administrativas, geralmente Chefes de Posto, - os mais isolados – que faziam questão de serem eles próprios a conduzir-me, por gentileza, mas também pela
curiosidade de ver “como era isso do Cinema.”. Desilusão: porque as filmagens de exteriores, para Documentários ou Actualidades não se revestem da complexidade, das
surpresas, e emoções de uma filmagem em Estúdio.. Mas isso, eles não sabiam, e contentavam-se com o possível.
Quando à partida sabia que o trabalho iria ser demorado e me obrigaria a estar longe da família por mais tempo do que o razoavelmente suportável, substituía a passagem aérea a que tinha direito, por combustível para o carro.
Os meus filhos eram pequenos, três e seis anos (ao tempo da viagem que vou referir) e acomodavam-se bem na cabine da carrinha entre a Mãe e eu. O mais novo adormecia com frequência e deitava-se no colo da Mãe com as pernas sobre as da irmã e as minhas. o colo da irmã e as minhas.
Minha Mulher levava sempre um bom farnel para o caminho. E aqui o desvio de rota habitual. A viagem entre Luanda e Lubango, mil e cinquenta quilómetros que costumava fazer numa só, era nestes casos repartida entre as terras do percurso
Lembro-me agora que precisamente nesta viagem trazia também o Sabalo e já referi noutro escrito.
Porque a estrada entre Luanda e Dondo – cento e oitenta quilómetros - era
quase impraticável na época das chuvas, e era o caso, com o possível “enterranço” por tempo indeterminado, mandei os quatro no comboio de manhã, cvjhghando ao fim da tarde ao Dondo – e eu também..- onde dormimos.
Foi aí que se iniciou verdadeiramente a viagem, com etapas de cento e cinquenta quilómetros pouco mais ou menos: Dembos, Quibála, Alto Ama, -apenas um cruzamento de estradas mas com uma Estação de Serviço que tinha uns rissóis de camarão sublimes. Aí pernoitamos Na etapa seguinte, fizemos um “pic-nic à sombra de um árvore onde os garotos dormiram uma curta sesta.
Enfim, foi uma aventura rotineira sem nada a assinalar.
Estávamos ainda longe da Humbia, meta e objecto desta estória e, para
não impacientar mais aqueles que ainda nos acompanham na viagem, saltamos sobre Nova Lisboa, Quipungo, Caconda e Lubango.
Desçamos pois a deslumbrante Serra da Chela, infelizmente só com um olho na paisagem, e outro nas curvas da estrada que nos levará dos 1.700 metros de Sá da Bandeira, em pouco mais de 20 quilómetros de descida “vertiginosa” – em “segunda”- , até Vila Arriaga, mesmo na “dobradiça” da Montanha com a planície do Deserto, quase nos cinquenta metros de altitude de Moçâmedes.
Afinal, e a Humbia, teria ficado perdida no meio do caminho, para lá de Vila Arriaga ?
Não, não ficou perdida, mau grado fosse – digo fosse porque isto passou-se vai para cinquenta cinco anos. Repito pois: fosse naquele tempo uma mais do que pequena Terra onde mais tarde viria a instalar-se uma fábrica de “charcuteria” dirigida pelo meu Amigo Alex. Ducarsky, ele próprio, anos depois, proprietário da “Charcuteria Francesa no Largo da Mutamba em Luanda.
E a Humbía ? (assento tónico no í) Ficava a meio da serra, e aí parámos para dar às crianças o farnel que a Mãe lhes preparara. (nunca confiar muito nas refeições servidas nestes “hotéis”.-) mas nós comemos dela sem que algo de mal acontecesse. Foi aí que o empregado do estabelecimento se chegou a nós perguntando:
“Os senhores de onde são?” ?”
“ De Lisboa, respondemos”
“ÁH! Então os senhores conhecem com certeza o Basílio (?).
“Não, não conhecemos; já vê Lisboa é muito grande e as pessoas não se conhecem umas às outras.”
