segunda-feira, julho 25, 2005

ainda o "Vendaval maravilhoso"


No filme de Leitão de Barros, de 1948, houve várias situações inesperadas, chistosas umas, outras nem tanto. Para interpretar as figuras dos Senadores que teriam de vestir fraques, casacas e etc, com à vontade, e encarnar aquelas solenes figuras, contrataram-se actores de Teatro, não só de Lisboa como de teatros itinerantes. No fundo, era uma "figuração especial" que poderia mesmo ter alguma intervenção e dizer algum frases. Entre os oriundos dos teatros de Província vinha um actor com uma boa figura, e que o realisador escolheu para um desses fugazes momentos de Glória. Chamava-se Valério de Rajanto. Tinha um gesticular pomposo e falava, em cena ou fora dela, com uma voz "empostada" que já nem Alves da Cunha usava. Começaram os ensaios do plano a filmar e, à voz de Acção, ele, como lhe era já natural, debitou a sua fala. Leitão de Barros emendou - "Ó senhor Valério de Rajanto, eu prefiro que diga a frase de outra maneira, menos autoritária". E o actor para ele: "Ó José, basta dizeres como queres que eu diga, e eu digo". E o Leitão de Barros, com uma suspeita paciência que lhe não conheciamos, manda repetir o ensaio. E o actor repetiu a frase exactamente como no ensaio anterior. Então o Leitão de Barros diz, acentuando bem o nome: "Ó senhor Valério de Rajanto, não era bem assim, era menos....( )." e o outro "Ó José, podes estar à vontade, se queres de outra maneira, não tens mais do que dizer. Há mil maneiras de dizer uma frase, e eu sei-as todas". E assim continuou o duelo entre o "Ò Senhor Valério de Rajanto", e o "Ó José", que devia pôr o figado verde ao realisador. E aquilo repetiu-se um ror de vezes e a frase saía sempre igual à primeira. Já estavamos todos com pena do homem, sujeito àquela situação ridícula perante a equipa e os outros actores e figurantes, quando finalmente Leitão de Barros põe uma expressão de derrota, faz uma pausa dramática e diz numa voz lamentosa: "Bem... vamos filmar mesmo assim". Não sei como terá ficado por dentro o senhor Valério de Rajanto, mas ninguém gostou de ver.