Roxa xenaider

terça-feira, janeiro 30, 2007

Oh como as noites são belas!

Oh como as noites são belas!
cálidas, acolhedoras.
Deixo-me envolver por elas
e à Luz de infinitas estrelas
num firmamento infinito
sonho um dia vir tê-las
ao alcance da minha mão
para poder protege-las
com a força do coração
da Luz do Sol Criador
disposto a brilhar sozinho,
e como qualquer ditador,
num gesto vil e mesquinho
escurece tudo em redor.
Mas as estrelas infinitas
juntas, irmã com irmã
ofuscam a luz do Sol
...até à nova manhã.
~E tud’volta a ser igual
sob o Infinito do Céu!
E como simples mortal
finito: ...apenas eu!...

Como se desfez uma ilusão

Como se desfez uma ilusão
da mais deliciosa maneira:
ou como o pobre Jacinto
em boa hora, partiu.

Mas isso foi muito mais tarde.
Quando " A " conheci ,era uma moça linda, talvez a mais bonita em todo o Bairo. Tinha dezoito anos. Séria,honesta ao ponto de ser virgem. Estou a ver a reação: " O què, Virgem aos dezoito anos!? Compreendo a estranheza, mesmo a incredulidade. Estamos em 2007.Sosseguem os vossos espíritos cépticos. Isto passou-se vai para mais de sessenta anos.. Pois foi mesmo assim tal qual estou contando que ela casou virgem e ingénua com o Jacinto mais velho dez anos. Foi um casamento que ela julgou, perfeito. Adoravam-se e para ela era Deus no Céu e o Jacinto na Terra E assim viveram completamente felizes (ela assim julgava )até ao dia em que o Jacinto se foi para sempre deixando-a viúva,aos vinte e quatro anos,jurando não mais esquecer o Jacinto, "o melhor homem à face da Terra" (dizia ela).Afirmava que nunca mais casaria.., Que a lembrança do seu Jacinto jamais morreria nela. Confidenciou mesmo às amigas mais chegadas que nunca seria capaz de se deitar com outro. E,confessou, corando:"nenhum" homem me daria o prazer que o meu Jacinto me dava".
Continuava tão bela como aos dezoito anos mas agora ostentando toda a pujança de mulher feita:, e muito bem feita!. Surgiram logo vários pretendentes todos cheios das melhores intenções e também das "piores", por ventura as mais tentadoras.E ela a todos recusou afirmando que iria morrer viuva, com a memória do seu Jacinto. Mas o destino dela não era esse,(embora ela o não soubesse). Um rapaz do Bairro, mais velho do que ela, andaria pelos trinta anos,também,felizmente viuvo inconsolável teve o condão de a comover. Falaram dos seus entes queridos, choraram juntos, conheceram-se melhor e por fim ela venceu - com a ajuda dele as suas mágoas, ele minorou as dele - com o auxílio dela - e, fatalmente, casaram. Foram passar a Lua de Mel â Madeira, que ao tempo era um jardim e, não do Jardim. E chegou a temida e desejada noite de núpcias. Antes de se recolher ao tálamo conjugal,teve uma hesitação e pediu ao, agora seu marido: "olha querido. Deixa-me ir ali à janela,rezar uma oração ao me... ao Jacinto" - "Mau, mau". pensou ele, mas não quis estragar a noite que a langerie transparente dela prometia. "Está bem,vai lá",e "in mente": deixa lá que esse Jacinto nunca mais vai por os ossos cá em casa". Ela foi, rezou, fechou a janela e deitou-se meia trémula junto do seu novo marido de trinta experientes anos. Realizaram então a figura jurídica, dita "Consumação do Casamento". Pausa;,repouso, e eis que ela se levanta e pede: "querido, deixa-me ir novamente ali à janela" - "Mau,mau”pensou ele de novo. Mas filosoficamente admitiu: "sempre descanso uns segundos –que bem preciso" E ela lá foi, abriu a janela de rompante e erguendo para o Céu,com impúdica altivez, a exuberante beleza dos seus seios nús, clama: Qh!Jacinto.Vai barda mééérda!!!...

