QUANDO EU ESTIVE
(quase) NO PARAÍSO
Estranha coisa a memória. Como é que só agora, passado perto de quarenta anos, me recordo tão nitidamente de um episódio misto de luta pela vida, pela sobrevivência, e de ternura também?
Foi assim: filmávamos um documentário sobre Pecuária que nos obrigava a percorrer Angola de lés a lés, o que sempre fazíamos com imenso prazer. Acompanhava-me o meu Amigo Zé António, hoje com mais de cinquenta anos e na altura meu assistente aliás já referido noutro escrito.
Não houve cantinho, recesso mais escondido, onde houvesse um Posto Zootécnico ou exploração pecuária que não visitássemos, muitas vezes a corta-mato, algumas delas só encontradas depois de nos havermos perdido em zonas pouco povoadas.
Na ocasião o nosso objectivo era o Posto de Cafú nos confins do Sul, longe de povoados ou pessoas, a não ser os pastores nómadas que ali vinham para vacinar os seus bois, o que só faziam depois do veterinário ter ralado as estopinhas para os convencer.
Numa manhã antes da partida para mais uma missão. veio um passarinho pouco maior do que um pardal. poisar no arame farpado perto de nós; tão perto que o Zé António não resistiu à tentação de lhe fazer uma carícia nas penas. E, contra o que esperávamos, o passarinho não levantou voo imediatamente, parecia estar a gostar e ainda esteve uns segundos antes de se ir embora. Talvez tenha ido dali para o ninho contar: “estavam ali uns estranhos bichos que me fizeram uma festinha!”
Parece uma tontice minha atribuir tal procedimento a uma tímida avezinha.
Desde la Fontaine que tal não acontecia. Mas aconteceu ali, naquele quase Paraíso onde a maldade dos homens (talvez porque os não havia) ainda não tinha posto o pé.
Mais adiante vimos algum movimento sobre a vedação e fomos ver: aproximamo-nos com todo o cuidado, e o que observamos espantou-nos ainda mais do que o pardalito havia feito.
Poisado no arame farpado um outro passarinho pouco maior que o anterior, acabara de espetar uma lagartixa num dos espigões do arame e ia arrancando pedaços pequenos que engolia, e quando eram maiores do que poderia comer tornava a espetá-los e puxava até os rasgar e reduzir à dimensão conveniente.
Estou escrevendo às três horas da manhã de 15 de Abril de 2008,mas não estou sonhando, estou apenas maravilhado e enternecido pela recordação que jazia adormecida na minha cabeça e acordou agora no coração.
(quase) NO PARAÍSO
Estranha coisa a memória. Como é que só agora, passado perto de quarenta anos, me recordo tão nitidamente de um episódio misto de luta pela vida, pela sobrevivência, e de ternura também?
Foi assim: filmávamos um documentário sobre Pecuária que nos obrigava a percorrer Angola de lés a lés, o que sempre fazíamos com imenso prazer. Acompanhava-me o meu Amigo Zé António, hoje com mais de cinquenta anos e na altura meu assistente aliás já referido noutro escrito.
Não houve cantinho, recesso mais escondido, onde houvesse um Posto Zootécnico ou exploração pecuária que não visitássemos, muitas vezes a corta-mato, algumas delas só encontradas depois de nos havermos perdido em zonas pouco povoadas.
Na ocasião o nosso objectivo era o Posto de Cafú nos confins do Sul, longe de povoados ou pessoas, a não ser os pastores nómadas que ali vinham para vacinar os seus bois, o que só faziam depois do veterinário ter ralado as estopinhas para os convencer.
Numa manhã antes da partida para mais uma missão. veio um passarinho pouco maior do que um pardal. poisar no arame farpado perto de nós; tão perto que o Zé António não resistiu à tentação de lhe fazer uma carícia nas penas. E, contra o que esperávamos, o passarinho não levantou voo imediatamente, parecia estar a gostar e ainda esteve uns segundos antes de se ir embora. Talvez tenha ido dali para o ninho contar: “estavam ali uns estranhos bichos que me fizeram uma festinha!”