“ah! Mas o Bazílio conhecem com certeza, ele é um rapaz cheio de vida. Ao pé dele ninguém se chateia. Ele até foi marinheiro.” Só pusemos um ar meio incrédulo.
Não dissemos nada. mas disse ele: “conhecem com certeza, o que é, é que não se lembram.”.
E depois já com um tom de voz meio a atirar para o desconfiado: “se são mesmo de Lisboa conhecem com certeza”
Bem: se calhar até conhecemos, “O que é, é que não nos lembramos”.. a
Desçamos pois a deslumbrante Serra da Chela, infelizmente só com um olho na paisagem, e outro nas curvas da estrada que nos levará dos 1.700 metros de Sá da Bandeira, em pouco mais de 20 quilómetros de descida “vertiginosa” – em “segunda”- , até Vila Arriaga, mesmo na “dobradiça” da Montanha com a planície do Deserto, quase nos cinquenta metros de altitude de Moçâmedes.
Afinal, e a Humbia, teria ficado perdida no meio do caminho, para lá de Vila Arriaga ?
Não, não ficou perdida, mau grado fosse – digo fosse porque isto passou-se vai para cinquenta cinco anos. Repito pois: fosse naquele tempo uma mais do que pequena Terra onde mais tarde viria a instalar-se uma fábrica de “charcuteria” dirigida pelo meu Amigo Alex. Ducarsky, ele próprio, anos depois, proprietário da “Charcuteria Francesa no Largo da Mutamba em Luanda.
E a Humbía ? (assento tónico no í) Ficava a meio da serra, e aí parámos para dar às crianças o farnel que a Mãe lhes preparara. (nunca confiar muito nas refeições servidas nestes “hotéis”.-) mas nós comemos dela sem que algo de mal acontecesse. Foi aí que o empregado do estabelecimento se chegou a nós perguntando:
“Os senhores de onde são?” ?”
“ De Lisboa, respondemos”
“ÁH! Então os senhores conhecem com certeza o Basílio (?).
“Não, não conhecemos; já vê Lisboa é muito grande e as pessoas não se conhecem umas às outras.”
“ah! Mas o Bazílio conhecem com certeza, ele é um rapaz cheio de vida. Ao pé dele ninguém se chateia. Ele até foi marinheiro.” Só pusemos um ar meio incrédulo.
Não dissemos nada. mas disse ele: “conhecem com certeza, o que é, é que não se lembram.”.
E depois já com um tom de voz meio a atirar para o desconfiado: “se são mesmo de Lisboa conhecem com certeza”
Bem: se calhar até conhecemos, O que é, é que não nos lembramos..
O MOÇO DA HUMBIA,
A CIDADE de LISBOA
E A IDEIA QUE DELA FAZIA
Muitas vezes saí de Luanda para o Sul esperando não me demorar por lá mais de uma semana, acabando por estar mais de um mês sem vir a casa.
Normalmente fazia a viagem de Luanda para o local onde assentava arraiais, ew daí derivava para os locais ponde tinha de filmar. Para isso tinha transporte cedido pelas Autoridades Administrativas, geralmente Chefes de Posto, - os mais isolados – que faziam questão de serem eles próprios a conduzir-me, por gentileza, mas também pela
curiosidade de ver “como era isso do Cinema.”. Desilusão: porque as filmagens de exteriores, para Documentários ou Actualidades não se revestem da complexidade, das
surpresas, e emoções de uma filmagem em Estúdio.. Mas isso, eles não sabiam, e contentavam-se com o possível.
Quando à partida sabia que o trabalho iria ser demorado e me obrigaria a estar longe da família por mais tempo do que o razoavelmente suportável, substituía a passagem aérea a que tinha direito, por combustível para o carro.