terça-feira, janeiro 16, 2007

AS MEDIDAS DO BÉBÉ



Altura ---1,80
Peso ----- 90 kº
(( à nascença))
Acabo de ver na TV uma reportagem no Jardim Zoológico de Lisboa sobre o nascimento de um bébé girafa com as medidas que indico acima . Pobre mãe girafa!. Mas sirva-lhe de consolo saber que guardou no seu ventre durante catorze meses um bèbé excepcional, pois normalmente têm à nascença menos de um metro e setenta. É uma "angolensis", porque se tivesse nascido filha de um "camelopardalis", poderia ser objecto de maledicência. Alguém poderia estranhar e querer saber qual o contributo do "camelo e do pardal para tão feliz evento. Mas eu prefiro a girafa "angolensis" a pesar de me ter visto "grego" para filmar girafas no Sul de Angola, mais precisamente na região do Luiana e no Leone, grandes extensões de mata de savana, com zonas quase desprovidas de árvores. Andámos muitos quilómetros de jeep, eu e o meu inestimável assistente Zé António. Ia connosco o Chefe de Posto daquela zona não só para nos indicar os prováveis locais onde as poderíamos encontrar, como para guiar-nos na volta. Não havia caminho algum traçado e, a corta-mato, ou se conhece bem a região ou é melhor ficar em casa. Vimos a primeira girafa, um magnífico exemplar, na orla da mata, a menos de cinquenta metros de nós. Avançámos com todo o cuidado, com o jeep a aproximar-se muito lentamente, até encurtar a distância para metade, Tendo o cuidado de não fazer o menor movimento nem ruído para além do do motor, que por ser sempre igual, sem altos e baixos não perturbava a tranquilidade do grande macho. Só que, por estar junto das primeiras árvores da mata, guardar uma imobilidade de estátua, e usar um excelente "camuflado", dificilmente se poderia ver no filme. Era preciso obrigá-la a mover-se, a descolar-se das árvores sem a espantar para que se não refugiasse na mata e teria sido trabalho perdido. Então, colocado numa posição cómoda, com a câmara apoiada e firme, esperei que o Chefe de Posto saísse muito lentamente do carro e se aproximasse até à "distância de segurança" por ela determinada. Mas estava tão calma que a dada altura, de cima do jeep, vj o homem "entrar em campo" com a girafa em fundo. Era um bom plano, uma boa imagem que não quis perder.. O nosso Amigo então parou, e ficaram olhando-se calmos Comecei a filmar e foi o ruído da câmara que a fez mexer e começar a andar,mas sem correr,felizmente para nós,. Foi um bom o plano, mas pobre; porque voltar para Luanda só com uma girafa filmada seria uma vergonha. Voltámos a procurar mais girafas, durante dois ou três dias, porque tínhamos recebido a informação da presença na zona de um grupo de sete ou oito. Levou-nos muitas horas de procura, mas finalmente tivemos o prémio do nosso esforço da, paciencia e...dores nos rins Não nos deixaram aproximar e meteram-se numa pequena mata, com toda a tranquilidade e lá foram tasquinhando os rebentos mais altos. de algumas árvores -, - as eleitas.- Como não era possível entrar com o jeep na mata,. achámos que teria de ser a pé., Seriam precisos cuidados redobrados, pois se ouvissem o menor ruído não catalogado era certo e sabido que se punham em fuga.. Mas nós tivemos o máximo cuidado, e como o vento corria de lá para cá, chegámos ao ponto queríamos. Quando pus o polegar no botão, vejo uma zebra...que também me viu a mim. Foi a debandada, as girafas nem souberam porquê, mas confiaram na zebra. E eu, depois de todo o esforço que fizéramos, fiquei com uns segundos de girafas paradas e outros tantos de rabos em fuga. Eu tenho pouca sorte com as zebras: Cerca de vinte anos antes, no Deserto de Moçâmedes, filmava num jeep uma manada de zebras numa velocidade maluca e pelos piores sítios que elas escolhiam e que para zebra são como alamedas .E o jeep virou, e a filmagem acabou. . Mas devo ser justo, não foram só as pobres zebras a estragar-me a caçada. Procurava filmar alguns elefantes no Sul de Angola, e a sorte não me sorria. Até que um dia, finalmente a sorte me visitou –isso julgava eu. Vi ao longe dois elefantes entretidos a arrancar folhagem das árvores. O local era bom mas ficava longe. Fui-me aproximando com os cuidados devidos. O vento soprava do lado bom. Os elefantes ouvem mal, por isso poderia chegar bastante perto em segurança.. Simplesmente, próximo, mas guardando respeitosa distância estava um rinoceronte, e essa espécie ouve bastante bem, e o "rino" raspou-se com uma velocidade que se não esperaria de tão corpulenta critura... e atrás foram os elefantes, mesmo sem saber porquê: "se aquele cavou, o melhor será fazermos o mesmo". Mais uma vez não tive sorte. .Mas não posso queixar-me. Outros momentos,- muitos,- me compensaram Só que é mais fácil lembrar os dissabores e considerar normal tudo o que nos corre bem. E ,mais uma vez me recordo do lema do meu Amigo Vasco Santana, perante algo desagradável:" é bom pr’à gente contar mais tarde!"
Somente desta vez não me fico com as más recordações, mas com as boas As girafas eram animais pacíficos, calmos e seguros da sua imunidade. Não passaria pela cabeça de ninguém ir caçar girafas. Isto para além de ser espécie protegida, por Lei e, acima de tudo, pela consciência das pessoas, essa sim, a mais eficiente das Leis.
E agora sou surpreendido,- dolorosamente surpreendido,- pela brutal notícia da irreversível
extinção da respécie. Como é isto possível.? ironicamente lembro-me das flores de papel., o homem substitui-se à Natureza.: as naturais podem acabar mas as de papel persistem.
Nasceu um bébé girafa no Jardim Zooógico de Lisboa. É bom saber que as girafas irão perdurar. Mas tragicamente...em Prisão Perpétua

