sábado, dezembro 09, 2006

Preito a Humberto d’ Ávila


Acabo de ler a notícia do falecimento do Comendador Humberto d’ Ávila. Encontrámo-nos pela última vez há cinquenta e oito anos, 1948. em circunstâncias inesquecíveis, que recordo agora através destes:
(excertos do blog " Círculo de Cinema" postado em Julho de 2005)


(...). . . então qual era a nossa actividade? Revelar BOM CINEMA. Chamávamos a nós filmes já passados no Circuito Comercial, que mereciam nova visão. Fazia-se uma resenha crítica (..) falava-se do realizador, do argumento, enfim, do filme como integrante de uma dada "escola" cinematográfica. Imprimíamos um Boletim com essas notas críticas, incluíamos um questionário (..) juntávamos bilhetes e enviávamos para os nossos DOIS MIL sócios. Cada filme era exibido duas vezes em dois Domingos de manhã no Cinema Capitólio.(...) se a PVDE fosse àquelas matinés e levasse os espectadores, acabaria com o MUD. “(..) cito de memória, entre outros: Professores Bento de Jesus Caraça e Falcão Trigoso. Mestre Abel Manta. Maestro Lopes Graça ,Escritor José Gomes Ferreira, e dois estudantes: João Abel Manta e Mário Soares. Trouxemos de novo a exibição filmes como "A Estrada que Conduz ao Céu" . "Roma Cidade Aberta". "A Batalha do Rail". "La Belle et la Bette", e um extraordinário "Western" ( três dias no Olímpia.) Depois da passagem pelo Capitólio, o Cinema Tivoli relançou-o e exibiu-o durante duas semanas. (...) no dia 1 de Fevereiro (...) a PVDE assaltou a casa e levou as pessoas que lá estavam a trocar bilhetes de uma para outra sessão (...) vasculharam a casa em busca de manifestos do dia 31 de Janeiro. .Não encontraram nada mas, mesmo assim levaram toda a gente para Caxias. Durante essa noite foram entrando mais pessoas cujos endereços haviam sido encontrados nos bolsos dos primeiros presos. Entre outros o Crítico de Música Humberto d’ Ávila. (...) a partir do meio da semana, todos os dias era chamado à Polícia um preso dos cerca de vinte iniciais, que já não voltava, teria sido libertado ? ( ..)chegou a vez do Humberto que, ao contrário dos outros voltou já de noite. Quizemos logo saber o que se tinha passado mas ele começou a tirar cuidadosamente a roupa, começando pelo chapéu: um "Bursalino" preto à Diplomata, um sobretudo de bom Corte, camisa com colarinho engomado Enquanto isto, recusou-se a relatar o que se tinha passado: "estou muito cansado. Amanhã conto" Não houve nada a fazer. Na manhã seguinte satisfez a nossa ansiedade: A polícia acusava-nos de exibir filmes comunistas como " Roma Cidade Aberta" "ABatalha do Rail" etc. O Humberto ia rebatendo, afirmando que se tratava de Obras de Arte., e que até a Orquestra da Emissora Nacional, num Concerto dado pouco tempo antes na Estufa Fria, tinha executado uma Obra de Prokovief que era um Compositor soviético. Os polícias ficaram indignados dizendo que não podia ser, que era mentira dele. E pronto, devolveram-no a Caxias enquanto iam investigar o caso É fácil imaginar os trabalhos em que se terá visto a Direcção da Orquestra... Porque era verdade. O Humberto d’Ávila foi libertado dois dias depois. Muitos de nós fomos ficando (...) o resto poderá ser lido no post "Círculo de Cinema", cujo indicativo deixei no início. Pouco tempo depois embarquei para Angola e perdi o contacto com os Amigos durante trinta anos. Mas lia nos jornais o que por cá se passava, incluindo as Críticas aos Concertos e outros eventos musicais. Agora, tudo terminou para o meu Companheiro de Caxias, É do coração que lhe presto esta pobre homenagem, ,mas é o que a minha dificuldade de movimentos me permite. (...) João Silva.

1 Comments:

Blogger a glória do vulgar said...

neta do falcão trigoso, citado no post sobre cinema 'comunista', apetecia-me saber mais...
maria josé ft

8:27 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home