POTUGAL – FRANÇA
Algures pelo anos quarenta do Século passado, teve lugar, já me não lembro em que Campo, um encontro de futebol entre Portugal e França que trazia jogadores famosos, mas entre eles o Guarda Redes Da-Ruy era o mais conhecido e falado. Creio que muita gente foi ver o jogo para o ver a ele O administrador da Lisboa Filme, Francisco Quintela,, homem muito dinâmico, quis fazer algo de novo no ramo das “Actualidades” que naquele tempo, de Actualidades só tinham o nome, ..Propôs-se filmar o Desafio, no Domingo à tarde, e estrear na segunda feira à noite. Mobilizou quatro Operadores: Salazar Dinis, homem já consagrado em vários filmes de fundo, Otávio Bobone, também operador mas não consagrado e dois assistentes já com bastante experiência em trabalhos exteriores, O Mário Moreira –já funcionário da Lisboa Filme -e eu próprio,. “free-lancer” embora o termo fosse desconhecido naquele tempo. Assegurado
o concurso dos técnicos, foi altura de começar uma publicidade intensa em tudo o que eram jornais e rádio. Montou uma máquina incrível para a época, com um motociclista que ia levando para o Laboratório as bobines à medida que as acabávamos. A quem
só conhece o inferno do trânsito de hoje pode parecer impossível mas, há sessenta anos
atrás, o estafeta poderia fazer, e fez, esta viagem várias vezes, antes que o jogo acabasse. Por sua vez, o Laboratório ia revelando as bobines, de maneira que ao regressarmos, findo o Jogo e o trabalho, pudessem revelar as últimas e iniciar a cópia de montagem, que ficou pronta já de madrugada De manhã cedo fomos os quatro autores para a sala de projecção ver o trabalho feito. E aqui, vou fazer “flach-bakc ”,não tão flach como isso, para retornar ao Estádio antes do início do Jogo, e falar do Otávio Bobone, afinal o motivo primmeirol deste escrito. O Jogo foi só a paisagem em fundo. É que este operador, com quem qualquer assistente, só aceitava trabalhar, quando as dificuldades apertavam, para além de ser profissionalmente desactualizado, era intriguista - fui vítima, ou por outra, quase vítima disso.- considerava os eventuais
assistentes como seres inferiores que nunca o poderiam igualar. Procurava que não
aprendêssemos nada com ele. Do que, felizmente, Deus nos livrou. Nessa época,
começaram a usar-se fotómetros em vez do “olhómetro” habitual. E ele comprou
um, como aliás todos os outros operadores.. Pois o Bobone quando queria fazer as contas, virava-se de costas, e muito dobrado sobre si próprio, escondia de nós os mistérios, de um livro de instruções que vinha junto com o aparelho que, todos nós,
com maior ou menor sacrifício, ( custava mais de um conto de reis) já tínhamos adquirido.. Traçado um ligeiro esboço da criatura, entremos agora no caminho que nos levará ao fim da narração. Um final com que já contávamos, mas não deixou de ter algo
de inesperado Mas esta é uma história de Cinema; deixem-me pois fazer aqui um
“flash-back”. Antes do início do jogo, reunimo-nos os quatro para nos pormos de acordo quanto aos “filtros” a utilizar, de forma a que a fotografia fosse homogénea, ao mesmo tempo escolher o local que cada um de nós iria ocupar de maneira a cobrirmos
toda a área do campo. Aí o Bobone achou que não devia compartilhar os seus saberes com os outros, e que cada um deveria fazer como entendesse. Assim o Salazar Dinis e nós, os assistentes, acertamos todos os pormenores sobre a fotografia. Quanto aos
lugares que cada um deveria ocupar, de algum modo condicionados pelo tipo e volume das câmaras, demos a primazia da escolha ao Bobone, afinal ele sempre era o mais velho. Ficamos espantados quando ele escolheu um posto ao nível, do terreno, junto à linha lateral, o local menos indicado para um homem gordo e pachorrento, ainda por cima utilizando uma câmara pesada e de difícil manobra.. Findo o jogo que Portugal ganhou por 3 a1. Filmamos três deles Na manhã seguinte fomos para o Laboratório e entramos directamente para a sala de projecção sem esperar pelo Quintela. Iniciou-ser projecção que começou pelo trfabalho do Bobone. Era o quenós esperávamos, para pior. Com os jogadores sempre a deslocar-se em velocidade, afastando-se aproximando-se, não tinha possibilidade de os seguir, nem sequer de os manter focados. Nós não gostávamos do Bobone, mas isto era confrangedor de mais, para nos deixar indiferentes. De súbito, abra-se a porta, e entra o Quintela. Com a obscuridade da sala
não se atreveu a vir até nós e manteve-se junto à porta, em silêncio,até se aperceber do
desastre .Então, de certo pensando que aquilo só poderia ser de um dos assistentes, Clama “ Quem é que fez esta merda?” e ouve-se a resposta dada com toda a tranquilidade. “Fui eu Senhor Quintela.” “Oh, senhor Bobone, eu não sabia.” E, novamente a voz pausada e calma do Bobone: “ Pelo facto de ser meu, não deixa de
ser uma. Merda” De facto não se aproveitou um metro, mas eu...quase gostei do Bobone.
