Roxa xenaider

segunda-feira, julho 23, 2007

As galinhofagas

AS GALINHOFAGAS
OU A CRUELDADE
LEVADA AO EXTREMO

Narrativas REVISADA

Em África coexistem herbívoros e carnívoros; aqueles destinados a ser a dieta destes, estes a serem tapetes ou “troféus” na parede da Sala. Isto se, antes de ser troféu, não tenha comido o caçador. Deixei propositadamente para o fim os mais ferozes de todos e também mais difíceis de combater e dominar. Refiro-me aos insectos, personificados na formiga “KISSONDE”, e as GALINHAS, representadas pela galinha branca de postura, sem dúvida a aristocrata da espécie. Porquê esta mistura de duas espécies tão diferentes? Diferentes sim, morfologicamente, mas quem sabe o que se esconde de semelhante no instinto de cada uma delas? Recuemos um Século:
Na África pré colonial, as tribos, eram como países diferentes; outros costumes outras línguas, outros deuses, outros feitiços. Aliás, até hoje, não mudou muito. Eram, como em todo o Planeta estrangeiros entre si, como os holandeses e os franceses, ou os Polacos e os Portugueses. Apenas a cor os irmanava, por isso, as guerras em que se envolviam, se chamavam “guerras civis” e eram mais ferozes que as “internacionais”. Tão ferozes e desumanas, como mais tarde, as dos homens “civilizados.”
Assim, aquelas tribos usavam dar aos prisioneiros o tratamento mais horrível que imaginar se possa. Abandonavam os infelizes, provavelmente feridos, junto de ninhos de “Kissonde,”a formiga preta carnívora. Inibo-me de relatar o que não presenciei, mas…dar conta de um facto que presenciei algures no centro de Angola.
Um cordão grossíssimo de formigas novas atravessava toda a estrada; creio que seria em migração para um novo ninho. Mas tudo decorria com a maior organização, como se de uma operação militar se tratasse. Para proteger esses milhões de “gente jovem”, garantes da perpetuação da espécie, duas fileiras de formigas adultas (chegam a atingir 1,5cm), faziam protecção como verdadeiros soldados, formados quase “ombro a ombro” dos dois lados do cordão. De cabeças levantadas e as terríveis fauces abertas e viradas para o exterior , constituíam um espectáculo impressionante e remetiam-nos para acontecimentos apenas imaginados mas nem por isso menos assustadores.
Aliás, uma noite, tive ocasião de presenciar – e sentir na minha economia – o seguinte facto: apercebemo-nos de grande agitação no galinheiro doméstico, com o cacarejar aflito de galinhas e os gritos dos perus. Tinham sido atacados pela kissonde, esvoaçavam alucinados. . .mas
estavam perdidos. Só nos restou fazer uma fogueira e com archotes irmos eliminando os amontoados de formigas. Foi então que presenciamos uma dolorosa cena: galinhas e perus
atirando-se para cima da fogueira e, transformadas e verdadeiras bolas de fogo, iam voando desesperadamente até caírem e. no chão, acabarem de ser consumidas pelo fogo.
Mas na Vida nada é completamente mau (nem bom) e assim, destes horrores tiraram os caçadores o remédio que lhes permitiria exibir os troféus nas paredes das suas casas. Por
exemplo: a cabeça de uma palanca com uns cornos lindíssimos, ou de um “Olongo”, cujos cornos helicoidais, atingem dimensões impressionantes, só poderiam ser expostos uma vez expurgados do mais pequeno resíduo de tecido putrificado, até às extremidades finas como agulhas – tarefa quase impossível a mãos humanas. Se assim não fosse, seria insuportável o cheiro que empestaria toda a casa chamando mais formigas. Desta vez a “Salalé”, que comeria tudo quanto fosse papel, pano, madeira, etc. deixando nas paredes uma decoração castanha feita de terra digerida.
. Aos caçadores não restava pois outro caminho, outra alternativa senão socorrer-se da “experiência alheia” e da voracidade da “kissonde” que, e peço perdão pelo que vou escrever: acaba por ter a sua utilidade.