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Arroz Doce

Quando-Cubango 1967

"O ARROZ DOCE"

O Jornalista Emílio Felipe tomou a iniciativa de formar uma equipe constituída por ele próprio. pelo Fotógrafo Raul Moreira e por mim,Operador de Cinema. O objectivo era a quase ignorada Região do Quando-Cubango no extremo Sudeste de Angola, cerca de 2/3 da superfície de Portugal e confinante com o Iona, "Terras do Fim do Mundo" tão faladas quanto ignoradas. Aliás, alguns anos antes, uma equipa de Geólogos, e Meteorologistas, - seis Sábios - um Fotógrafo, o “Velho” Guimarães, e eu pelo Cinema, voáramos durante dois dias sobre aquela região, numa observação exaustiva fazendo o levantamento por quadrículas a fim de localizar um Vulcão que....não existia. Apenas um "aparelho antigo," no dizer dos Geólogos.
Porém, desta vez iríamos modestamente por terra, e sem levar sábios. Contávamos trazer desta viagem o maior número possível de testemunhos que pela Escrita, pelo Som e pela Imagem, nas vertentes paisagística, animal e, acima de tudo Humana, pudessem contribuir para um melhor conhecimento daquela Região. Para levar a bom termo este processo, seria indispensável a concordância e o apoio material do Governador Geral. Nesse sentido o Emílio apresentou ,ao Coronel Rebocho Vaz, a equipe e o Plano de Trabalho. Este tinha como prioritário o contacto com o Povo Buchiman de que toda e gente falava, mas só "conhecia" pelos "estalidos" da linguagem, e ouvindo dizer que era de baixa estatura, tom de pele amarelada e olhos rasgados como os dos orientais. Esperávamos vir a ter experiências enriquecedoras, e tivé-mo-las. Inesquecíveis. Tanto assim, que as estou recordando quatro décadas passadas. Mas ainda é cedo para falar disso. Por agora esperávamos pelo acordo do Governador Geral que não tardou a chegar.
Começou então, a tarefa de equipar um Jeep Land Rover, e a primeira prioridade era um Emissor-Receptor na frequência da Tropa. Coisa vedada a civis. Foi o primeiro obstáculo, que um telefonema do Coronel Rebocho Vaz aos seus Camaradas logo ultrapassou. Ficou porém, como aviso para um outro que nos esperava: a autorização dos Correios. Aqui começou a parte mais desagradável e difícil da nossa missão: ultrapassar a "Burrocracia" personificada num Chefe de Serviços, um desses sujeitos frustrados que, incapazes de enfrentar e vencer as dificuldades próprias, preferem , criá-las aos outros acoitados atrás das suas secretárias, ou da "barricada" dos guichés. Fomos pois informados por ele de que só o Ministério em Lisboa podia dar a autorização que pretendíamos. Objectámos que enquanto esparávamos por ela, chegariam as chuvas que não dependiam do Ministério. A partir daí a nossa missão tornar-se- ia impossível. Naquela Região não se poderia andar uma dúzia de quilómetros antes do Cacimbo, Junho... .do ano seguinte. Estávamos em fins de Agosto. Mas o homem foi peremptório: "Só Lisboa pode dar a Autorização”. Sugeriu-nos um P 19. Insistimos :"esse aparelho, toda a gente do mato tem, toda a gente ouve incluindo a Unita que já por ali andava". Sem a" autorizaçãosinha", (Óh Eça!) nada
feito." Foi esta barreira , que teve o condão de nos mostrar que a Burocracia não se combate e derrota frontalmente. Tão pouco ao mesmo nível. Tem de ser por "esmagamento" como na luta Greco-Romana, isto é, de cima para baixo, e sem "fair-play." Este foi um período que me custou escrever, mas não passa de uma constatação. Embora a contra gosto não nos restou outra alternativa. Aprendida a lição, subimos até ao Governador Geral que nos entregou um cartão dirigido informalmente ao "Meu Amigo", para entregarmos ao Director Geral dos Correios, um engenheiro cujo nome não consigo lembrar agora, e que o recebeu, leu,hesitou uns segundos e perguntou: "quem é este senhor que assina Camilo?" Ficámos atónitos, mas conseguimos dizer que era o nome próprio do G,G., Camilo Rebocho Vaz. Supomos que assinando,Camilo teria querido assinalar o caracter não oficial do pedido. O engenheiro, tartamudeando umas palavras: "claro" pois o Senhor"... mandou chamar o perempório Chefe dando-lhe instruções sobre como satisfazer a nossa pretenção com a maior urgência. " Sim Senhor, Senhor Director. Com certeza Senhor Engenheiro". E para nós: "os senhores podem, vir buscar o documento amanhã de manhã".(não terá sido capaz de articular .- autorização -) Na manhã seguinte, tão cedo que a repartição se encontrava quase deserta, dirigimo-nos para um gbinete de onde vinha o som do matraquear "gaguejante" de uma máquina de escrever. E lá estava ele, o ex-peremptório Chefe escrevendo com dois afanosos dedos a autorização que, poucas horas antes, teria de ser forçosamente pedida a Lisboa.