Os meus filhos eram pequenos, três e seis anos (ao tempo da viagem que vou referir) e acomodavam-se bem na cabine da carrinha entre a Mãe e eu. O mais novo adormecia com frequência e deitava-se no colo da Mãe com as pernas sobre as da irmã e as minhas. o colo da irmã e as minhas.
Minha Mulher levava sempre um bom farnel para o caminho. E aqui o desvio de rota habitual. A viagem entre Luanda e Lubango, mil e cinquenta quilómetros que costumava fazer numa só, era nestes casos repartida entre as terras do percurso
Lembro-me agora que precisamente nesta viagem trazia também o Sabalo e já referi noutro escrito.
Porque a estrada entre Luanda e Dondo – cento e oitenta quilómetros - era
quase impraticável na época das chuvas, e era o caso, com o possível “enterranço” por tempo indeterminado, mandei os quatro no comboio de manhã, cvjhghando ao fim da tarde ao Dondo – e eu também..- onde dormimos.
Foi aí que se iniciou verdadeiramente a viagem, com etapas de cento e cinquenta quilómetros pouco mais ou menos: Dembos, Quibála, Alto Ama, -apenas um cruzamento de estradas mas com uma Estação de Serviço que tinha uns rissóis de camarão sublimes. Aí pernoitamos Na etapa seguinte, fizemos um “pic-nic à sombra de um árvore onde os garotos dormiram uma curta sesta.
Enfim, foi uma aventura rotineira sem nada a assinalar.
Estávamos ainda longe da Humbia, meta e objecto desta estória e, para
não impacientar mais aqueles que ainda nos acompanham na viagem, saltamos sobre Nova Lisboa, Quipungo, Caconda e Lubango.
Desçamos pois a deslumbrante Serra da Chela, infelizmente só com um olho na paisagem, e outro nas curvas da estrada que nos levará dos 1.700 metros de Sá da Bandeira, em pouco mais de 20 quilómetros de descida “vertiginosa” – em “segunda”- , até Vila Arriaga, mesmo na “dobradiça” da Montanha com a planície do Deserto, quase nos cinquenta metros de altitude de Moçâmedes.
Afinal, e a Humbia, teria ficado perdida no meio do caminho, para lá de Vila Arriaga ?
Não, não ficou perdida, mau grado fosse – digo fosse porque isto passou-se vai para cinquenta cinco anos. Repito pois: fosse naquele tempo uma mais do que pequena Terra onde mais tarde viria a instalar-se uma fábrica de “charcuteria” dirigida pelo meu Amigo Alex. Ducarsky, ele próprio, anos depois, proprietário da “Charcuteria Francesa no Largo da Mutamba em Luanda.
E a Humbía ? (assento tónico no í) Ficava a meio da serra, e aí parámos para dar às crianças o farnel que a Mãe lhes preparara. (nunca confiar muito nas refeições servidas nestes “hotéis”.-) mas nós comemos dela sem que algo de mal acontecesse. Foi aí que o empregado do estabelecimento se chegou a nós perguntando:
“Os senhores de onde são?” ?”
“ De Lisboa, respondemos”
“ÁH! Então os senhores conhecem com certeza o Basílio (?).
“Não. Não conhecemos; já vê, Lisboa é muito grande e as pessoas não se conhecem umas às outras.”
“ah! Mas o Basílio conhecem com certeza, ele é um rapaz cheio de vida. Ao pé dele ninguém se chateia. Ele até foi marinheiro.” Pusemos só um ar meio incrédulo, e não
dissemos nada. Não dissemos nós, mas disse ele: “conhecem com certeza,o que é, é que não se lembram.”.
E depois já com um tom de voz meio a atirar para o desconfiado: “se são mesmo de Lisboa conhecem com certeza”
Bem: se calhar até conhecemos, “O que é, é que não nos lembramos”..
A CIDADE de LISBOA
E A IDEIA QUE DELA FAZIA
Muitas vezes saí de Luanda para o Sul esperando não me demorar por lá mais de uma semana, acabando por estar mais de um mês sem vir a casa.