. E as galinhas? O que haverá a dizer sobre a sua ferocidade?
Pois há, e não será pouco.
As galinhas de raça, principalmente as poedeiras, cuidadas e alimentadas desde “pintos do dia” ( que custaram os olhos da cara) quando iniciam finalmente o seu “trabalho” põem uns ovos disformes ( só faltou serem quadrados) uns muito pequenos e outros desmesuradamente grandes , até “calibrarem” a cloaca. Em resultado disso ficam feridas e a sangrar. E aqui começa
a tragédia, o massacre, a “galinhofagia”. Todas as que “ainda” estão sãs, atiram-se às outras e comem-nas, literalmente, por dentro, só parando nos pulmões porque os seus curtos pescoços não dão para mais. Ficam então – elas também - ensanguentadas na cabeça e pescoço, tornando-se de carrascos em vítimas de todas as outras que - também “ainda”- se conservam limpas, o que seria por pouco tempo se o pobre criador, para evitar ser realmente pobre, não pusesse cobro à desgraça.
Do trabalho e da dificuldade que isso representa para um aviário de modesta dimensão (mil galinhas), nem vale a pena recordar. Conseguida a “pacificação” pincelam-se com “azul de mitilene” as zonas ensanguentadas.
. Esta cor, por razões que só elas saberão, repele-as; por isso as paredes são dessa cor
até meia altura., e os cantos são arredondados para que não se esmaguem umas às outras. Enfim, um amor de bichinhos. E, acredito verdadeiramente que, se o criador com as mãos manchadas de sangue, ou muito simplesmente com um ovo partido na mão,(experiência pessoal) desmaiasse por tempo suficiente, atirar-se iam a ele, como se de outra galinha se tratasse, e era “canja”. Nem seria necessário recorrer à eficiência da “Kissonde”.
. O melhor será não experimentar.

sábado, julho 07, 2007

lido nos Corvos...

Lido em “OS CORVOS”

Na década de 30 do Século XX, Leitão de Barros escrevia na primeira página do Diário de Notícias – creio que diariamente – uma crónica sob o título acima.
Eram sempre pedaços de prosa deliciosa, contendo críticas às vezes a roçar o cruel mas plenas de espírito.
Tendo viajado por Espanha no seu modesto “Morris” ( o representante da Marca tinha feito com L.B. um acordo segundo o qual o carro era trocado de dois em dois anos por um modelo novo sem encargos, desde que utilizasse ezclusivaménte aquela marca,
Hoje ,isto parece um pouco bizarro: quem, em meio a um trânsito caótico como o de hoje, repara que marca de carro conduz quem ?
Eram outros tempos; para o bem e para o mal ( mais para este do que para aquele.).
Mas vamos aos “Corvos”. Na sua deslocação por terras de Espanha, sucedeu que circulando por uma rua larga considerada como via principal, foi abalroado por um carrão
que se apresentava pela direita ( nessa época, em Portugal bem como n maioria dos países a prioridade era de quem circulava na via principal) . Do carrão sai a imponente figura de um enorme espanhol de flor na lapela e enorme charuto.
E aí começa a discussão: “então não vê que eu circulo numa rua principal; tenho prioridade” - “Pero en España, la prioridad és de la diretcha”. E assim continuaram a esgrimir argumentos e legalidades sem chegarem a acordo. Até que Leitão de Barros atira o derradeiro - julgava ele –argumento.
“Mas meu caro Senhor, trata-se de uma Lei Universal !!!”
E o espanhol, do alto da sua arrogante figura, e esgrimindo o enorme charuto: declama em voz tonitruante: “Pero jo non soi Universal.. SOI ESPAÑOL “