Podemos finalmente iniciar a viagem,mas antes de partir, demo-nos o luxo de contratar um "cozinheiro", isto é, ele é que disse que era. E lá partimos e percorremos os 1050 quilómetros que nos separavam de Serpa Pinto (Menongue) Capital do Cuando Cubango, sem grande história se não pensarmos nos buracos da estrada. E foi já em pleno mato, e numa das poucas noites que passamos debaixo de telha, que mandámos o "cozinheiro" preparar arroz de coelho com o trofeu caçado na véspera. O Raul disse-lhe: "olha que eu quero a cabeça". Ao almoço veio o arroz que não estava lá grande coisa mas que quebrava a dieta de enlatados dos dias anteriores. E lá o fomos comendo, e cuspindo os numerosos ossinhos que íamos encontrando.O Raul pediu ao "cozinheiro": "traz-me lá a cabeça" . " Mas a cabeça eu já fiz como o senhor mandou" Horror!... Tínhamos cuspido a cobertura mas comido o recheio. Foi aqui que descobrimos a fraude. Ele era daquela região e por portas travessas, soubera da nossa viagem e...conseguiu boleia para casa. Foi exonerado e o Raul que se jactava de ser bom cozinheiro e de fazer um ARROZ DOCE DIVINO, foi provido do cargo. E como nem tudo é sempre mau nesta vida, perdêramos um "cozinheiro", mas ganhámos uma espécie de guia/intérprete.
Em Serpa Pinto fomos muito bem recebidos pelo Governador do Distrito, Comandante Sousa Machado, pessoa extremamente simpática que nos deu todas as ajudas de que precisámos. Como tivessemos manifestado interesse em ir até Rivungo na margem direita do Cuando, na esquerda ficava a Zâmbia, deu-nos algumas informações úteis mas não nos deixou ir de carro por não achar segura a rota que teríamos de seguir. Assim fomos no avião do Governador.Do que se pssou daí para a frente, já fiz relato em "Luíana."Continuo pois com o "Arroz Doce" do Raul que ele, de vez em quando, esgrimia em defesa das suas opiniões contrárias às nossas. "então se não concordam, não comem Arroz Doce!" .Iniciamos as nossas operações pela região sabendo que mais dia menos dia encntraríamos os Buchimanes, Mucancalas ou Vassequeles. Este último nome é recusado por eles com nojo, porque significa "merda". Mucancalas não sei de onde vem, e Buchimanes vem da expressão inglesa Bushmen," homens da mata". Eles dão a si póprios o nome de N'Kun, que quer dizer "homem", o que não deixa de ter a sua lógica."Escrevi N'kun conforme soa ao ouvido, mas sem o "clic que esta palavra contém". Ouvira repetidas vezes dizer em Luanda: "eles falam por estalidos". Ora segundo aquilo que observámos e ouvimos, pareceu-nos que os clics são palatais, e não palavras em si mesmo. Antes sons que umas palavras possuem e outras não, sendo que uma palavra com clic terá um significado e sem ele, terá outro. Aqui devo esclarecerer que este ponto, não se baseia em qualquer "investigação" que nos transcenderia, mas no que por observação e escuta das gravações, nos pareceu plausível. Mas o curioso é que o clic não precede nem segue a palavra, mas "sai misturado" com ela. Os nossos esforços para os pronuncar(. Aliás, dou-me conta agora que "pronunciar" não será a palavra adequada, posto que se trata apenas de um ruído a que chamamos "clic" como o produzido pelo de um pequeno fecho de mola. Não existem sílabas, não há movimento de lábios. Apenas um som estranho saído da boca de uma pessoa.
Este Povo que comerá "bem" num terço do ano e com certeza passa fome nos outros dois, é senhor de uma inesperada alegria, de uma gargalhada fácil e, ouso dizer, de senso de humor. Como ficará, assim o julgo, comprovado pelo seguinte episódio. Pedi um arco e uma flecha que tentei atirar. O material era rudimentar, rígido o arco e forte o esticador feito de pele torcida, ou de uma qualquer planta. Temendo ficar mal visto, lançando a seta a meia dúzia de metros, retezei o arco com quanta força tinha. Mas em vez de puxar por cima do ombro direito, fi-lo em frente da cara. O aparelho rebentou e eu preguei um valente e doloroso murro no nariz. Foi, como espectáculo, um êxito clamoroso.Os risos as piroetas e os gestos mimando a minha desastrada actuação, obrigaram-me a puxar pelo meu mal tratado senso de humor, a esquecer a dor do meu igualmente mal tratado naríz, e a rir com eles, que já deviam estar à espera do acontecimento. Em todos os nossos posteriores encontros não deixavam de reviver a cena com mais risos e momices.