Normalmente fazia a viagem de Luanda para o local onde assentava arraiais, ew daí derivava para os locais ponde tinha de filmar. Para isso tinha transporte cedido pelas Autoridades Administrativas, geralmente Chefes de Posto, - os mais isolados – que faziam questão de serem eles próprios a conduzir-me, por gentileza, mas também pela
curiosidade de ver “como era isso do Cinema.”. Desilusão: porque as filmagens de exteriores, para Documentários ou Actualidades não se revestem da complexidade, das
surpresas, e emoções de uma filmagem em Estúdio.. Mas isso, eles não sabiam, e contentavam-se com o possível.
Quando à partida sabia que o trabalho iria ser demorado e me obrigaria a estar longe da família por mais tempo do que o razoavelmente suportável, substituía a passagem aérea a que tinha direito, por combustível para o carro.
Os meus filhos eram pequenos, três e seis anos (ao tempo da viagem que vou referir) e acomodavam-se bem na cabine da carrinha entre a Mãe e eu. O mais novo adormecia com frequência e deitava-se no colo da Mãe com as pernas sobre as da irmã e as minhas. o colo da irmã e as minhas.
Minha Mulher levava sempre um bom farnel para o caminho. E aqui o desvio de rota habitual. A viagem entre Luanda e Lubango, mil e cinquenta quilómetros que costumava fazer numa só, era nestes casos repartida entre as terras do percurso
Lembro-me agora que precisamente nesta viagem trazia também o Sabalo e já referi noutro escrito.
Porque a estrada entre Luanda e Dondo – cento e oitenta quilómetros - era
quase impraticável na época das chuvas, e era o caso, com o possível “enterranço” por tempo indeterminado, mandei os quatro no comboio de manhã, cvjhghando ao fim da tarde ao Dondo – e eu também..- onde dormimos.
Foi aí que se iniciou verdadeiramente a viagem, com etapas de cento e cinquenta quilómetros pouco mais ou menos: Dembos, Quibála, Alto Ama, -apenas um cruzamento de estradas mas com uma Estação de Serviço que tinha uns rissóis de camarão sublimes. Aí pernoitamos Na etapa seguinte, fizemos um “pic-nic à sombra de um árvore onde os garotos dormiram uma curta sesta.
Enfim, foi uma aventura rotineira sem nada a assinalar.
Estávamos ainda longe da Humbia, meta e objecto desta estória e, para
não impacientar mais aqueles que ainda nos acompanham na viagem, saltamos sobre Nova Lisboa, Quipungo, Caconda e Lubango.
Desçamos pois a deslumbrante Serra da Chela, infelizmente só com um olho na paisagem, e outro nas curvas da estrada que nos levará dos 1.700 metros de Sá da Bandeira, em pouco mais de 20 quilómetros de descida “vertiginosa” – em “segunda”- , até Vila Arriaga, mesmo na “dobradiça” da Montanha com a planície do Deserto, quase nos cinquenta metros de altitude de Moçâmedes.
Afinal, e a Humbia, teria ficado perdida no meio do caminho, para lá de Vila Arriaga ?
Não, não ficou perdida, mau grado fosse – digo fosse porque isto passou-se vai para cinquenta cinco anos. Repito pois: fosse naquele tempo uma mais do que pequena Terra onde mais tarde viria a instalar-se uma fábrica de “charcuteria” dirigida pelo meu Amigo Alex. Ducarsky, ele próprio, anos depois, proprietário da “Charcuteria Francesa no Largo da Mutamba em Luanda.
E a Humbía ? (assento tónico no í) Ficava a meio da serra, e aí parámos para dar às crianças o farnel que a Mãe lhes preparara. (nunca confiar muito nas refeições servidas nestes “hotéis”.-) mas nós comemos dela sem que algo de mal acontecesse. Foi aí que o empregado do estabelecimento se chegou a nós perguntando:
“Os senhores de onde são?” ?”
