sábado, setembro 01, 2007

O Imóvel, o Contador e os Gavetões



Há muitas espécies de Imóveis, e de “Contadores” , ou pelo menos havia, que eu lembro-me muito bem. Mas estes contadores de que falo, não são os conhecidos da EDP ou da Águas de Portugal, que nos levam os olhos da cara de dois em dois meses, e nos deixam à míngua de uma e de outra coisa, quando as suas facturas não são liquidadas no tempo e na hora por “Elas” determinados, seja por esquecimento ou outro motivo de força maior: falta de liquidez,

Não, Os contadores a que me refiro, não sendo também”contadores de estórias”, podem (podiam) ser repositórios de dramas, comédias, risos e lágrimas, enfim das memórias de famílias inteiras que, às suas inúmeras e estreitas gavetas as tivessem confiado

Dito assim, pode deduzir-se que se tratará de um móvel. É verdade. Um móvel maciço semelhante a uma cómoda, assente sobre pés que o elevam até, mais ou menos, à cintura de uma pessoa.

A partir daí “desfaz -.se” em pequenas gavetas até à altura conveniente. Destinado em princípio a arquivo contabilístico, tomaria mais tarde, o nome dos seus utilizadores.

Construídos em madeiras nobres, ostentavam preciosos trabalhos em talha.

Hoje poderão ver-se apenas em Museus, em Palácios .Nacionais ou temo dizê-lo, nalgum Palacete de Pato Bravo, guardando de novo coisas impessoais, recibos, facturas, promissórias, enfim retornado à sua burocrática condição original.

E do Imóvel, e no Imóvel ?

De que é feito ? Não de madeiras nobres: mas de cimento, ferro e mau gosto. Todavia qualquer coisa os assemelha: a forma rectangular, na maioria dos casos desmesuradamente grande, e a monótona profusão de “gavetinhas”.

Somente, estas minúsculas janelas – porque janelas são ou pretendem ser - não diferem das gavetas dos Contadores, nem (vistas à distância ) nas dimensões, nem na função. São “nichos” de arrumação. De papeis, objectos indiferenciados, quiçá uma ou outra jóia no Móvel. No Imóvel: gente, pessoas, famílias que o gigantismo do edifício torna indiferenciadas e pior do que isso indiferentes umas às outras.

Se for possível colocar lado a lado um e outro, assim farei, para confirmar perante mim próprio, a justeza da minha avaliação.


E que dizer do conteúdo destas “gavetas”? Qual será o efeito delas na saúde física e mental de pessoas que ali se “arrecadaram ontem à noite” esgotadas de corpo e de nervos depois de conduzir uma batalha de uma ou mais horas, contra outros congéneres, eles também ocupantes de outras gavetas, e tão esgotadas como eles próprios, para tudo voltar a repetir-se “hoje e sempre” até que o virtual esquife em, que se encaixaram, eventualmente os transporte até aos “gavetões” do muro do Alto de São João, para novo e definitivo poiso.

Tudo o que vem escrito parece indiciar um triste ocupante de “gavetas”. Tal não se verifica, nem se verificará nunca.

. Considero-me um privilegiado. Nem a clausura dos “gavetões” eu conhecerei:

As cinzas dos meus ossos vogarão pelos Céus de uma eterna Primavera, leves e finalmente Livres.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Caro João Silva,
Chamo-me Margarida Cardoso e sou realizadora de cinema. Ando há algum tempo à volta da ideia de fazer alguma com ( ou sobre ) a Baia dos Tigres.
Foi aliás a Baia dos Tigres que me fez encontrar o seu blog. Depois começei a ler tudo... Gostei muito e diverti-me também por reconhecer alguma coisas das andanças do cinema.

Queria só perguntar-lhe se o que filmou naquela zona da Baía dos Tigres, Porto Alexandre,etc, foi para a Telecine e se esse material poderá ser visionado no ANIM ( se esse arquivo já estiver pronto...).
Provavelmente filmou nessa zona muitas vezes e com propósítos diferentes. Onde andará esse material?
Obrigado pela sua atenção.

o meu mail é:
margaridacardoso24@clix.pt

Mais uma coisa, também estou interessada na história do "profeta" Simão Toko que foi faroleiro nessa zona (Farol da Ponta Albina) por imposição do estado português e foi depois tranferido para São Miguel. Sabe alguma mais sobre isso? Mais uma vez um abraço.

5:41 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Cara Amiga Margarida: Começando pelo fim, Não conheci Simão Toco mas sim vários dos seus discipulo que cheguei a trazer do Norte para Luanda, creio que tubercolosos. eram homens e mulheres gente trajando de branco e silemciosa duramntem toda a viagem. Creio que nessda altuta já o "profeta" teria sido levado fde Angola (década fde 50)
Baía dos Tigres, Porto Alezxandre, Moçâmedes, ets. filçmei várias vezes para documentários versando os mais diversos aspectos, sobretudo assuntos ligados ao mar e ao Deserto. Claro que a pesca e a indústria dew farinhas e óleos de peixe foram exaustivamente tratados.
Quanto à localisação Durante as décadas de 50'/60 trtabalhei para dois produtores independenters, Ricarod Malheiro e Felipe Solm que reservavam a propriedade dpos negativos que eram trabalhados no Laboratório de Aquilino Mendes
Posteiormente trabalhei directamente para po Centro de Informação e Turismo -CITA- a quem passavam a,pertencer os negativos. pos negativos. Indluindo as "Actualidades de Angola" ntre 1957 e 1965 se não erro. A partir desta data passei a fazer documetários em 16 mm. a cores para o CITA e Agência do «Ultramar que se destinavam à Televisão di«rr esres Actualifddrsvfde Angol e rema Montados p+or Noémia Delgado. Versavam aspectos propagandisticos, de Terras, Indústria, ETC. Nunca cheguei a ver nenhum das largas dezenas que filmei, porque entregva o negativo em imagem latente e só em Lisboa era revelado.
Sei, porque já lá estive, que alguns pelo menos os de 35mm,estão no no INAM,(é assim que se escreve?)
Poswsuo uma lista tão completa quanto +possível dos títulos, creio que com mais de setenta. Voiu procurá-l e depois de receber a sua resposta, terei muito godto em enviar-lhe uma cópia. Não o faço j já porque estou aescrever-lhe de ds madrugada loo apoóz ter lido o dseu comentário. Muitpo boa noite e disponha sempre
A "DESPROPÓSITO". .
tenho um grnde desejo: voltar a ver um Estúdio por dentro e assistir a algumas filmagens, agora ao noventa anos para "voltar" a ver o que não vejo há sessenta anos..
Obrigado, Boa Nooite.

1:12 da manhã  

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