Roxa xenaider

terça-feira, março 25, 2008

de como a humanidade...

…de como a Humanidade
se auto extinguiu, e como
tentou recuperar-se…

Ignora-se em que Século
teve lugar esse evento,
como foi que aconteceu
tal desaparecimento.
Os pergaminhos e crónicas
Que chegaram até nós
são do Século Vinte e Um,
época tão recuada
q’não deixou vestígio algum
que permita ser estudada
com um mínimo de exactidão.
Só restava gente velha,
e da última geração
ficara apenas um jovem.
Buscaram uma anciã
e com Pompa e Circunstância,
como no Circo Romano,
ao jovem foram juntar
num exótico mano – a – mano,

realçando a importância
do seu êxito ou fracasso
pr’a bem da Humanidade
e sua sobrevivência.
“Mas novo não rima com velha” (*)
e uma eréctil disfunção
veio deitar tudo a perder
destruindo a ilusão
de manter a Humanidade
com todos os seus defeitos
e faltas de qualidade.
E tudo voltou aos bichinhos,
Lesmas e mais rastejantes
ancestrais do ser humano
e por demais repugnantes.
Na Escala da Evolução
só um ser inteligente
como o “Delphinus Delphis”
nadando contra a corrente
fará renascer a Vida
tornando, enfim este Mundo
belo, feliz, abençoado…

…se antes o não matarem
os efluentes do Sado !


(*)- a frase assinalada faz parte de um poema do Autor Teatral Silva Tavares e reporta-se aos anos trinta do Século passado. (se me não atraiçoa a memória) e era dedicado, ou melhor, dirigido a uma corista miuito bonita com idade de corista e corpo a condizer. Com tão boas credenciais não era de estranhar que provocasse acesas paixões não só entre os espectadores como em gente do próprio teatro, incluindo o Poeta que há muito ultrapassara a idade da juventude: a dela e a dele. Ela, como se calcula, punha-lhe o cabeça em águe e o coração em ânsias. Daí o poema que se segue:

Pus tão cega onfiança

na tua sinceridade

que sem me lembrar da idade

mais uma vez fui criança.

Em vez de ver-me a um espelho

busquei abrigo em teu peito.

"Nova não rima com velho"

quis que rimasse... bem feito!















terça-feira, março 11, 2008

História....



HISTÓRIA TRÁGIC’RIDÍCULA

Começa por ser, ou parecer, simplesmente ridícula.
Passo a contar:
Num respeitável ( escrevo-o sem ironia ) Hospital, implantam-se Pacemakers que por períodos mais ou menos alargados devem ser programados.
No caso em presença espaçado de cerca de um ano.
Os Serviços Burocrátic’Administrativos enviam aos pacientes, avisos marcando a data e hora do exame a realizar, com uma grande antecedência, a todos os títulos louvável pelo que representa de zelo, competência, preocupação e extremo cuidado com a precária saúde
da pobre gente que frequenta aqueles lugares de carinho e dor.
E o cuidado, a exactidão e a minúcia das indicações que; para citar um exemplo recente (tão recente que até é de hoje), um aviso de há oito meses, indicava como data futura do exame o dia 10 de Março de 2008 às 15.00 horas e 10 (repito, DEZ) minutos, com a indicação/ordem de que o utente deveria apresentar-se com meia hora de antecedência.
Repare -se na ridícula minúcia dos dez minutos depois da hora certa, sabendo-se; como toda a gente sabe, das exasperantes e tantas vezes dolorosas esperas em rígidos assentos de madeira em conflito com as magras carnes “regionais” que os velhos ossos tentam perfurar.
Chegado à recepção com apenas vinte e cinco minutos de antecedência, desculpei-me como pude, e esperei até às Dezassete horas.isto é, duas horas e vinte cinco minutos.
Pedida ao médico, aliás simpático e já meu conhecido de anteriores esperas, a explicação para o preciosismo dos “dez minutos”, buscou no computador a resposta para a pergunta, e obteve-a : “a cadência de atendimento está calculada em VINTE MINUTOS ???
Alguém, alguma vez teve num hospital - qualquer hospital - a dita de ser atendido em vinte minutos numa qualquer consulta?
Escreveu-se em título “Trágic’ridícula”
Retiremos porém o ridículo; fica-nos o trágico.
E hoje – como foi ontem e será certamente amanhã – os utentes eram todos, repito todos, pessoas acima dos setenta, e até dos noventa anos; uns em cadeira de rodas, outros amparando-se precariamente em bengalas.
Ridículo, incompetente, ou ambas as coisas, e ainda desumanidade, é o “burocrat’administrativo”, que aqui, como em muitos outros serviços públicos, não cura de saber do sofrimento alheio,
. Diz o Povo na sua imensa sabedoria:
”O que os olhos não vêem, Coração não sente !...”

