Cordas
A estória que pretendo contar e que se passou durante o meu tempo de tropa foi para mim uma surpresa a pesar da minha experiência anterior obtida durante o tempo de cadeia em que convivi com pessoas de diferentes estratos e culturas. Mas tornou-se inesquecível pela ingenuidade do protagonista. Mas vamos à estória .
O Grupo de Artilharia Contra Aeronaves aquartelado na Cidadela de Cascais, era considerado Unidade de Elite, Não tanto por si só, mas porque a Cidadela era a residência do Chefe de Estado, General Carmona. Por isso havia um certo cuidado na incorporação de recrutas. Isto era a intenção mas já dizia minha Avó: “de boas intenções está o Inferno cheio.”. E, já agora, porque não começar por mim que fui aprovado para amanuense da Secretaria porque escrevia à máquina com dois dedos?. Na incorporação de 1938, o contingente destinado pela Chefia Militar de Lisboa à nossa Unidade era o mais heterogéneo que imaginar se possa. Desde o jovem afadistado dos Bairros Populares de Lisboa ( de onde aliás, também sou oriundo mas não canto o fado) até ao mais amedrontado camponês do interior. Quando falo de camponês, lembro que me refiro à década de trinta do Século passado. Hoje, Século XXl, quase não existem mais. Em breve ninguém mais se lembrará deles. Num dia de recepção de mancebos apresentou-se um rapaz quase esfarrapado, com ar assustado que trazia a guia de marcha quase tão esfarrapada como ele próprio. Tornava-se quase impossível a identificação do moço que, insisto, apresentava um aspecto deplorável. O Tenente recebeu a guia, pegou-lhe com alguma repugnância perguntou o nome, que estava ilegível e passou-me a batata quente em forma de papel sujo e amarrotado, para tratar de fazer a incorporação Tinha pois de escrever um longo documento começando pelo nome da criatura. “Como é que te chamas?” “Xujé de Cordas Pereira,” nome que antes tinha dado ao Tenente.. Pergunto eu: “José de Cordas Pereira, é “ ? “Nã xenhor, Xujé de Cordas Pereira.” . Este jogo de palavras prolongou-se por mais uma troca de perguntas e respostas sem se chegar à soluçãoalguma quando me lembrei do meu tempo de prisão. Lá , havia convivido com camaradas transmontanos de pronúncia semelhante ao do Xujé, embora menos serrada. Então esperançado, lanço: “ José de CALDAS Pereira” ? Iluminou-se o rosto do rapaz com o mais largo
sorriso que alguma vez fizera. Até que enfim! Tinham-no entendido. “Xim xenhor, Xujé de CÓONRDAS Pereira ! e calou-se com ar de triunfo e alegria
estampados no rosto antes triste... e por barbear. E foi tudo !
O Grupo de Artilharia Contra Aeronaves aquartelado na Cidadela de Cascais, era considerado Unidade de Elite, Não tanto por si só, mas porque a Cidadela era a residência do Chefe de Estado, General Carmona. Por isso havia um certo cuidado na incorporação de recrutas. Isto era a intenção mas já dizia minha Avó: “de boas intenções está o Inferno cheio.”. E, já agora, porque não começar por mim que fui aprovado para amanuense da Secretaria porque escrevia à máquina com dois dedos?. Na incorporação de 1938, o contingente destinado pela Chefia Militar de Lisboa à nossa Unidade era o mais heterogéneo que imaginar se possa. Desde o jovem afadistado dos Bairros Populares de Lisboa ( de onde aliás, também sou oriundo mas não canto o fado) até ao mais amedrontado camponês do interior. Quando falo de camponês, lembro que me refiro à década de trinta do Século passado. Hoje, Século XXl, quase não existem mais. Em breve ninguém mais se lembrará deles. Num dia de recepção de mancebos apresentou-se um rapaz quase esfarrapado, com ar assustado que trazia a guia de marcha quase tão esfarrapada como ele próprio. Tornava-se quase impossível a identificação do moço que, insisto, apresentava um aspecto deplorável. O Tenente recebeu a guia, pegou-lhe com alguma repugnância perguntou o nome, que estava ilegível e passou-me a batata quente em forma de papel sujo e amarrotado, para tratar de fazer a incorporação Tinha pois de escrever um longo documento começando pelo nome da criatura. “Como é que te chamas?” “Xujé de Cordas Pereira,” nome que antes tinha dado ao Tenente.. Pergunto eu: “José de Cordas Pereira, é “ ? “Nã xenhor, Xujé de Cordas Pereira.” . Este jogo de palavras prolongou-se por mais uma troca de perguntas e respostas sem se chegar à soluçãoalguma quando me lembrei do meu tempo de prisão. Lá , havia convivido com camaradas transmontanos de pronúncia semelhante ao do Xujé, embora menos serrada. Então esperançado, lanço: “ José de CALDAS Pereira” ? Iluminou-se o rosto do rapaz com o mais largo
sorriso que alguma vez fizera. Até que enfim! Tinham-no entendido. “Xim xenhor, Xujé de CÓONRDAS Pereira ! e calou-se com ar de triunfo e alegria
estampados no rosto antes triste... e por barbear. E foi tudo !
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