Mas voltando um pouco atrás: as suas "residências, provisórias, itenerantes"? não têm a menor semelhança com cubatas, sanzalas ou libatas. São digâmos, construídas, por falta de termo mais apropriado, com pequenos troncos com pouco mais de um metro, unidos em cima formando um cone, cuja base é maior ou menor conforme o casal "residente" entender. Recobertos de folhas e capim, formavam uma epécie de "iglus." Para as crianças e "pré adolescentes" cavavam (eu não quero dizer cova) mas um quadrado de terreno, com cerca de 40 centímetros de fundo. Fixavam um tronco em cada ângulo e fomavam um teto do "material de construção" local: folhas e capim. Este teto tinha de altura apenas o suficente para que as crianças podessem rastejar e deitar-se no fundo daquele albergue, cobrindo-se de terra. Tal como os escafandristas que deixam entrar para os fatos de borracha um pouco da água do mar que uma vez aquecida pelo calor do corpo, retribui conservando o corpo quente. Aqui, são as crianças buchimane que, cobrindo-se de terra aquecem-na com o pouco calor dos seus corpos débeis. E a terra Mãe, carinhosa, acalenta o sono dos seus filhos nas frias madrugadas do Cacimbo.Como era o caso. - Acabo de reler o que atrás escrevi e não me sinto muito feliz. Lembra-me - embora não fosse essa a minha ideia - a letra de certas canções de " negregados tempos": . . ." e se à porta ' humildemente' , bate alguém," ( -) . . a alegria da pobreza está nesta grande riqueza de dar e ficar contente," ou o argumento de um
senhor engenheiro que tinha com ele a responsabilidade dos Colonatos, em relação ao do Cunene para não se instalar água corrente nas casas: " então não é mais tradicional as mulheres virem à tardinha com as suas cantarinhas a uma fonte buscar a água e conviver... com as vizinhas." Portanto não irei mexer no relato,. fica mesmo assim. Mas nunca deixaram de me impressionar: estas crianças que se tapavam com terra,. os que se embrulhjavam num "cabriquito, tiritando de frio, ou os que dormiam em esteiras nos anexos das casas de seus patrões. Assim vivia o povo : buchimanes, ou "bantus".
Mas este “acampamento” como os que o precederam, mais os que se lhe seguirão , está condenado a uma vida "efémera." Só irá durar o tempo que levarem a esgotar...e a comer tudo o que, num raio previamente determinado, tendo como centro os "iglus," a Natureza lhes der: frutos, raízes, e as lagartas de certas árvores que ao que parece são ricas em proteínas e que depois de torradas sabem a ginguba, segundo o testemunho dos meus dois colegas que se atreveram a prová-las. Eu não tentei sequer. Creio que posso chamar a esta relutância "síndroma do caracol". Talvez me arriscasse se os não tivesse conhecido enquanto vivos, deixando atrás de um corpo rastejante de lesma, um rasto brilhante como os que no Mar seguem os grandes paquetes. Mas este rasto é peganhento, ranhoso, nojento. Também comiam uns pequenos roedores . que aliás são seus concorrentes no consumo de frutos e bagas das mesmas árvores em que vivem. Chamar-lhes-ia "ratos de palmeira," se palmeiras houvesse por aqueles matos.Como não há, são ratos "tout court" e isso corta-me o apetite. Porque os Buchimanes são “colectores, apenas isso. Não plantam o quer que seja,. Não criam sequer galinhas. Caçavam com uns arcos e flechas primitivos que, com a sua extraordinária habilidade em se deslocar silenciosamente como felinos, quase encostavam ao ouvido das potenciais vítimas, sempre animais de pequeno porte que não resistiriam muito tempo ao veneno com que são untadas as flechas de madeira rija e pontas afiadas. Depois era só segui-la com a paciência e a resistência que só eles possuem. Corriam numa espécie de "trote" com passos curtos e rápidos, durante quilómetros sem aparente fadiga. Servindo-nos de guia no rasto de caça, corriam à frente do jeep. e, mesmo sem parar apanhavam um pouco de terra ou folhagem, que atiravam ao ar e,... “viam “ (?) a direcção do vento.