quinta-feira, março 06, 2008

Photografia & fuga

PHOTOGRAFIA & FUGA
-primo andamento, vivacce

Na verdade foi o “primeiro andamento” que ensaiei à frente da Polícia de Choque, e não poderia ter sido mais “vivacce”-
Eu conto.
No inicio da década de oitenta do Século passado, organizou a CGTP uma manifestação na Praça da Figueira que registou uma enorme adesão e entusiasmo.
De facto não caberia nem mais um alfinete, como soi dizer-se, naquela vasta e linda Praça..
Actuava o grupo “Trovante” com o jovem Luís Represas que fez um espantoso êxito que acrescentava calor às palavras de ordem e ao agitar das bandeiras que ao contrário do que seria natural, não arrefeciam o ar em redor, antes o tornavam ainda mais escaldante.
De tal maneira subiu o entusiasmo que o dirigente dos Metalúrgicos que na ocasião orientava a cerimónia, teve a catastrófica ideia de propor que, em vez de cada um dispersar a caminho do sossego dos seus lares, que era o estabelecido à partida, se prosseguisse em desfile até ao Terreiro do Paço.
Mas se a manifestação fora autorizada, o desfile não.
E asquela multidão enebriada pelo sucesso, seguiu o insensato conselho. Diz a Psicologia das Multidões, que basta um pequeno gesto issolado para arrastar uma multidão.
Logo os polícias infiltrados na Manif. alertara a Brigada de Choque estacionada junto da Esquadra da PSP na traseira do Teatro D.Maria e que eu tinha fotografado à socapa desde a rua das Portas de Santo Antão.
Sabia-se, pois, da sua existência e do seu empenho em mostrar serviço; razão mais do que suficiente para não entrar em loucuras.
Mas a loucura precaleceu, e ainda uma grande parte dos manifestantes não tinha saído da Praça e entrado na estreita Rua dos Fanqueiros (quase sem trânsito porque era sábado) já a Polícia lá chegara e apertava o cerco desde o Rocio.
E foi um fartar vilanagem. Choveu bastonada sem discriminações.
A correria pela rua abaixo, com todos atrapalhando todos, foi dramática.
Não sei como cheguei ao cruzamento com a Rua da Conceição por onde tomei o caminho da Victor Cordon e do sossego da Inter.
Portem, ao passar frente à entrada da Rua dos Douradores, vi três polícias a desancar um infeliz que tinha tentado escapar por aquela artéria.
Eu seguia pelo passeio contrário procurando não dar nas vistas, sem pressa, vagarosamente qual pacato cidadão; mas três máquinas fotográficas penduradas ao pescoço mais uma bolsa típica de fotógrafo, não se escondem nem se disfarçam facilmente.
Foi quando um dos esbirros gritou. “Òlh’um fotógrafo!” e deixando a presa nas mãos dos colegas, lançou-se sobre na nova caça que eu representava.
Difícil correr com as máquinas a sacudir no pescoço, um braço a segurá-las e o outro a amparar a bolsa, e com uns escassos trinta metros de vantagem. Com mais de sessenta anos a pesar nas pernas, só mesmo o desespero me fez correr tanto, sempre à espera do bastão como sinal de “stop.” e a inevitável queda de desastrosas consequências para mim e para o meu material
Foi assim que ensaiei o meu “primeiro andamento”
Transpus a rua Augusta ziguezagueando por entre os automóveis; vendo um casal de velhinhos que vinham em sentido contrário, gritei-lhes: “O gajo ainda aí vem ?”
Que não, que não vinha. Tinha ficado do outro lado da Rua Augusta a olhar..
Mas se ele me obrigasse a um segundo andamento, como é que eu iria subir a Calçada de São Francisco ?
Porque estava a tratar da troca da Carteira Profissional de Jornalista de Angola pela portuguesa, só trazia comigo como documentos de identificação o B I ainda de Luanda, e o cartão do P.C. este sim, já de Lisboa.
O que é que teria sido de mim, das câmaras e, pior de tudo: dos negativos daquela magnífica Manif.. se não tivesse ensaiado com êxito aquele andamento “presto com fuga”. .