o concurso dos técnicos, foi altura de começar uma publicidade intensa em tudo o que eram jornais e rádio. Montou uma máquina incrível para a época, com um motociclista que ia levando para o Laboratório as bobines à medida que as acabávamos. A quem
só conhece o inferno do trânsito de hoje pode parecer impossível mas, há sessenta anos
atrás, o estafeta poderia fazer, e fez, esta viagem várias vezes, antes que o jogo acabasse. Por sua vez, o Laboratório ia revelando as bobines, de maneira que ao regressarmos, findo o Jogo e o trabalho, pudessem revelar as últimas e iniciar a cópia de montagem, que ficou pronta já de madrugada De manhã cedo fomos os quatro autores para a sala de projecção ver o trabalho feito. E aqui, vou fazer “flach-bakc ”,não tão flach como isso, para retornar ao Estádio antes do início do Jogo, e falar do Otávio Bobone, afinal o motivo primmeirol deste escrito. O Jogo foi só a paisagem em fundo. É que este operador, com quem qualquer assistente, só aceitava trabalhar, quando as dificuldades apertavam, para além de ser profissionalmente desactualizado, era intriguista - fui vítima, ou por outra, quase vítima disso.- considerava os eventuais
assistentes como seres inferiores que nunca o poderiam igualar. Procurava que não
aprendêssemos nada com ele. Do que, felizmente, Deus nos livrou. Nessa época,
começaram a usar-se fotómetros em vez do “olhómetro” habitual. E ele comprou
um, como aliás todos os outros operadores.. Pois o Bobone quando queria fazer as contas, virava-se de costas, e muito dobrado sobre si próprio, escondia de nós os mistérios, de um livro de instruções que vinha junto com o aparelho que, todos nós,
com maior ou menor sacrifício, ( custava mais de um conto de reis) já tínhamos adquirido.. Traçado um ligeiro esboço da criatura, entremos agora no caminho que nos levará ao fim da narração. Um final com que já contávamos, mas não deixou de ter algo
de inesperado Mas esta é uma história de Cinema; deixem-me pois fazer aqui um
“flash-back”. Antes do início do jogo, reunimo-nos os quatro para nos pormos de acordo quanto aos “filtros” a utilizar, de forma a que a fotografia fosse homogénea, ao mesmo tempo escolher o local que cada um de nós iria ocupar de maneira a cobrirmos
toda a área do campo. Aí o Bobone achou que não devia compartilhar os seus saberes com os outros, e que cada um deveria fazer como entendesse. Assim o Salazar Dinis e nós, os assistentes, acertamos todos os pormenores sobre a fotografia. Quanto aos
lugares que cada um deveria ocupar, de algum modo condicionados pelo tipo e volume das câmaras, demos a primazia da escolha ao Bobone, afinal ele sempre era o mais velho. Ficamos espantados quando ele escolheu um posto ao nível, do terreno, junto à linha lateral, o local menos indicado para um homem gordo e pachorrento, ainda por cima utilizando uma câmara pesada e de difícil manobra.. Findo o jogo que Portugal ganhou por 3 a1. Filmamos três deles Na manhã seguinte fomos para o Laboratório e entramos directamente para a sala de projecção sem esperar pelo Quintela. Iniciou-ser projecção que começou pelo trfabalho do Bobone. Era o quenós esperávamos, para pior. Com os jogadores sempre a deslocar-se em velocidade, afastando-se aproximando-se, não tinha possibilidade de os seguir, nem sequer de os manter focados. Nós não gostávamos do Bobone, mas isto era confrangedor de mais, para nos deixar indiferentes. De súbito, abra-se a porta, e entra o Quintela. Com a obscuridade da sala
não se atreveu a vir até nós e manteve-se junto à porta, em silêncio,até se aperceber do
desastre .Então, de certo pensando que aquilo só poderia ser de um dos assistentes, Clama “ Quem é que fez esta merda?” e ouve-se a resposta dada com toda a tranquilidade. “Fui eu Senhor Quintela.” “Oh, senhor Bobone, eu não sabia.” E, novamente a voz pausada e calma do Bobone: “ Pelo facto de ser meu, não deixa de
ser uma. Merda” De facto não se aproveitou um metro, mas eu...quase gostei do Bobone.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home