Acampámos durante alguns dias perto da sua “aldeia”. Como nenhum falava português, procurámos utilizar uma linguagem gestoal em que eles eram expressivos, e nós uns nabos. Também gravámos as "nossas conversas" que depois fazíamos ouvir . Isso era para eles motivo de grande surpresa e ao mesmo tempo de divertimento. Até porque passada a agitação da surpresa, reconheciam .as vozes uns dos outros.. O único instrumento musical que me lembro de ver, era uma cabaça com uma calote cortada que, enquanto uns batiam palmas, o "músico" encostava ao corpo para servir de caixa de ressonância, enquanto fazia vibrar a corda do arco.
Outro contacto tivemos com Buchimanes, mas em circunstâncias completamente diferentes. Sabíamos da existência da Missão, da Chamavera dirigida por padres alemães que se dedicavam a ensinar crianças Buchimanes a cultivar a terra, a cuidar de criação, e enfim dar-lhes hábitos de trabalho. Durante o curto tempo que lá passámos pudemos ver e registar pela imgem, os pequenos buchimanes trabalhando na horta tranquilamente e, penssámos nós satisfeitos, ou...resignados. Tudo isto era bastante positivo, embora não tivéssemos ficado a saber dos resultados alcançados, ou não.. De qualquer forma, independentemente do êxito possível, tudo o resto era negativo. Os Missionários eram porquíssimos consigo próprios e com a higiéne da casa.. Outra coisa que nos chocou foi que nenhum falava português, mas um deles falava "buchimane" com clics e tudo.. Já me não recordo como nos entendemos, se em francês se em inglês. E agora mais um pequeno desvio: anos antes fui encontrar no interior da Xicuma, depois de vários quilómetros a corta-mato, uma Fazenda de Sisal de um casal de alemães, já velhos, que não falavam uma palavra de português, e entendiam-se com um criado em alemão e em umbundo. Voltando à narrativa no ponto em que a deixei: ficámos na Missão dois dias, mas só uma noite. A pesar de nos terem oferecido jantar, nós que já tínhamos visto,.e cheirado a cozinha, declinámos o convite e oferecemos-lhes do noso banquete de enlatados. Pelo menos era limpo. Aproveitámos a ocasião para perguntar pela milésima vez pelo Arroz Doce do Raul. Mais uma vez o prometeu para breve. E nós com imensa vontade de acresditar.. Na manhã seguinte, a da ”Libertação” não podemos recusar um púcaro de uma coisa que de café só tinha a cor e a temperatura, mas fomos obrigados a beber, procurando não identificar a mais que suspeita origem do cheiro. À chegada oferecêramos três galinhas do mato que havíamos caçado Ficaram no chão da cozinha, e ainda lá estavam quando na tarde seguinte nos retirámos.
Já relatei noutros escritos alguns casos ocorridos em paralelo com o objectivo primeiro da nossa viagem, por isso me dispenso de repeti-los. São, entre outros, "Luíana" e "Elefante Repartido", este último com alguma relação com os buchímanes.
Estou um tanto inseguro quanto à ordem cronológica dos meus relatos, das minhas recordações. Creio que o que vou contar se passou antes da ida à Missão "Chama- Béra". Mas pouco interessa, não posso deixar de escrever sobre caso... Passámos vários dias numa Coutada de Caça que nos serviu de ponto de apoio de onde irradiávamos para fazer os trabalhos que nos interessavam. O Gerente era o meu Amigo Madeira que eu havia conhecido anos antes em Cabinda. Estavam à espera de dois caçadores sul-africanos que estavam interessados em búfalos. . Chegaram vindo num pequeno avião...directamente da África do Sul. Foi só voar sobre o "arame farpado", aliás instalado pelo próprio Governo sul-africano ao longo da fronteira, para impedir a passagem de gado de cá para lá com receio da tansmissão de doenças de que o gado angolano pudesse estar infectado: Peri-pneumonia, Pieira, Brucelose ou outras.Potanto nem passaportes, nem Alfândega, nada . Este procedimento, aliás era recípruo. Saíram num jeep em busca de búfalos, e nós aproveitámos e fomos no nosso logo colados à traseira deles para não perdermos nenhuma oportunidade. Não muito longe das instalações, encontrámos (sim, uso a primeira pessoa do plural porque nós também iamos à caça...de imagens) um solitário que cometeu a inmprudência de deixar aproximar o carro até menos de quarenta metros. O caçador, que trazia armas magnícas atirou, o búfalo deu um mugído terrível, um salto e, ao contrário do que todos nós esperávamos desapareceu dentro da mata. Mas o caçador que era médico, garantia que lhe tinha metido uma bala no coração. Todos abanámos a cabeça delicadamente em sinal de que acrditávamos, mas pensando : " que prosápia, que certeza". Seguimos caminho em busca de novo e mais infelíz búfalo, sempre na