sexta-feira, julho 06, 2007

O MOÇO DA HUMBIA,
A CIDADE de LISBOA
E A IDEIA QUE DELA FAZIA

Muitas vezes saí de Luanda para o Sul esperando não me demorar por lá mais de uma semana, acabando por estar mais de um mês sem vir a casa.
Normalmente fazia a viagem de Luanda para o local onde assentava arraiais, ew daí derivava para os locais ponde tinha de filmar. Para isso tinha transporte cedido pelas Autoridades Administrativas, geralmente Chefes de Posto, - os mais isolados – que faziam questão de serem eles próprios a conduzir-me, por gentileza, mas também pela
curiosidade de ver “como era isso do Cinema.”. Desilusão: porque as filmagens de exteriores, para Documentários ou Actualidades não se revestem da complexidade, das
surpresas, e emoções de uma filmagem em Estúdio.. Mas isso, eles não sabiam, e contentavam-se com o possível.
Quando à partida sabia que o trabalho iria ser demorado e me obrigaria a estar longe da família por mais tempo do que o razoavelmente suportável, substituía a passagem aérea a que tinha direito, por combustível para o carro.
Os meus filhos eram pequenos, três e seis anos (ao tempo da viagem que vou referir) e acomodavam-se bem na cabine da carrinha entre a Mãe e eu. O mais novo adormecia com frequência e deitava-se no colo da Mãe com as pernas sobre as da irmã e as minhas. o colo da irmã e as minhas.
Minha Mulher levava sempre um bom farnel para o caminho. E aqui o desvio de rota habitual. A viagem entre Luanda e Lubango, mil e cinquenta quilómetros que costumava fazer numa só, era nestes casos repartida entre as terras do percurso
Lembro-me agora que precisamente nesta viagem trazia também o Sabalo e já referi noutro escrito.
Porque a estrada entre Luanda e Dondo – cento e oitenta quilómetros - era
quase impraticável na época das chuvas, e era o caso, com o possível “enterranço” por tempo indeterminado, mandei os quatro no comboio de manhã, cvjhghando ao fim da tarde ao Dondo – e eu também..- onde dormimos.
Foi aí que se iniciou verdadeiramente a viagem, com etapas de cento e cinquenta quilómetros pouco mais ou menos: Dembos, Quibála, Alto Ama, -apenas um cruzamento de estradas mas com uma Estação de Serviço que tinha uns rissóis de camarão sublimes. Aí pernoitamos Na etapa seguinte, fizemos um “pic-nic à sombra de um árvore onde os garotos dormiram uma curta sesta.
Enfim, foi uma aventura rotineira sem nada a assinalar.
Estávamos ainda longe da Humbia, meta e objecto desta estória e, para
não impacientar mais aqueles que ainda nos acompanham na viagem, saltamos sobre Nova Lisboa, Quipungo, Caconda e Lubango.
Desçamos pois a deslumbrante Serra da Chela, infelizmente só com um olho na paisagem, e outro nas curvas da estrada que nos levará dos 1.700 metros de Sá da Bandeira, em pouco mais de 20 quilómetros de descida “vertiginosa” – em “segunda”- , até Vila Arriaga, mesmo na “dobradiça” da Montanha com a planície do Deserto, quase nos cinquenta metros de altitude de Moçâmedes.
Afinal, e a Humbia, teria ficado perdida no meio do caminho, para lá de Vila Arriaga ?
Não, não ficou perdida, mau grado fosse – digo fosse porque isto passou-se vai para cinquenta cinco anos. Repito pois: fosse naquele tempo uma mais do que pequena Terra onde mais tarde viria a instalar-se uma fábrica de “charcuteria” dirigida pelo meu Amigo Alex. Ducarsky, ele próprio, anos depois, proprietário da “Charcuteria Francesa no Largo da Mutamba em Luanda.
E a Humbía ? (assento tónico no í) Ficava a meio da serra, e aí parámos para dar às crianças o farnel que a Mãe lhes preparara. (nunca confiar muito nas refeições servidas nestes “hotéis”.-) mas nós comemos dela sem que algo de mal acontecesse. Foi aí que o empregado do estabelecimento se chegou a nós perguntando:
“Os senhores de onde são?” ?”
“ De Lisboa, respondemos”
“ÁH! Então os senhores conhecem com certeza o Basílio (?).
“Não, não conhecemos; já vê Lisboa é muito grande e as pessoas não se conhecem umas às outras.”
“ah! Mas o Bazílio conhecem com certeza, ele é um rapaz cheio de vida. Ao pé dele ninguém se chateia. Ele até foi marinheiro.” Só pusemos um ar meio incrédulo.
Não dissemos nada. mas disse ele: “conhecem com certeza, o que é, é que não se lembram.”.
E depois já com um tom de voz meio a atirar para o desconfiado: “se são mesmo de Lisboa conhecem com certeza”
Bem: se calhar até conhecemos, “O que é, é que não nos lembramos”.. a

