Uma vacada na Feira Popular
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UMA VACADA NA FEIRA POPULAR
MELHOR DO QUE UMA “BOA” TOURADA EM ALGÉS
. . . pelo menos, estas não faziam sangue no “cornupto”, apenas nódoas negras nos tontinhos que plenos de coragem etílico/ilusória, se atreviam a entrar em Praça para enfrentar uma vaca que estava farta daquela “fiesta”
em que actuava vezes sem conta, noite após noite durante o verão.
Eram pois estas vacas licenciadas em marrada, e nem precisavam de se empregar a fundo; bastava uma corridinha para apanhar dois ou três “diestros canhestros” que se retiravam coxeando e sacudindo a poeira
ao som das gargalhadas e da troça que, quando dirigidas a outros, o incitaram a entrar, “só para ver”. .
Mas a fermentação de cevada, lúpulo, etc. depressa transformava um anónimo espectador num “Manolete” de pacotilha, e era vê-lo em mangas de camisa, já de fralda de fora, com o pobre e mal tratado casaco servindo de capa e, quantas vezes levado “para dentro” nos corno da vaca
que, ansiosa por regressar a casa, mal abriam a porta do curro, enfiava por ela, com casco e tudo.
Recordo-me de dois episódios de desfechos completamente diferentes, mas que tiveram o condão de .levantar a Praça em peso,
O primeiro durou uma “eternidade de segundos” enquanto um infeliz derrubado várias vezes pela vaca que já estava formada pelas várias noites de “aulas práticas”, desatou a fugir desesperadamente procurando um refúgio salvador. Topando com uma porta enfiou por ela dentro seguido da “doma da casa”
A Praça veio abaixo com a “visão” do que se estaria a passar na “casa da vaca”
O outro episódio aconteceu em noite de Praça esgotada por várias vezes, e em que ficou bem patente o espírito, o senso de humor da”gente do Povo”
Nessa noite, a “estrela” era uma vaca vigorosa e brava e a quem um grupo de tontinhos já bem bebidos tentava pegar de caras.,, mas a vaca não
colaborava e a arena estava sempre pejada de “tontinhos jacentes” ou viajando pelos ares a caminho da areia do chão.
O povo delirava, gritava ,incitava os candidatos a forcados.
De súbito entra na arena um rapaz muito bem vestido, de casaco acertuado e gravata. Era uma figura elegante,, alto e delgado e entrou em praça já com a pose de pegador: passo lento, barriga espetada para fora, enfim com toda a pose de um “cabo da cara”, só faltava o barrete.
“ Se hizo un silêncio de muerte” enquanto “ele” avançava lenta, e solene na direcção da vaca.
Foi então que, quebrando aquele pesado silêncio, uma voz trémula e chorosa se ouve em toda a praça ; “ Deus Noss’enhor t’ajuuuude!!!...”
E, contra todas as expectativas, quando se esperava ver o rapazinho seguir o percurso dos seus antecessores, eis que ele faz uma pega de grande categoria e espectáculo. Bem “embarbelado” suportou o primeiro “derrote” da agora pobre vaca que ficou em breve coberta de ajudas espontâneos, alguns saltando “corajosamente” da segurança da bancada onde se -ºapressaram a regressar antes que fosse solta a nova vaca que viesse vingar a brava mas extenuada companheira.
E o espontâneo e heróico “forcado” foi “Sacado em Ombros”. no meio dos frenéticos aplausos daquele “bom povo português” que, a pesar dos pesares nunca perdeu o senso de humor.
Valha-nos isso! .
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