orla da mata. Pouco adiante o pisteiro que levávavamos, chamou a nossa atenção:" tem búfalo morto ali na mata". Fomos ver e era o mesmo. E a mata também, e nós tínhamo-la contornado sem nos apercebermos. O Caçador mandou o pisteiro abri o bicho pelos sítos que lhe indicou até às proximidades do coração... e tirou de lá a bala que pouco antes garantira ter lá metido. A nós caíram-nos os queixos Voltámos para instalação da Coutada e tínhamos à nossa espera uma triste situação: um garoto dos seus dez ,doze anos que os pais (não buchimanes) haviam trazido nesse dia,tinha sido mordido por uma cobra. Uma perna estava disforme desde a coxa ao pé e purgava abundantemente. Era horrível de ver. O médico para alem de procurar salvar o rapaz dando-lhe uma injeccão de soro anti-ofídico e fazer todo o curativo, disse que mesmo assim não garantia a vida do moço porque seria preciso soro específico para aquele veneno, pois este varia de cobra para cobra e esta sabia-se qual era porque os pais tinham assistido ao acidente.. Creio que nem Angola dispunha das variedades de soros correspondentes às espécies de ofídios existentes. E estou certo que são menos, tanto em variedade como em quantidade que no Brasil. E durante os trinta anos em que percorri Angola em todos os sentidos e por várias s vezes, que me recorde terei visto uma meia dúzia de cobras incluindo uma gibóia que atropelei mas não parei para ...prestar assistência. .. Nós ptóprios traziamos no carro o anti-ofídico, que uma vez injectado teria obrigatoriamente de se procurar um Hospital. Parece troça dizer isto quando naquela região nunca estaríamos a menos de trezentos ou quatrocentos quilómetros de um hospital. ´ Então aquele Caçador/Médico, perdão
Médico/Caçador oriundo de um País de feroz "apparteid", levou o garoto no avião para a África do Sul. Semanas depois voltámos a passar pela Coutada e tivemos a grande alegria de ver a criança ainda com a perna ligada e muito mais fina...mas VI Fora o próprio Médico que o trouxera de volta. Neste mundo de guerras, traições, egoísmos e lutas entre raças, religiões diferentes, sabe bem encontrar pessoas capazes de gestos tão humanos como este.
Parece que a nossa estadia na Coutada onde fomos tão bem recebidos, seria propícia ao aparecimento do tal Arroz Doce que cada vez nos parecia mais virtual. Mas não, o Raul não quiz . "Talvez receie o julgamento de pessoas estranhas", foi o que pensámos. Talvez não estivesse tão à vontade com a pastelaria, como na cozinha, onde era quase tão bom como na fotografia .
Resignados, esquecemos o doce. Na úilima vez em que momtámos acampamento,com a nossa comodíssima tenda onde dispunhamos de três macas (chamados burros) que nos proporcionavam sonhos reparadores depois de um dia estenuante. Tínhamos até lâmpadas amarelas que repeliam os insectos noturnos. E também uma cozinha de campismo onde o Raul nos anuinciou ir elaborar um jantar especial. Mas não nos deixou aproximar do seu "laboratório". Sentámo-nos impacientes à mesa, e ele apareceu com dois pratos de sopa de...arroz doce!!!
Foi uma alegria: o arroz estava uma delícia e encheu os nossos pobres estômagos, fartos de comida enlatada. Depois veio o prato de resistência:... novamente arroz doce. Com risco de indigestão fizemos honras ao "segundo prato". Já na premonição do que nos iria acontecer, ambos quisemos prescindir da sobremesa." Impossíve, então eu esmerei - me justamente numa sobremesa que vocês tanto reclamaram, e agora fazem-me esta desfeita.? NãoSenhor.!”E trouxe três pires do tal arroz doce de que ele também comeu. Mas nós, até ao regresso a Luanda, nunca mais quisemos sequer ouvir falar em tal quitute, de que sou grande apreciador, mas que só voltei a provar mêses depois. Alguém dirá quando esta prosa ler - se é que alguém a vai ler: "então que disparate é êste? Apenas catorze linhas para nos “dar” o aroz doce prometido cento e tantas linhas atrás!? É verdade. Mas convém não esquecer que o exercício da Leitura é um acto voluntário. Quem não quiser não lê.Talvez tivessem bastado as primeiras linhas para se decidir num sentido ou noutro. Será por ventura egoísmo, mas quando escrevo sobre factos, acontecimentos coisas do passado, em Angola, é como se as voltasse a viver..Vejo as cores, oiço os ruídos, sinto o vento e a chuva, o Calor e o Frio, e... as PESSOAS! Os bons e os maus momentos e vejo-me a mim próprio, 40 anos ...mais novo!..

