A Mandioqueira
A MANDIOQUEIRA
Fazenda Srª Eulália, 27/Outubro/1965
Aquela pobre árvore…( descubro agora, quarenta e dois anos depois, que mandioqueira é uma pequena cultivadora de mandioca, que “Mandioca” é um arbusto
- manibot esculenta do grupo das euforbiáceas – e que portanto, "mandioqueira" como designação de arbusto – e muito menos de árvore – simplesmente não existe, segundo reza o Dicionário da Língua Portuguesa HOUAISS..
Tudo muito correcto, muito erudito.
Mas a linguagem erudita, como a científica tem em exactidão, em rigor, o que lhe falta em “coisa viva”. É incapaz de transmitir calor humano, ternura; e é de ternura que se fala.
Imaginemos que o iniciava assim:“aquela pobre manibot esculenta gentia que…”? Não, o que se passou foi com:
Aquela pobre árvore gentia que em tempos trouxera de longe sobre a velha lona do jeep, e com todo o carinho plantara.Essa pobre Mandioqueira parecia ter um destino igual ao meu.
Sempre que o vento sopra mais forte, a trovoada e a chuva desabam furiosamente sobre a pobre, torcem partem destroem tudo à sua pasagem. Os braços mais altos erguidos ao Céu, são as primeiras e indefesas vítimas.
Foi o que mais uma vez aconteceu. Não vi. Estava para Luanda, mas a luta deve ter sido medonha e cruel, quase como entre os homens: de um lado um elemento poderoso e implacável descarregando, toda a sua fúria, todos os golpes, sobre uma vítima inocente e frágil sem capacidade de defesa, mas com coragem para resistir e sobreviver.
Quando regressei não queria acreditar no que via.
Os ramos mais fortes e mais altos, a cuja sombra tantas vezes me abrigara, jaziam por terra. .
.Tragicamente separados da Mãe, os restos ainda verdes dos ramos e rebentos mais novos que se preparavam para seguir os mais velhos,também eles, recobriam o chão.
A fúria do vendaval tudo arrasara e destruíra.
Dos membros amputados, a seiva branca. leitosa corria como lágrimas do um corpo cansado de repetidas lutas pela sobrevivência.
Era um tronco rugoso, rude e retorcido que ajudarei a retornar à vida, livrando-o de alguns ramos inúteis que lhe roubariam a seiva vital, protegendo as cicatrizes contra o ataque de parasitas que lhe dariam o golpe final..
Depois esperarei que a minha MANDIOQUEIRA arribe, cresça
volte a dar-me abrigo na sua sombra generosa .
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Fazenda Srª Eulália, 27/Outubro/1965
Aquela pobre árvore…( descubro agora, quarenta e dois anos depois, que mandioqueira é uma pequena cultivadora de mandioca, que “Mandioca” é um arbusto
- manibot esculenta do grupo das euforbiáceas – e que portanto, "mandioqueira" como designação de arbusto – e muito menos de árvore – simplesmente não existe, segundo reza o Dicionário da Língua Portuguesa HOUAISS..
Tudo muito correcto, muito erudito.
Mas a linguagem erudita, como a científica tem em exactidão, em rigor, o que lhe falta em “coisa viva”. É incapaz de transmitir calor humano, ternura; e é de ternura que se fala.
Imaginemos que o iniciava assim:“aquela pobre manibot esculenta gentia que…”? Não, o que se passou foi com:
Aquela pobre árvore gentia que em tempos trouxera de longe sobre a velha lona do jeep, e com todo o carinho plantara.Essa pobre Mandioqueira parecia ter um destino igual ao meu.
Sempre que o vento sopra mais forte, a trovoada e a chuva desabam furiosamente sobre a pobre, torcem partem destroem tudo à sua pasagem. Os braços mais altos erguidos ao Céu, são as primeiras e indefesas vítimas.
Foi o que mais uma vez aconteceu. Não vi. Estava para Luanda, mas a luta deve ter sido medonha e cruel, quase como entre os homens: de um lado um elemento poderoso e implacável descarregando, toda a sua fúria, todos os golpes, sobre uma vítima inocente e frágil sem capacidade de defesa, mas com coragem para resistir e sobreviver.
Quando regressei não queria acreditar no que via.
Os ramos mais fortes e mais altos, a cuja sombra tantas vezes me abrigara, jaziam por terra. .
.Tragicamente separados da Mãe, os restos ainda verdes dos ramos e rebentos mais novos que se preparavam para seguir os mais velhos,também eles, recobriam o chão.
A fúria do vendaval tudo arrasara e destruíra.
Dos membros amputados, a seiva branca. leitosa corria como lágrimas do um corpo cansado de repetidas lutas pela sobrevivência.
Era um tronco rugoso, rude e retorcido que ajudarei a retornar à vida, livrando-o de alguns ramos inúteis que lhe roubariam a seiva vital, protegendo as cicatrizes contra o ataque de parasitas que lhe dariam o golpe final..
Depois esperarei que a minha MANDIOQUEIRA arribe, cresça
volte a dar-me abrigo na sua sombra generosa .
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