quinta-feira, setembro 06, 2007

uma boa tourada em algés

UMA BOA TOURADA EM ALGÉS

Lisboa 1945

Num dia de intervalo nas filmagens de “Ladrão precisa-se.”, o Zé Felipe e eu mais as respectivas namoradas, uma delas ainda aqui ao lado, resolvemos ir assistir a uma Tourada – que não era de modo nenhum o espectáculo da nossa preferência - mas enfim, namoro é namoro, e naquele tempo todos os pretextos eram bem vindos – e lá fomos, até com o aliciante de ver actuar um tal Gregório Garcia , mexicano suponho, e muito mau toureiro, no dizer dos aficionados, mas que o povo adorava porque era corajoso até ao disparate de se “deixar” colher várias vezes por corrida.

Nesta tarde, actuava também o Cavaleiro Alberto Luís Lopes, filho de António Luís Lopes, famoso Cavaleiro e, que mais famoso ficou

depois de interpretar o personagem de Marquez de Marialva no filme “Severa” de Leitão de Barros.

Parece que tão mal ia, e tão mal falava, que na altura, num dos teatros do Parque Mayer, os actores Raul de Carvalho, Barroso Lopes e Assis Pacheco do Teatro Dª Maria, numa incursão anti-crise ao Teatro de Revista, representavam uma “cegada”, onde cantavam versos todos eles dirigidos, à “Severa”.

Quanto ao Marquez de Marialva, rezavam assim:
“ Do São Luís, lá na sala
há um artista que estraga
as cenas todas quando fala.
E no almoço do Sr. Leitão,
esperaram por ele em vão
e alguém disse num alvoroço:
“Se ele vem estraga o almoço”

Mas, voltando à Tourada de Algés; as actuações do Cavaleiro não estavam agradando a ninguém. Diziam uns: “é do toiro que não investe!”
Diziam outros “é do cavaleiro que não “se chega”
Assim se estabeleceu um diálogo entre um espectador do “Galinheiro” e outro da Barreira, de Chapéu à Mazantine e tudo.
A Praça tinha umas condições acústicas excelentes e toda a gente ficou em suspenso ouvindo os dois antagonistas:
- dizia o do Galinheiro, lá no cima da Praça, (lugares em pé) empoleirado na varanda:
- “ Você não vê mesmo que o toiro não investe?”
E o outro invectivando o Cavaleiro: “chega-te ao toiro!
“Cita mais curto! O que tu tens é medo!”
A Praça continuava em silêncio suspensa deste diálogo.
E o do Galinheiro, em tom trazido lá do Bairro:
- “ Vá lá “bocê” já que não tem medo!”
Diz o de chapéu Mazantine:
- “Eu se lá vou, até pego no touro ao colo”!
E o do Galinheiro, pronunciando à moda do Bairro, espremendo as palavras com a ponta dos lábios:
“ Seu "melandro". Você não bai lá nem vestido de MURGUELHADOR!”!!”

Foi uma estrondosa gargalhada e uma ovação da Praça em peso.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

o senhor é um estectáculo e as suas histórias uma delícia. Tenho pena de não ler o post acima mas no meu pc a esquerda está cortada, como já lhe disse... e olhe nao fica bem cortar ainda mais a esquerda..
até logoe um abraço do rogerio

11:38 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Pa boa escritora deus te abencie

10:03 da tarde  

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