Desçamos pois a deslumbrante Serra da Chela, infelizmente só com um olho na paisagem, e outro nas curvas da estrada que nos levará dos 1.700 metros de Sá da Bandeira, em pouco mais de 20 quilómetros de descida “vertiginosa” – em “segunda”- , até Vila Arriaga, mesmo na “dobradiça” da Montanha com a planície do Deserto, quase nos cinquenta metros de altitude de Moçâmedes.
Afinal, e a Humbia, teria ficado perdida no meio do caminho, para lá de Vila Arriaga ?
Não, não ficou perdida, mau grado fosse – digo fosse porque isto passou-se vai para cinquenta cinco anos. Repito pois: fosse naquele tempo uma mais do que pequena Terra onde mais tarde viria a instalar-se uma fábrica de “charcuteria” dirigida pelo meu Amigo Alex. Ducarsky, ele próprio, anos depois, proprietário da “Charcuteria Francesa no Largo da Mutamba em Luanda.
E a Humbía ? (assento tónico no í) Ficava a meio da serra, e aí parámos para dar às crianças o farnel que a Mãe lhes preparara. (nunca confiar muito nas refeições servidas nestes “hotéis”.-) mas nós comemos dela sem que algo de mal acontecesse. Foi aí que o empregado do estabelecimento se chegou a nós perguntando:
“Os senhores de onde são?” ?”
“ De Lisboa, respondemos”
“ÁH! Então os senhores conhecem com certeza o Basílio (?).
“Não, não conhecemos; já vê Lisboa é muito grande e as pessoas não se conhecem umas às outras.”
“ah! Mas o Bazílio conhecem com certeza, ele é um rapaz cheio de vida. Ao pé dele ninguém se chateia. Ele até foi marinheiro.” Só pusemos um ar meio incrédulo.
Não dissemos nada. mas disse ele: “conhecem com certeza, o que é, é que não se lembram.”.
E depois já com um tom de voz meio a atirar para o desconfiado: “se são mesmo de Lisboa conhecem com certeza”
Bem: se calhar até conhecemos, O que é, é que não nos lembramos..