“ De Lisboa, respondemos”
“ÁH! Então os senhores conhecem com certeza o Basílio (?).
“Não, não conhecemos; já vê Lisboa é muito grande e as pessoas não se conhecem umas às outras.”
“ah! Mas o Bazílio conhecem com certeza, ele é um rapaz cheio de vida. Ao pé dele ninguém se chateia. Ele até foi marinheiro.” Só pusemos um ar meio incrédulo.
Não dissemos nada. mas disse ele: “conhecem com certeza, o que é, é que não se lembram.”.
E depois já com um tom de voz meio a atirar para o desconfiado: “se são mesmo de Lisboa conhecem com certeza”
Bem: se calhar até conhecemos, “O que é, é que não nos lembramos”.. a
Desçamos pois a deslumbrante Serra da Chela, infelizmente só com um olho na paisagem, e outro nas curvas da estrada que nos levará dos 1.700 metros de Sá da Bandeira, em pouco mais de 20 quilómetros de descida “vertiginosa” – em “segunda”- , até Vila Arriaga, mesmo na “dobradiça” da Montanha com a planície do Deserto, quase nos cinquenta metros de altitude de Moçâmedes.
Afinal, e a Humbia, teria ficado perdida no meio do caminho, para lá de Vila Arriaga ?
Não, não ficou perdida, mau grado fosse – digo fosse porque isto passou-se vai para cinquenta cinco anos. Repito pois: fosse naquele tempo uma mais do que pequena Terra onde mais tarde viria a instalar-se uma fábrica de “charcuteria” dirigida pelo meu Amigo Alex. Ducarsky, ele próprio, anos depois, proprietário da “Charcuteria Francesa no Largo da Mutamba em Luanda.
E a Humbía ? (assento tónico no í) Ficava a meio da serra, e aí parámos para dar às crianças o farnel que a Mãe lhes preparara. (nunca confiar muito nas refeições servidas nestes “hotéis”.-) mas nós comemos dela sem que algo de mal acontecesse. Foi aí que o empregado do estabelecimento se chegou a nós perguntando:
“Os senhores de onde são?” ?”
“ De Lisboa, respondemos”
“ÁH! Então os senhores conhecem com certeza o Basílio (?).
“Não, não conhecemos; já vê Lisboa é muito grande e as pessoas não se conhecem umas às outras.”
“ah! Mas o Bazílio conhecem com certeza, ele é um rapaz cheio de vida. Ao pé dele ninguém se chateia. Ele até foi marinheiro.” Só pusemos um ar meio incrédulo.
Não dissemos nada. mas disse ele: “conhecem com certeza, o que é, é que não se lembram.”.
E depois já com um tom de voz meio a atirar para o desconfiado: “se são mesmo de Lisboa conhecem com certeza”
Bem: se calhar até conhecemos, O que é, é que não nos lembramos..
O MOÇO DA HUMBIA,
A CIDADE de LISBOA
E A IDEIA QUE DELA FAZIA
Muitas vezes saí de Luanda para o Sul esperando não me demorar por lá mais de uma semana, acabando por estar mais de um mês sem vir a casa.
Normalmente fazia a viagem de Luanda para o local onde assentava arraiais, ew daí derivava para os locais ponde tinha de filmar. Para isso tinha transporte cedido pelas Autoridades Administrativas, geralmente Chefes de Posto, - os mais isolados – que faziam questão de serem eles próprios a conduzir-me, por gentileza, mas também pela
curiosidade de ver “como era isso do Cinema.”. Desilusão: porque as filmagens de exteriores, para Documentários ou Actualidades não se revestem da complexidade, das
surpresas, e emoções de uma filmagem em Estúdio.. Mas isso, eles não sabiam, e contentavam-se com o possível.
Quando à partida sabia que o trabalho iria ser demorado e me obrigaria a estar longe da família por mais tempo do que o razoavelmente suportável, substituía a passagem aérea a que tinha direito, por combustível para o carro.
