IZARELLE
Francesco Izarelle se chamava, italiano como se depreende
Era Operador de Imagem e veio de Espanha onde trabalhara alguns anos, e era um homem tímido, coisa rara entre a gente da profissão, dava a ideia de que pedia licença para viver.
Fugira da Itália fascista e a partir daí trabalhara sucessivamente em França, Norte de África e finalmente Espanha..
Da sua prolongada convivência com três povos, três idiomas diferentes, “apurara” um idioma híbrido muito confuso, por vezes cómico que crismámos de “Izarellino”
Fizemos três filmes juntos:” Fado”. de Perdigão Queiroga, “Camões” e “Vendaval Maravilhoso, estes dois últimos de Leitão de Barros, ele director de fotografia, eu 2º operador.
Porque nós, habituados a lidar com outros técnicos de origem francesa ou espanhola, entendíamos o seu “izarelino”, convenceu-se de que falava português.
Deste convencimento nasceram alguns episódios picarescos que de certa forma aliviavam o ambiente por vezes pesado dos filmes de Leitão de Barros.
Aqui vão alguns de que me não esqueci
No Estúdio da Tobis, as pontes para os projectores., eram de montagem rápida e por isso frágeis, os electricistas quase se não podiam mover durante os escassos segundos que durava a filmagem de cada plano.
Se assim não fizessem, os projectores tremeriam fazendo tremer as luzes de cena, e obrigando a “cortar” a filmagem e a repetir o plano que estivesse em rodagem
Num dia em que isso se repetiu mais vezes do que seria razoável , o Realizador exasperado gritou. “CORTA”, o operador de som desligou os microfones., eu “cortei” a câmara, o chefe electricista desligou os projectores, e o Izarelle indignadíssimo gritou:
Houve prejuízo para a Produção, mas deu para descontrair.
Ainda outra peripécia:
Filmavam-se grandes planos do Camões na Batalha de Ceuta recriada dias antes
Os planos referidos foram tomados em Estúdio pelo sistema de “Transparência”.
Num “ecran” translúcido projectavam-se as imagens colhidas em exterior . Em frente, a câmara enquadrava o actor em “ plano médio” (acima da cintura),
No ecran desenrolava-se a “Batalha”.
Criara-se um ambiente dramatico.
Entre a câmara e o ecran, o António Vilar, cabeleira desgrenhada, rosto suado e expressão feroz , envergando um gibão da época, mas… em cuecas, escarranchado numa ripa de madeira com rédeas a sério e crinas de sisal, gritava como um possesso e espadeirava para a esquerda e para a direita
Tudo realmente muito dramático.!...
Frente ao actor, a alguns metros de distancia protegida por uma armação de grade, uma enorme ventoinha faria ondular o cabelo do Camões e as “crinas” da ripa de madeira, que assim “entravam em campo” deixando o "Cavalo Ripa"de fora.
Só que, no momento crucial não houve vento que chegasse ao Camões e lhe fizesse ondular a linda cabeleira ruiva.
Cortes como de costume, pandemónio geral . remontagem da “transparência, coisa complicada e demortada
Busca-se a causa do desastre e encontra-se o velho Apolinário , guarda da noite que de dia gostava de assistir às filmagens.
Estava especado mesmo em frente da ventoinha.
O Izarelle, aquela tímida criatura, explodiu de indignação:
.: “Apolinário! Ponerse delante de la ventoinha essa!
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