O MOÇO DA HUMBIA,
A CIDADE de LISBOA
E A IDEIA QUE DELA FAZIA

Muitas vezes saí de Luanda para o Sul esperando não me demorar por lá mais de uma semana, acabando por estar mais de um mês sem vir a casa.
Normalmente fazia a viagem de Luanda para o local onde assentava arraiais, ew daí derivava para os locais ponde tinha de filmar. Para isso tinha transporte cedido pelas Autoridades Administrativas, geralmente Chefes de Posto, - os mais isolados – que faziam questão de serem eles próprios a conduzir-me, por gentileza, mas também pela
curiosidade de ver “como era isso do Cinema.”. Desilusão: porque as filmagens de exteriores, para Documentários ou Actualidades não se revestem da complexidade, das
surpresas, e emoções de uma filmagem em Estúdio.. Mas isso, eles não sabiam, e contentavam-se com o possível.
Quando à partida sabia que o trabalho iria ser demorado e me obrigaria a estar longe da família por mais tempo do que o razoavelmente suportável, substituía a passagem aérea a que tinha direito, por combustível para o carro.
Os meus filhos eram pequenos, três e seis anos (ao tempo da viagem que vou referir) e acomodavam-se bem na cabine da carrinha entre a Mãe e eu. O mais novo adormecia com frequência e deitava-se no colo da Mãe com as pernas sobre as da irmã e as minhas. o colo da irmã e as minhas.
Minha Mulher levava sempre um bom farnel para o caminho. E aqui o desvio de rota habitual. A viagem entre Luanda e Lubango, mil e cinquenta quilómetros que costumava fazer numa só, era nestes casos repartida entre as terras do percurso
Lembro-me agora que precisamente nesta viagem trazia também o Sabalo e já referi noutro escrito.
Porque a estrada entre Luanda e Dondo – cento e oitenta quilómetros - era
quase impraticável na época das chuvas, e era o caso, com o possível “enterranço” por tempo indeterminado, mandei os quatro no comboio de manhã, cvjhghando ao fim da tarde ao Dondo – e eu também..- onde dormimos.
Foi aí que se iniciou verdadeiramente a viagem, com etapas de cento e cinquenta quilómetros pouco mais ou menos: Dembos, Quibála, Alto Ama, -apenas um cruzamento de estradas mas com uma Estação de Serviço que tinha uns rissóis de camarão sublimes. Aí pernoitamos Na etapa seguinte, fizemos um “pic-nic à sombra de um árvore onde os garotos dormiram uma curta sesta.
Enfim, foi uma aventura rotineira sem nada a assinalar.
Estávamos ainda longe da Humbia, meta e objecto desta estória e, para
não impacientar mais aqueles que ainda nos acompanham na viagem, saltamos sobre Nova Lisboa, Quipungo, Caconda e Lubango.
Desçamos pois a deslumbrante Serra da Chela, infelizmente só com um olho na paisagem, e outro nas curvas da estrada que nos levará dos 1.700 metros de Sá da Bandeira, em pouco mais de 20 quilómetros de descida “vertiginosa” – em “segunda”- , até Vila Arriaga, mesmo na “dobradiça” da Montanha com a planície do Deserto, quase nos cinquenta metros de altitude de Moçâmedes.
Afinal, e a Humbia, teria ficado perdida no meio do caminho, para lá de Vila Arriaga ?
Não, não ficou perdida, mau grado fosse – digo fosse porque isto passou-se vai para cinquenta cinco anos. Repito pois: fosse naquele tempo uma mais do que pequena Terra onde mais tarde viria a instalar-se uma fábrica de “charcuteria” dirigida pelo meu Amigo Alex. Ducarsky, ele próprio, anos depois, proprietário da “Charcuteria Francesa no Largo da Mutamba em Luanda.
E a Humbía ? (assento tónico no í) Ficava a meio da serra, e aí parámos para dar às crianças o farnel que a Mãe lhes preparara. (nunca confiar muito nas refeições servidas nestes “hotéis”.-) mas nós comemos dela sem que algo de mal acontecesse. Foi aí que o empregado do estabelecimento se chegou a nós perguntando:
“Os senhores de onde são?” ?”
“ De Lisboa, respondemos”
“ÁH! Então os senhores conhecem com certeza o Basílio (?).
“Não. Não conhecemos; já vê, Lisboa é muito grande e as pessoas não se conhecem umas às outras.”
“ah! Mas o Basílio conhecem com certeza, ele é um rapaz cheio de vida. Ao pé dele ninguém se chateia. Ele até foi marinheiro.” Pusemos só um ar meio incrédulo, e não
dissemos nada. Não dissemos nós, mas disse ele: “conhecem com certeza,o que é, é que não se lembram.”.
E depois já com um tom de voz meio a atirar para o desconfiado: “se são mesmo de Lisboa conhecem com certeza”
Bem: se calhar até conhecemos, “O que é, é que não nos lembramos”..

segunda-feira, julho 02, 2007

A propósito de Dança comigo

propósito de “Dança Comigo”