coisa lixada o lixo

COISA LIXADA, O LIXO

No início da década de oitenta do Século XX fiz, para a Revista “ALAVANCA” da C.G.T.P.,uma reportagem fotográfica sobre a recolha e tratamento do lixo de Lisboa.
Foi, não êxito em afirmá-lo, um trabalho “lixado”.
Desde lixo amontoado nas ruas, contentores a deitar por fora, carros de recolha e o seu cheiro, tudo acompanhei e cobri suportando o odor durante várias noites, pelos diferentes bairros da cidade até à descarga da malcheirosa carga no ainda mais malcheiroso, Vazadoiro Municipal de Beirolas, em terrenos hoje cobertos pelo Parque das Nações.
Ao tempo, quando o vento soprava “de feição” não se podiam abrir janelas em Sacavém.
O vazadoiro era um monturo informe que talvez tivesse tido algum um dia um projecto de arranjo topográfico, mas deve jazer “auto-enterrado” como tantos outros neste país
Havia uma entrada virtual na rede que deveria isolar a grande extensão das instalações, mas de tal maneira arruinada que qualquer viatura podia dispensar-se de passar pela entrada
principal.
No centro, ou naquilo que se calculava que fosse fora instalada a Estação de Tratamento de Lixos, que se destinava a ser o corolário do meu trabalho, da minha reportagem.
Ocupava um enorme espaço coberto onde recolhi imagens de grandes máquinas com mangas transportadoras e grandes veios “sem-fim” que separavam, os sólidos dos bio-degradáveis destinados a adubos, O espaço era arejado, mas o incontornável odor: o produzido no interior mais o que vinha de fora, só se dissipava quando, alguns dias depois, o nariz perdia dele e memória.
Não posso firmar peremptoriamente que os operários não usavam máscaras, mas tenho na memória que assim era de facto.
Afinal a Estação não foi a “cereja no bolo,”esse papel viria a caber ao vazadoiro propriamente dito.
Este desenvolvia-se numa cordilheira de olorosas montanhas em que serpenteavam uns labirínticos caminhos de pé posto, onde afanosas criaturas esgravatavam em busca, se não de um tesouro, pelo menos de algo que lhes garantisse o almoço. E muitas eram as pessoas. Havia mesmo num recanto uma espécie de telheiro “construído” com produtos locais, onde iam guardando os tesouros encontrados.
No cume de uma das montanhas vi um grande camião descarregando batata em sacos de origem.
Tratar-se-ia de mercadoria ilegal apreendida, ou de produto impróprio para consumo.
Fosse um ou outro o caso, era imperioso evitar a sua entrada no circuito comercial.
Por isso um soldado da Guarda Fiscal velava pelo cumprimento da Lei.
Nas imediações, um grupo de homens que não apresentava o aspecto de quem anda ao lixo, mantinha-se atento aos movimentos do guarda fiscal que, muito a propósito ia andando em volta do camião em lentas passadas de “polícia de giro”.
Tudo muito bem calculado: quando o soldado desaparecia por detrás do camião, os homens lançavam-se sobre os sacos que carregavam aos ombros e desciam o monte numa correria desenfreada até às carrinhas paradas cem metros mais abaixo.
E a cena foi-se repetindo sob os meus olhos atónitos.
Perante isto, esta impecável organização, perguntei-me: “ qual será o “snak” ou o restaurante cujos clientes irão saborear as batatas desta colheita ?
Sim. Porque para um Asilo é que elas não foram
!

“ A Tempo” ( e a propórito ): passados que são mais de vinte anos, eis que hoje a meio da manhã da última terça-feira de Fevereiro do ano de Graça de Dois mil e oito, nesta “cidade” de Sacavém, à entrada do Bairro da Quinta do Património, deparo com meia dúzia de contentores trasbordantes de lixo, rodeados por igual quantidade de “excedentário” em lista de espera, sabe-se lá por quanto tempo mais.
Um pouco acima, no centro histórico, encostado ao Mercado Municipal em cujo edifício funciona a Junta a Freguesia, idêntico espectáculo se me depara.
Estou certo de que por todos os outros locais “beneficiários” dos Serviços de Limpeza Camarários, mais contentores pletóricos de lixo convivem com mais sacos, espalhados pelo chão, pedaços de móveis, e até cadeirões e sofás, electrodomésticos, loiça sanitária, etc.
Assim se proporciona um colorido e perfumado ambiente de fim de semana a uma população descrente e resignada.
Resignada sim! Porque ao longo dos anos vividos nesta “cidade” de Sacavém nunca vi que, contra esta vergonha,alguém se levantasse …nem eu.

quarta-feira, março 05, 2008

as qualidades e a memória

AS QUALIDADES E A MEMÓRIA

Há, entre os muitos erros do Criador, um que me choca pela crueldade, involuntária acredito, mas que nem por isso deixa de ser cruel.
Que diferença me faz a mim, uma vez atropelado, que o condutor estivesse alcoolizado ou simplesmente distraído, se o resultado seria sempre o mesmo?
Assim o Criador.
Porque nos vai tirando, ou deixando perder, qualidades e não nos retira a memória delas?
Porquê irmos pouco a pouco deixando, por exemplo, de poder alcançar e colher um colorido fruto de uma alta e bela árvore ?
Porquê, sendo a árvore menos alta, mesmo asim,não nos pemite idade colher o fruto que a proximidade torna mais apetitoso?
Porquê, finalmente, a incapacidade de colher o fruto, mas não da sua vista, da recordação do seu perfume, e sabor.?
Por tudo isto atrevo-me a exprobar o Criador por ter matado em mim a qualidade, deixando dela uma viva recordação, mas retirando-me até, a esperança de que o fruto me venha a cair nas mãos.
E para maior sofrimento: “até a Esperança é a última a morrer”