terça-feira, janeiro 02, 2007

O VETERINÁRIO VOADOR

Estou escrevendo esta pequena estória com cinquenta e quatro anos de atraso, e com toda a urgência, porque só agora me recordei do nome do protagonista e não quero esquecê -lo de novo porque, receio bem não ter possibilidade de cumprir outro ciclo de meio Século. Portanto aqui vai o nome do protagonista: Dr.Castro Amaro,veterinário ao tempo, 1952,Director da Estação Zootécnica de BOANE (?) a Sudoeste de Maputo, então ainda Lourenço Marques.Por isso receio que o nome da Estação já não seja Boane,ou que até eu próprio lhe tenha trocado o nome. Mas com este ou com outro,nome existia, era "naquele sítio". E agora vamos à estória antes que me esqueça outra vez. O Produtor de Cinema Felipe Solmes para quem eu trabalhava em Angola, tinha contratado com o Governo de Moçambique, a realização de um documentário sobre Pecuária. Com o operador residente Alfredo Gomes, ocupado com outros trabalhos, chamou-me de Luanda para filmar,entre outros, este documentário. Corremos, uma grande parte do território e viemos acabar na estação de Boane. Registámos os aspectos mais relevantes daquela actividade. A Estação estava situada numa planície, sem qualquer elevação de terreno de onde se pudesse dar uma visão de conjunto.. Mas havia uma coisa que eu procurava não ver. Mas o Solms viu,e como era completamente louco logo me chamou a atenção: “Olha dali decima pode fazer-se um plano de conjunto sensacional" O "ali de cima" era uma torre de água altíssima,vinte metros ou coisa parecida, à qual se subia por uma escada de ferro cravada da superfície dos pilares, e sem nenhuma espécie de protecção, corrimão, etc. Teria de subir-se agarrando e largando:..., agarrando e largando, os degraus. Nada que não tivesse feito já, mas aquela altura era impressionante. E aqui cabe uma reflexão: que diferença faz aopobre escalador caír de vinte ou de dez metros?. A diferença é só psicológica. Mas neste caso havia um problema a considerar: se fosse uma reportagem em que se trabalha quase sempre com a câmara na mão, não haveria grande problema. Mas um Documentário reclama outros cuidados,e usa-se muitas vezes um tripé.. Punha-se pois a questão . Subir com a càmara a tira-colo,(seis quilos)até aqui está bem. Depois a bateria que neste caso eram duas baterias de moto ligadas,e levadas também a tira-colo. Restava o tripé ,que além do peso, também a forma tornavam difícil o transporte. Claro que eu teria de levar comigo a câmara; sem problema, porque iria nas minha costas. O Solms disse que levava a bateria. mas mesmo assim ficava o mais difícil o tripé. Foi aí que o Dr. Castro Amaro apresentou a "sua" solução: "Eu levo tripé".Pus logo uma objecção: " não há forma de o transportar sem ocupar uma das mãos. Depois como se poderá subir esta escada"? E o Dr, ,juntando o gesto à palavra, agarra-o com a mão direita,e diz-me: "não tenha receio, eu fui "volante" do grupo de vòos à Leotard do Lisboa Ginásio". Este Grupo era o número sensação dos Saraus de Ginástica que o Lisboa Ginásio, todos os anos apresentava no Coliseu dos Recreios, e que eu nunca deixava de ver. De qualquer maneira,seria uma loucura. Argumentei: "mas dr., aqui não há trapézio onde esteja o seu base para lhe dar as mãos, e cá em baixo, a rede mais próxima é dos pescadores a vários quilómetros daqui". Palavras judiciosas que caíram em saco roto- (como aliás é corrente suceder às palavras sensatas ). E pronto,lá fomos, o Solms e eu com as duas mãos livres, que nos pareciam poucas para o momento. Por fim o Dr Castro Amaro são e escorreito, com o tripé que não tinha deixado cair como eu temia que acontecesse. Porque ele, a cada degrau tinha de soltar a mão esquerda para ir agarrar o degrau seguinte, ficando completamente solto durante uma fracção de segundo,e,,,só uma! enquanto põe o pé no degrau seguinte.E asim, durante quase uma centena de degraus...com igual número de "pega e larga", até vencer os vinte metros. No cimo da Torre o vento era tal que quase nos impossibilitou o trabalho. Valeram as quatro mãos dos meus acompanhantes para fixar o tripé. Não foi possível fazer uma panorâmica como seria indicado. Em substituição foram feitos vários planos cobrindo a área que mais interessava. Agora, descer. Ao contrário do que acontece na Vida,nestes casos descer é mais difícil que subir.Primeiro tem de voltar-se as costas para o abismo, depois, precariamente agarrado a um apoio na superfície da placa,tactear com um pé sobre o vazio até encontrar o primeiro degrau.Depois ir descendo e retomando a calma à medida que nos aproximamos do abençoado solo.O mais calmo de nós três era o Dr. Castro Amaro, pudera... já ´cá estava em baixo à mais tempo. E embora reconhecendo a sua coragem e destemor, não deixei de assinalar a minha opinião; tinha sido uma teneridade. Tivesse sido eu o chefe de equipe e o dr. não teria subido com o tripé.
Lembro-me agora que o realizador Jorge Brun do Canto com quem fiz quatro filmes, era especialista em escolher locais diabólicos para filmar. Recordo que no "João Ratão" (1939) cujos exteriores foram feitos no Vale do Vouga, o Jorge desaparecia da nossa vista e pouco depois ouvíamos um grito vindo lá de longe: “Máquina aquiiii!!! “ e via-mo-lo encarrapitado no píncaro mais incrível, quase inacessível mas de onde se poderia obter um plano de muita beleza. Nestas circunstâncias qual o operador que .se recusaria a subir a um local onde o Realizador já estava a dar o exemplo.?... por vezes de loucura.