Parece uma tontice minha atribuir tal procedimento a uma tímida avezinha.
Desde la Fontaine que tal não acontecia. Mas aconteceu ali, naquele quase Paraíso onde a maldade dos homens (talvez porque os não havia) ainda não tinha posto o pé.
Mais adiante vimos algum movimento sobre a vedação e fomos ver: aproximamo-nos com todo o cuidado, e o que observamos espantou-nos ainda mais do que o pardalito havia feito.
Poisado no arame farpado um outro passarinho pouco maior que o anterior, acabara de espetar uma lagartixa num dos espigões do arame e ia arrancando pedaços pequenos que engolia, e quando eram maiores do que poderia comer tornava a espetá-los e puxava até os rasgar e reduzir à dimensão conveniente.
Estou escrevendo às três horas da manhã de 15 de Abril de 2008,mas não estou sonhando, estou apenas maravilhado e enternecido pela recordação que jazia adormecida na minha cabeça e acordou agora no coração.
13 Comments:
Tenho-o acompanhado nos seus posts. Os meus parabéns e o meu muito obrigado com votos que continue neste seu maravilhoso caminho.
A história que nos conta hoje é extraordinária, é algo que deveria ser do conhecimento dos estudiosos do comportamento inteligente do animal irracional. Conheço e já vi na televisão pássaros que batem com uma pedra em sementes para partirem a casca e porem a descoberto a semente comestível. Um passarito que utiliza o arame farpado para esventrar uma minhoca é um comportamento adquirido muito recentemente pois o arame farpado era muito recente em Angola. Assim, entendo que este comportamento é mais extraordinário que o do pássaro que parte sementes com uma pedra.
Saliento ainda a história inédita que nos conta de que um passarito selvagem ter deixado cândidamente que um ser humano lhe fizesse uma festa
Sr. João Silva ajude-me a localizar Cafú. Era perto do Camucuio onde nos anos 60 trabalhava o veterinário Dr. Helder?
Amigo Rui Moio. Estou a tentar pela enesémima vez responder ao seu pedido de informações sobre o "CaFU".Como sou uma nulidade em informática já
várias vezes deixei fugir o texto que vou agora repetir, com a eperança que desta vez consiga chegar até si:
1º conseguir um mapa de estradas de Angola Á ESCALA DE 1: 2.000.000.
2º - Traçar uma recta de Sá da Bandeira a Pereira d'Eça.
3º - traçar outra entre Serpa Pinto e Roçadas.
O "Cafu" situa-se no cruzamento dessas duas linhas, a 12,5 cm de Sá da Bandeira, e a 2,5 do Roçadas.
Creio que não terá dficuldade em se localisar. Por favor diga alguma coisa. Um abraço João Silva
Amigo: ainda volto aqui para lhe agradecer as suas generosas palavras. Como qnteriormente digo tive de tentar por várias vezes escrever este
agradecimento e sempre falhei. Perdoe-me.
Quanto ao seu reparo a propósito do arame farpado, vou por no meu blog um post que julgo, irá dar uma achega ao assunto.
Mais um muito opbrigado João Silva
Olá amigo João Silva
Vivi na região dos Gambos (Chiange), vila situada a cerca de 180 quilómetros de Sá-da-bandeira, onde frequentei a escola primária. Nesta região, proliferam as espinheiras, uns arbustos de troncos secos em que aos ramos se agregam espinhos enormes, alguns com 3 a 4 centímetros.
Conforme me explicou, o Cafú fica a alguns quilómetros do Roçadas, creio que na borda do deserto do Namibe. Assim, creio que a região do Roçadas também seja uma área de muitas espinheiras. Se assim for, talvez, o comportamento extraordinário do passarito possa ser mais facilmente explicado pelo seguinte raciocínio:
há milénios que os passaritos teriam aprendido a partir as minhocas pendurando-as nos espinhos das muitas espinheiras da região. Há algumas décadas, o homem levou para o Cafú o arame farpado e o pássaro limitou-se a transferir para esta “espinheira natural” um comportamento que lhe era habitual há milénios.
