sábado, julho 09, 2005

"Roupa ao pêlo"


No filme "A aldeia da roupa branca" de Chianca de Garcia, com Beatriz Costa, que era à partida uma garantia de sucesso de bilheteira, havia dois conflitos paralelos: O das carroças, e o das Bandas de Música, vizinhas e rivais. E, se me é permitido, também houve um erro da casting: O "galã" era o José Amaro, bom actor, mas pouco sorridente e possuidor de uma voz demasiado grave. O "vilão" era o Oscar de Lemos, que era alegre, folgasão por natureza e com um sorriso muito comunicativo. Numa corrida de carroças entre o galã e o vilão, o público acabava a torcer por este. Mas no filme há também duas Bandas rivais, e num arraial muito concorrido, surgem inesperadamente as duas bandas e ambas querem ter acesso ao Coreto. A figuração foi recrutada entre a população saloia das vizinhanças. Lumiar, Caneças, Bucelas, e por aí... E em boa verdade não eram bem figurantes, estavam ali a fazer deles mesmos. A cena passava-se num largo de aldeia, e quando foi da corrida ao Coreto, montou-se um "praticável" alto (uma espécie de andaime), em cima do qual se instalou a câmara e de onde o realisador, o Chianca, abarcava todo o Largo, coreto incluído. Foi detalhadamente explicado aos figurantes que tinham de fingir que estavam zangados e simularem uma cena de pancadaria. Mas aquilo para aquela gente era uma festa, ainda por cima paga à razão de cinco escudos por pessoa. E então foi mesmo uma festa, toda a gente se ria e fingia que batia... Foi um desatre! E já a equipe técnica dava por irrealizável a cena, quando o Perdigão Queiroga e o Oscar Acúrcio, dois cérebros malévulos, resolveram a situação metendo-se no meio do povo. Foram dar instruções para a repetição da cena. E a explicação não podia ser mais clara e eficiente: "Olhe lá, não queremos zaraga a sério aqui, mas parece que você há bocado aleijou aquele ali e ele diz que vai vingar-se. "Qual aquele? Qual aquele?" Depois de devidamente informado, vinha a recomendação: "Não vá para aquele lado..." e lá foram espicaçando alguns figurantes. Tudo devidamente acertado, o Chianca, lá de cima grita: ACÇÃO!!!, e era vê-los a atravessarem o Largo em busca do tal "daquele ali"... Bastou que os dois "intriguistas" tivessem contactado meia dúzia para que se gerasse uma cena de pancadaria em que até se partiram alguns instrumentos da Banda. Logo que se consegiu parar o pandemónio, sai lá do meio o Oscar de Lemos, que por tabela também tinha levado uns sopapos, e grita indignado para o alto do praticável: "Ó Chianca, isto não popde ser. No estrangeiro não se fazem estas cenas com actores, fazem-se com duplos. Ao que, com toda a calma, o Chianca respondeu: "Pois é, mas como nós cá não temos actores, fazemos tudo com os duplos". Foi uma gargalhada geral, e quem mais se riu foi o próprio Oscar.