Deportação
A 23 de Setembro embarcámos no "Carvalho Araújo" rumo a Angra do Heroísmo. O Navio parou em frente a Algés para nos receber, e fomos cerca de 60 presos que saímos da Trafaria num rebocador escoltados pela PSP e por agentes da PVDE. Subimos a bordo, e fomos sendo chamados por ordem alfabética e descendo para o porão pela escada "quebra-costas". Assim se fez a entrega dos presos ao Imediato do Navio. Quando já íamos os últimos três ou quatro a entrar para a do porão, um dos polícias teve a infeliz ideia de dizer ao Imediato: "Estes homens não saem do porão até chegarem ao destino". - O que tu foste dizer! Dar ordens ao Oficial a bordo do "seu Navio"? Resposta do Imediato: "Aqui a bordo há duas pessoas que mandam, o senhor Comandante e eu!" E virando-se para nós disse:" Os senhores podem subir e têm livre trânsito na 3ª Classe". E novamente para os polícias: "Os senhores façam favor de desembarcar que o navio vai largar". Para nós foi uma dupla alegria, pelo vexame dos esbirros e pela nossa "LIBERDADE"!
A bordo viajavam também uns Guarda-Republicanos comandados por um tal Furriel Robalo, que tivemos ocasião de vir a conhecer, infelizmente muito bem. Mas iam sem armas e pareciam mais prisioneiros do que nós. Na véspera da chegada à Madeira foi uma delegação nossa, de que só me lembro do camarada Afonso Pereira, ferroviário e conhecido do meu Pai, pedir ao Comandante que durante a estadia no Funchal nos deixasse permanecer no "castelo da proa" pois seria horrível permanecer no porão durante tantas horas com o calor que fazia com o navio fundeado e, principalmente, sem ver o Funchal. O Comandante exigiu que todos déssemos a palavra de honra em como não tentaríamos evadir-nos enquanto o navio estivesse fundeado. Foi essa condição que os delegados nos vieram transmitir e pedir uma declaração nominal perante eles, delegados, que a transmitiriam ao Comandante. Foi aí que um grande homem se mostrou. Um pescador do Samouco, o camarada Gabriel Pedro. "Eu já estou preso há muito tempo e sempre procurarei fugir, em qualquer circunstância". (O Gabriel Pedro já tinha sido "quase" deportado uns anos, mas quando o navio que o levava cruzava a Barra do Tejo, e não poderia parar, lançou-se da ré para o mar onde outros pescadores o recolheram). Os camaradas voltaram ao Comandante com a resposta, e ele então pediu que lhe levassem o Gabriel. Segundo o Afonso Pereira, o comandante cumprimentou-o pela sua honestidade e coragem e... "prendeu-o" no seu próprio Camarote durante as horas que permanecemos no Funchal. Também durante esse tempo estiveram dois guardas armados no convés junto das escadas de acesso ao Castelo de Proa. A viagem durou cinco dias até Angra do Heroísmo. Foram cinco dias de "LIBERDADE", mas infelizmente para alguns foram os últimos. Foram morrer no Tarrafal.
A bordo viajavam também uns Guarda-Republicanos comandados por um tal Furriel Robalo, que tivemos ocasião de vir a conhecer, infelizmente muito bem. Mas iam sem armas e pareciam mais prisioneiros do que nós. Na véspera da chegada à Madeira foi uma delegação nossa, de que só me lembro do camarada Afonso Pereira, ferroviário e conhecido do meu Pai, pedir ao Comandante que durante a estadia no Funchal nos deixasse permanecer no "castelo da proa" pois seria horrível permanecer no porão durante tantas horas com o calor que fazia com o navio fundeado e, principalmente, sem ver o Funchal. O Comandante exigiu que todos déssemos a palavra de honra em como não tentaríamos evadir-nos enquanto o navio estivesse fundeado. Foi essa condição que os delegados nos vieram transmitir e pedir uma declaração nominal perante eles, delegados, que a transmitiriam ao Comandante. Foi aí que um grande homem se mostrou. Um pescador do Samouco, o camarada Gabriel Pedro. "Eu já estou preso há muito tempo e sempre procurarei fugir, em qualquer circunstância". (O Gabriel Pedro já tinha sido "quase" deportado uns anos, mas quando o navio que o levava cruzava a Barra do Tejo, e não poderia parar, lançou-se da ré para o mar onde outros pescadores o recolheram). Os camaradas voltaram ao Comandante com a resposta, e ele então pediu que lhe levassem o Gabriel. Segundo o Afonso Pereira, o comandante cumprimentou-o pela sua honestidade e coragem e... "prendeu-o" no seu próprio Camarote durante as horas que permanecemos no Funchal. Também durante esse tempo estiveram dois guardas armados no convés junto das escadas de acesso ao Castelo de Proa. A viagem durou cinco dias até Angra do Heroísmo. Foram cinco dias de "LIBERDADE", mas infelizmente para alguns foram os últimos. Foram morrer no Tarrafal.
2 Comments:
Parece-me que há aqui um relato de um tempo em que a palavra dos homens ainda valia alguma coisa.
Portugueses ainda hoje injustiçados e de quem a Democracia se esqueceu!
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