segunda-feira, dezembro 11, 2006

Em Memória do Actor Tarquinio Vieira

. Não tenho fotografias de trabalho do "Bocage". As que em tempos remotos conservei,acabaram por perder-se. Já lá vão setenta anos. É muito tempo. Lembro-me do Actor Tarquínio Vieira como um homem alto e forte vestido com o uniforme de Oficial de Marinha. Tinha regressado da Índia com o Manuel Maria ,este também Marinheiro. Recordo-me que quando M.M. adoeceu, foi em casa deste seu Camarada que esteve convalecendo.Não tenho a certeza de que o personagem que o Tarquínio interpretava fosse o de Visconde (?) de Assentiz, Seabra, ou se o Tarquínio é que se referia a este Visconde. Vejo a imagem em retrospectiva . Mas é tudo muito nebuloso. O que não era, nem é nebulosa é a imagem das duas irmãs do Tarquinio. Uma, a mais nova era uma figura muito doce. Chamava-se Maria Castelar .e não me lembro de a ter visto em qualquer outro filme, nem antes nem depois. A mais velha, interpretada pela Atriz Maria Helena Matos, filha da Grande Maria Matos ~a Dª Maria como era tratada por toda a gente de teatro. A Maria Helena inmterpretava o papel de Anália ( com N) estava longe da doçura da irmã, mas era um tormento de sensualidade que transmitia, com toda a naturalidade, à peronagem. As duas irmãs estavam apaixonadas pelo Manuel Maria cujo coração, e não só, oscilava entre uma e outra. Acabou por cair para o lado da Anália, que era bem mais atrevida do que a mais jovem. Recordo uma cena doM.M. convalescente e a Anália levando-lhe à cama um prato de papas. Então o Poeta imortalizou a Cozinheira com um poema inesquecível:
Pr'a que viva a cozinheira
que tão boas papas fez,
Confesso,
que desta vez,
bem me sabe e bem me cheira.
O Papa em sua cadeira
vestindo estolas e capas,
não faz coisas tão guapas.
A cozinheira faz mais.
O Papa faz Cardeais...
e a Cozinheira faz Papas.
também foram estes Amores com Anália que o levaram à prisão do Limoeiro - não me pergunte porquê. Ha uma cena em que o M.M. se chega ao gradão da enchovia, e olhando para fora canta: ( sim, canta, porque a Vida do Bocage foi transformada quase numa Opereta. Mas isso é outra
hitória que referi noutra ocasião.)
Aqui vai o poema:
Nesta prisão
que o Amor Cruel me deu,
O Coração
mais preso está do que eu
. Anália o tem
nas graças o seu olhar.
E desse Bem
nunca o poderei soltar.
Para matar
d'uma vez toda a alegria.
basta roubar
nossa Liberdade,
um dia.
Ai, que saudade
eu tenho, de andar na rua,
Ai, Liberdade...
quem n'a tem chama-lhe sua.
Creio que não se interessará por mais cantigas, e sobre o seu Tio/Avô pouco mais poderei dizer. Creio, mas não posso garantir que o Tarquínio Vieira, interpretava o mesmo papel na versão espanhola que se chamava "Las Três Gracias" e o Bocage era interpretado pelo actor espanhol, Alfredo Mayo. Quanto a fotografias, acabo de ter, agora mesmo O5.00 H. uma ideia que talvez resulte. O Realizador da TV Pedro Martins, era filho do João Martins, um grande Fotógrafo que foi também "fotógrafo de cena" de vários filmes nas décadas de 30/40. Talvez no espólio do Pai, o Pedro possa encontrar fotos do seu Tio/Avô Tarquinio. Pode dizer ao Pedro que fui eu que o indiquei. Esta prosa, afinal é mais uma carta "aberta" à saudade, do que um comentário a um blogue. Paciência, e já agora, que o "mal" está feito, aqui vai para si, José, um grande abraço, com os desejos de que estas longas, quiçá fastidiosas linhas lhe tenham, de algum modo, sido úteis.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

O meu reconhecimento e agradecimento por partilhar, de forma tão generosa, do seu rico "arquivo".
Desconhecia, por exemplo, que o Tarquínio Vieira também terá participado na versão "espanhola".
As suas informações e as cantigas, também contadas pelo meu amigo (desculpe o atrevimento), são muito enriquecedoras.
Mais uma vez, o meu muito obrigado

José Sousa Vieira

11:39 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Feliz memória.
Continue a relembrar histórias e estórias que tanto nos enriquecem e encantam.

12:02 da manhã  

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