Contudo, para comprovar a explicação que dei preciso de saber se na região do Roçadas há abundância de espinheiras como nos Gambos? Isto, claro, a par de outras explicações que possa haver sobre as razões de tão insólito comportamento…
Se possível, muito agradeço que me diga se na região do Cafú existem muitas espinheiras.
Muito obrigado e votos que continue a brindar-nos com as suas ricas e interessantes histórias
ObrigaDO aMIGO PELAS SUAS EXPLICAÇÕES
Em toda a região daquele Sul: deserto de Moçâmedes, Iona,Cuando Cubango há muitas espinheiras, e até umas chamadas unhas de gato, por serem curvas como anzois; deixei lá algumas camisas, e pele também.
Quanto ao Cafu não posso em bom rigor dizer se há muitas ou poucas, apenas lá fui uma vez. Mas a região era muito semelhante às envolventes pelo que não poderia fugir ao seu
destino
Agora outra coisa: não consegui localizar Cmucungo.
Ainda uma pergunta. Já conseguiu encontrar o Cafu, no cruzamento das linhas que lhe indiquei?
Por agora mais nada. A não sert um abraço, claro.
Encontrei o Cafú num mapa de Angola em alta resolução. O endereço é este aqui embaixo.
O Cafú fica junto ao Parque Nacional da Mupa
Ofélia
http://www.worldmapfinder.com/Map_Detail.php?MAP=57694&FN=Angola.jpg&MW=3968&MH=5070&FS=4133&FT=jpg&WO=0&CE=1&CO=148&CI=0&IT=0&LC=9&PG=1&CS=utf-8&FU=http://reports.overland.co.za/Electronic_Maps/Angola.jpg&SU=http://www.overland.co.za/phpbb/viewtopic.php?p=1148
Em relação às causas mais prováveis do insólito comportamento do passarinho as nossas opiniões convergem. Quando acabei de publicar o meu último comentário em que dava a minha explicação do fenómeno verifiquei que o sr. João Silva havia colocado um post no qual expressava a mesma ideia.
No Chiange há aspectos que considero interessantes e que diferenciam esta vila de todas as que conheci em Angola, tais como:
- a abundância de espinheiras – uns galhos altos, por vezes com dois metros de altura, sem folhas em que dos ramos saiam uns espinhos enormes e aguçados.
Visitei com o meu pai o Iona e o Virei, julgo termos passado na região denominada Espinheira que creio que se localiza na estrada de Porto Alexandre - Iona e não reparei nesse tipo de espinheiras.
- O quintal da minha casa do Chiange tinha uns 50 centímetros de pedras do tamanho das pedras de calcário das nossas calçadas. Eram cinzentas e negras - sinal da abundância de ferro na região. Para se encontrar a terra era necessário retirar montões de pedras cinzentas e negras. Não sei se as pedras sempre lá estiveram ou se foram ali colocadas para atapetar o chão do quintal.
- O palácio do administrador era enorme e tinha uma varanda colossal com uns três metros de largura
- era uma vila com meia dúzia de casas, ultima estação (de bitola estreita) do caminho de ferro de Moçamedes mas tinha ruas largas com lancis. Uma das ruas circundava a vila, sempre com lancil mas sem casas nas suas bermas. Curioso…
Salvo outra explicação, creio que a vila do Chiange foi delineada aquando da chegada do comboio – fizeram-se as ruas e os lancis antes das casas.
Localização do Cafú
Segui as instruções que me deu e encontrei o Cafú, que, no mapa que consultei, que é o indicado pela Ofélia, se localiza a alguns quilómetros de Xangongo, que julgo ser a vila do Roçadas.
Localização do Camucuio
O Camucuio é um posto da concelho da Bibala, cuja sede era Vila Arriaga. Nesta área havia uma estação zootécnica onde o veterinário, Dr. Hélder, vivia numa casa toda feita de pedra e onde no quintal havia um enorme imbondeiro oco por dentro. Não sei o nome desta estação zootécnica, sei apenas que se localizava para os lados do Caitou ou do Camucuio.