Acabo de assistir ao final de Dança Comigo no Campo Pequeno,
Bonito espectáculo, como aliás as eliminatórias o haviam sido.
Nesta “Grande Final” (conforme a publicidade,) tudo apontava para a disputa entre as duas jovens que sem terem físicos de dançarinas, dançam bem, têm desenvoltura, e sensualidade q.b (se é que “isso”, alguma vez possa ser q.b.).
Não questiono a classificação, mas deploro a forma como foi festejada. E é esta a razão que me prende ao Computador às duas da madrugada, aos noventa e um anos e oitenta e quatro dias.- deploro, dizia, que na euforia do “fim do Fim”, tenham esquecido, abandonado, ignorado, MAGOADO a concorrente derrotada,tão garota como a vencedora que - ela também - não teve um gesto, uma palavra de ânimo, de consolo para com a concorrente que acabara de derrotar. Levemos, no entanto, em conta o estado de nervos de que foi possuída pela proximidade da”Glória”.
No meio daquela “agitação popular” ainda pude ver por brevíssimos segundos a figura isolada - no meio de uma multidão electrizada,o rosto choroso da
Raquel Tavares. Aqui lhe manifesto a minha solidariedade, tão sincera quanto inútil.
Ninguém mais merece que lhe seja citado o nome, porque todos os “responsáveis” foram
RESPONSÁVEIS por esta feia mancha num festival que prometia – e até certo ponto
cumpriu - mas em que revelaram uma lamentável falta de profissionalismo. Então não se previra – e prevenira - desde o princípio da noite, a possibilidade de que viesse a acontecer o que aconteceu? “Uma Vencedora” e uma vencida, ambas muito jovens. E se, à primeira estivesse garantida toda a festa , beijos, abraços, felicitações que a envolveram, da segunda ninguém cuidou, ninguém mais se lembrou dela quando mais precisava de um abraço amigo, uma palavra de carinho..” Imagino o quanto se deve ter sentido ferida, mais do que por não ter ganho; por terem-na deixado perdida entre uma “multidão.” que já não a conhecia mais.
Mas não quero fechar esta crónica neste triste ambiente .
Sinto-me feliz por ter podido guardar a recordação da figura
grácil, do sorriso radioso, dos olhos luminosos, enfim, muito simplesmente “o estar ali” da “In’Sónia Araújo..

A tempo: por dificuldades técnicas, não pude “postar“ este desabafo na madrugada em que o escrevi.





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O Cricatoristan e o Pato Bravo




posted by joão silva 5:58 PM 0 comments
Sábado, Novembro 05, 2005
o caricaturista e o pato bravo
Anos 40. Feira Popular de Lisboa no Parque José Maria Eugénio. Hoje Parque da Gulbenkian. Talvez não haja –não pode haver ninguém desse tempo – nem eu, a rondar os noventa, me lembro. Sei por ouvir contar, mas é fácil confirmar no Museu da Cidade. No sítio daquele Parque muralhado existia uma quinta, de cujo proprietário herdou o nome . Uma parte dela ficava fora das portas de Lisboa, e a outra do lado de dentro. Era a propriedade atravessada por um riacho que corria de fora para dentro. Nesse tempo, e disto ainda eu me lembro, certos produtos pagavam direitos para entrar na cidade, entre eles carne, água-ardente, etc. Fácil seria pô0r na água uns barris que, durante a noite, adormeciam no exterior e acordavam no interior da quinta. Daí o nascer da Muralha e do palacete. Feito o desvio, entremos no assunto. Na década referida frequentava assiduamente a Feira, e uma noite assisti a um caso que muito me penalizou. Costumava andar de Restaurante em Restaurante, de Bar em Bar, um homem com aspecto de muito pobre, sobraçando alguns cadernos. Acercava-se dos clientes e perguntava com uma voz difícil de asmático ou cardíaco: "desejais a vossa caricatura?" Poucas vezes vi alguém aceder ao doloroso pedido. Mas uma noite, numa das esplanadas de restaurante, uma longa e ruidosa mesa era encabeçada por um ainda mais ruidoso homem forte e de ar próspero, tipo "pato bravo" que não escondia, antes fazia questão de que se notasse a sua qualidade de anfitrião, pagador. Aproximou-se o caricaturista com a pergunta sacramental. E o "pato.bravo" com ar importante e magnânimo: "faça-me lá a caricatura". E continuou a comer, a beber e a falar com a boca cheia, também, de calinadas. Acabado o trabalho, o artista entregou a obra ao cliente. Este olha atentamente o papel solta uma gargalha estrondosa e exclama: "É pá! isto vai já pr’ró Porto. Há lá um gajo meu amigo qu’é tal e qual esta cara." Não sei o que teria sentido o pobre caricaturista. Provavelmente, já estaria calejado com brutalidades semelhantes, o seu sentido de dignidade estaria adormecido por elas. E a necessidade de sobreviver, sobrepunha-se a tudo. Ainda hoje me sinto constrangido com esta recordação.
posted by joão silva 11:36 PM 1 comments