Os meus filhos eram pequenos, três e seis anos (ao tempo da viagem que vou referir) e acomodavam-se bem na cabine da carrinha entre a Mãe e eu. O mais novo adormecia com frequência e deitava-se no colo da Mãe com as pernas sobre as da irmã e as minhas. o colo da irmã e as minhas.
Minha Mulher levava sempre um bom farnel para o caminho. E aqui o desvio de rota habitual. A viagem entre Luanda e Lubango, mil e cinquenta quilómetros que costumava fazer numa só, era nestes casos repartida entre as terras do percurso
Lembro-me agora que precisamente nesta viagem trazia também o Sabalo e já referi noutro escrito.
Porque a estrada entre Luanda e Dondo – cento e oitenta quilómetros - era
quase impraticável na época das chuvas, e era o caso, com o possível “enterranço” por tempo indeterminado, mandei os quatro no comboio de manhã, cvjhghando ao fim da tarde ao Dondo – e eu também..- onde dormimos.
Foi aí que se iniciou verdadeiramente a viagem, com etapas de cento e cinquenta quilómetros pouco mais ou menos: Dembos, Quibála, Alto Ama, -apenas um cruzamento de estradas mas com uma Estação de Serviço que tinha uns rissóis de camarão sublimes. Aí pernoitamos Na etapa seguinte, fizemos um “pic-nic à sombra de um árvore onde os garotos dormiram uma curta sesta.
Enfim, foi uma aventura rotineira sem nada a assinalar.
Estávamos ainda longe da Humbia, meta e objecto desta estória e, para
não impacientar mais aqueles que ainda nos acompanham na viagem, saltamos sobre Nova Lisboa, Quipungo, Caconda e Lubango.
Desçamos pois a deslumbrante Serra da Chela, infelizmente só com um olho na paisagem, e outro nas curvas da estrada que nos levará dos 1.700 metros de Sá da Bandeira, em pouco mais de 20 quilómetros de descida “vertiginosa” – em “segunda”- , até Vila Arriaga, mesmo na “dobradiça” da Montanha com a planície do Deserto, quase nos cinquenta metros de altitude de Moçâmedes.
Afinal, e a Humbia, teria ficado perdida no meio do caminho, para lá de Vila Arriaga ?
Não, não ficou perdida, mau grado fosse – digo fosse porque isto passou-se vai para cinquenta cinco anos. Repito pois: fosse naquele tempo uma mais do que pequena Terra onde mais tarde viria a instalar-se uma fábrica de “charcuteria” dirigida pelo meu Amigo Alex. Ducarsky, ele próprio, anos depois, proprietário da “Charcuteria Francesa no Largo da Mutamba em Luanda.
E a Humbía ? (assento tónico no í) Ficava a meio da serra, e aí parámos para dar às crianças o farnel que a Mãe lhes preparara. (nunca confiar muito nas refeições servidas nestes “hotéis”.-) mas nós comemos dela sem que algo de mal acontecesse. Foi aí que o empregado do estabelecimento se chegou a nós perguntando:
“Os senhores de onde são?” ?”
“ De Lisboa, respondemos”
“ÁH! Então os senhores conhecem com certeza o Basílio (?).
“Não. Não conhecemos; já vê, Lisboa é muito grande e as pessoas não se conhecem umas às outras.”
“ah! Mas o Basílio conhecem com certeza, ele é um rapaz cheio de vida. Ao pé dele ninguém se chateia. Ele até foi marinheiro.” Pusemos só um ar meio incrédulo, e não
dissemos nada. Não dissemos nós, mas disse ele: “conhecem com certeza,o que é, é que não se lembram.”.
E depois já com um tom de voz meio a atirar para o desconfiado: “se são mesmo de Lisboa conhecem com certeza”
Bem: se calhar até conhecemos, “O que é, é que não nos lembramos”..
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