Para se ir ao Camucuio, segue-se a estrada de Vila Arriaga para o Caitou e, neste posto, vira-se para o Camucuio.
Localização pela consulta do mapa.
Vila Arriaga (actual Bibala) situa-se a 50 quilómetros a Norte de Sá da Bandeira, o Caitou a uns 70 quilómetros a nordoeste de Vila Arriaga e o Camucuio a uns 60 quilómetros a norte do Caitou. O Camucuio situa-se a sudeste da Lucira.
Um muito obrigado pelos esclarecimentos e até sempre
Esta conversa, a visita detalhada ao mapa, a lembrança das viagens estão a provocar-me uma saudade que até dói. Não se deve voltar aos locais onde fomos felizes e por isso não quero voltar. Será que consigo?
Ofélia
Amigo Rui.Obrigado pela magnífica lição que me deu sobre a geografia de Angola.
Então, não é que eu, tendo descido a Serra da Chela muitas dezenas de vezes a caminho de Moçâmedes,para Sudoeste (quando saíamos de Luanda, para Moçâmedes, era para Sul que seguiamos.)
Por extensão também de Sá da Bandeira para Moçâmedes achavamos
que iamos a caminho do Sul.
Acho que a Serra da Chela, durante as muitas dezenas de vezes que a desci sempre me pregou a partida com as curvas, os laços, e as vezes em que v+iamos o Morro Maluco tão depressa à esquerda como à direita.
A meio da descida encontrámos a Humbia onda havia uma fábrica de
salsicharia dirigida pelo Alex. Durarsky, mais tarde dono da Charcutaria Frencesa no Largo da Mutamba em Luanda.
Pouco depois entravamos em Vila Arriaga, esta já no sopé da Serra, sem me aperceber que tinha dado uma volta para Nordeste estava, agora sim. na direcção de Moçâmedes que não ficava nada a Sul, mas sim a sudoeste.
Estou agora a recordar-me que fui filmar o Posto Zootécnico do Munnhengo (no Mapa chamam-lhe Estação. O veterinário não estava, seria o Dr. Helder? (princípios dos anos 50).
Ia esfomeado e o cozinheiro foi matar uma galinha que assou sem lhe tirar as "enxúndias" Tinha um aspecto tão repugnante, que fiz o meu trabalho e fugi agoniado. Fui comer já não sei onde, mas sempre com a repugnante imagem e cheiro a perseguirem-me.
Foi um mau bocado, mas como dizia o Vasco Santana:"foi porreiro para recordar mais tarde".
Tão tarde que são quase quatro horas da manhã, e não apetece ir para a cama.
Boa noite Amigo, é um prazer estar consigo.
Caro joão Silva
Estou a ler as suas recordações angolanas...e claro fico comovido com as minhas também
Pergunto...conheceu o dr Malacriz ou o dr ???Martins...veterinatrios seniores do sul de angola!!! um era meu conterrâneo e o outro meu parente.
Recentemente estive a trabalhar na Fazenda Chivemba ,antigo posto do Cunene fundado pelo malacriz e que comnheci localmente em 1966 quando eu era funcionário da Cuca das empresas agropecuárias....sou amigo do Benjamin Dukarski
Parabéns e felicidades-José Brito e Castro
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Olá Sr Rui Moio,
Estive a ler os seus comentários que se referem ao Chiange.
Esta vila foi mandada desenhar pessoalmente pelo então Governador da Huíla Sr Agapito, que, em viagem por aquelas bandas, verificando as potencialidades da região, ordenou ao arquitecto que projectasse uma vila com Administração e respectivas casas , uma rua principal e caminho de ferro para a movimentação fácil do ferro locar e de outros bens.
O meu pai Manuel Afonso foi o 2º Comerciante a instalar-se no Chiange, depois do Sr Monteiro, que tinha a única casa de 1ª andar. Quero entrar em contacto com a administração do Chiange e da Chibia. Se por acaso tem algum endereço de e-mail, agradeço.
Já lhe enviei um mail para o seu e-mail a ver se não nos conhecemos.
Onde era a sua casa no Chiange???
Abraço,
Elisa
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